domingo, 20 de setembro de 2009

O DINHEIRO SEMPRE VALE MAIS DO QUE NOSSAS VIDAS

As notícias deste fim de semana são bastante ruins para quem se interessa pela preservação do patrimônio nacional.

De Campinas, recebi as fotos da chamada vila McHardy, de casas ferroviárias da antiga Mogiana que ficam no velho e abandonado pátio da estação de Guanabara, a principal estação da Mogiana em Campinas enquanto esteve ativa, isto é, até 1977. O Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa (IPEP) comprou a área onde estão as casas. A demolição começou há um mês e meio, com 50 casas de ex-moradores que não tinham vínculo com a ferrovia. Em 45 casas há famílias ligadas ao mundo ferroviário, que exigem uma indenização gorda para saírem de lá.

São casas simples (ver uma delas na fotografia acima, por Marco Henrique Zambello), mas tipicamente ferroviárias, de alvenaria e de madeira, num bairro bastante sossegado, pelo menos naquele ponto. O tal IPEP, uma entidade tecnicamente beneficente, quer construir uma universidade exatamente ali, na área, que tem 103mil metros quadrados. Meu Deus, não há outras áreas em Campinas? E para que uma entidade beneficente quer uma universidade? Perde-se mais uma parte do patrimônio cultural nacional com essa atitude.

No Estadão de hoje, a história da cidade catarinense de Anitápolis, da qual nunca havia ouvido falar. Há mais de 30 anos descobriram rocha fosfática por lá em grande quantidade. Agora finalmente compraram uma área enorme e querem, claro, extrair o fosfato para a produção de fertilizantes. Só que isso vai exigir o uso dos rios na região, ainda “virgens”, alguns deles passando exatamente por uma área chamada de “Acolhida na Colônia”, onde turistas experimentam a vida do campo sem televisão, telefone ou internet.

Se a água for usada, vai ter de ser tratada e devolvida ao rio com a pureza natural – atitude que a indústria compradora da área diz que vai fazer, mas que ninguém acredita. Num país onde as leis não são cumpridas por políticos e grande empresas, quem pode culpar os prejudicados de não acreditarem em promessas? Além do mais, como a cidade fica longe da ferrovia (o ponto mais próximo é Lajes, a mais de cem quilômetros), calcula-se que haverá um tráfego intenso de caminhões da lavra até Lajes, na média de um a cada dez minutos. As estradas não aguentarão.

E na área ferroviária, uma notícia que não é ruim, mas é rançosa de tão velha. Vira e mexe vem à baila o assunto “trem turístico com locomotiva a vapor” em São Carlos, para levar um trem até a Fazenda do Pinhal, belíssima fazenda do século 19 tombada pelo IPHAN. Só que não há meio de isto sair. Agora falam de novo no trem. A locomotiva tem bitola métrica. A linha da antiga Paulista que passa em Rio Claro e é de concessão da ALL tem bitola larga. Isto exigirá a colocação de uma bitola mista na linha ou de rebitolagem da locomotiva, que já existe há muitos anos exposta na Praça Brasil, tendo pertencido à E. F. do Dourado e depois à Companhia Paulista. Desativada desde os anos 1960, exposta às intempéries, vai requerer uma cara reforma para poder voltar a trafegar.

Neste caso de São Carlos, a má notícia não é o trem (que é anunciado para daqui a dois anos), mas as dificuldades técnicas e a eterna promessa que jamais se cumpre. Cumprirão desta vez?

3 comentários:

  1. Olá Ralph, sou de São Carlos e, de fato, só fiquei sabendo deste trem aqui em minha cidade há quase um mês atrás. Eu estive conversando com um membro da ABPF em um encontro de ferromodelismo e, segundo ele, o trem está de fato para sair.
    A locomotiva está aguardando liberação do Instituto Pró-Memória para ser retirada da praça e ser levada para a revitalização, mas ainda assim eu temo que as coisas não sejam bem assim. Sinceramente, a politicagem só me decepciona.
    Mas creio que uma boa notícia, ou um notícia que pelo menos vale a pena ser comentada, é que a estação que havia sido destruída pelo vagão descarrilado da ALL foi consertada. Fiquei bastante feliz quando vi. Assim que eu puder postarei algumas fotos do local.
    Quanto ao trem só a resta a nós, meros mortais, esperar o que pode sair da politicagem =/
    Um abraço!

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  2. a respeito da vila MC HARDY ,MORO LÁ HÁ TRINTA ANOS , QUANDO A FERROVIA ''teria que ter obrigatóriamente as equipes de S.O.S. DA PEPASA /MOGIANA,E SÓ RESIDIAM LÁ OS FUNCIONARIOS QUE ESTARIAM 24 HORAS A ESPERA DE ATENDER OS ACIDENTES DE TREM,ERA O CASO DOS TRABALHADORES QUE ALÍ MORAVAM ,A MAIORIA JÁ FALECEU,TEMOS VIUVAS,IDOSOS COM SEQUELAS DO PERIGO/BARULHO/ETC..QUE ERAM CAUSADOS NA MANUTENÇÃO DAS MAQUINAS,HOJE SÓ OUVIMOS DIZER QUE O IPEP COMPROU A AREA,!??E AS VIUVAS?QUE AINDAM ESTÃO '''VIVAS''?E OS APOSENTADOS QUE TBM ??ESTÃO LÁ??FILHOS DE FERROVIARIOS QUE NASCERAM LÁ??E AINDA RESIDEM LÁ??E OS ANIMAIS QUE FORAM DESOVADOS LÁ???ESTÃO MORANDO ATÉ HOJE ??AGORA NÃO SÃO AS MAQUINAS QUE PEDEM SOCORRO,SÃO AS VIUVAS,IDOSOS,APOSENTADOS,ORFÃOS,ANIMAIS SOCORRIDOS,ETC,,,QUE PEDIMOS ''SOCORRO''QUEM PODERÁ NOS DEFENDER????

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  3. E para piorar o problema, do tal Ipep, a rua que passa ali é estreita, só cabem dois carros, um estacionado e outro rodando. Com a construção de um prédio no local, o trânsito vai piorar muito. Uma solução seria alargar a rua antes da contrução do prédio, mas quem vai construir o prédio vai querer aproveitar o terreno ao máximo, ao invés de evitar problemas urbanísticos e de trânsito.

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