sexta-feira, 11 de setembro de 2009

DESINFORMAÇÃO

Lembro-me que em 1996, quando comecei a pesquisar ferrovias, olhava para a estação de Porto Ferreira e os trilhos ainda meio cobertos de mato que vinham desde o viaduto da via Anhanguera até a estação, e ficava em dúvida se os trens ainda passavam por ali. Afinal, havia trilhos e uma estação, certo?

Errado. Para a primeira pessoa que perguntei, a resposta veio seca: não. Perguntei há quanto tempo, e veio a resposta: há alguns anos. Era verdade. Os últimos trens que passaram por ali foram cargueiros, no final dos anos 1980. Aí, fui aprendendo: o que eu havia ouvido nos últimos anos era quase verdadeiro: trens de passageiros não rodam mais no Brasil.

Era quase verdadeiro, porque no início dos anos 1990, sobreviviam – isso eu descobri depois – trens de passageiros cambaleantes em quase todos os Estados brasileiros. Esses poucos trens acabaram quase todos até meados de 1996. No meio desse ano, a RFFSA não tinha mais trem nenhum rodando. Já a Vale do Rio Doce tinha, como ainda tem, o Vitória-Minas e o da Estrada de Ferro Carajás. A Fepasa ainda tinha, em 1996, os trens das antigas linhas-tronco da Paulista, Araraquarense, Sorocabana, Mogiana e de lambuja, tinha ainda o Santos-Juquiá e o Embu-Guaçu-Santos.

Os três últimos acabaram em 1997. O resto foi acabando aos poucos até março de 2001, já puxados por uma mambembe e desinteressada Ferroban e literalmente vazios. Sem discutir as razões pelas quais isso aconteceu, pois já falei sobre isto em outros artigos, o interessante é que até hoje, oito anos depois do apocalipse, ainda recebo e-mails de pessoas (bem) desinformadas perguntando se existem trens de passageiros ligando uma determinada cidade a outra, que ele gostaria de refazer um passeio que fez na infância, etc.

Eu já coloquei na primeira página de meu site (o das estações ferroviárias, mas que fala muito mais do que somente estações) uma nota dizendo quais são os trens que restam no Brasil (os da Vale, o do Amapá, os metropolitanos e os turísticos), mas parece que ninguém lê ou acredita. Fico realmente surpreso com essa falta de informação. O que é uma pena, pois isso mostra que ainda existem pessoas que se lembram dos trens, querem mostrar aos filhos como era e... é impossível.

Resta a eles pegar um dos trens turísticos, sempre feitos com carros e locomotivas antigas. Qualquer trem de linha decente que se introduza hoje teria de ter carros mais modernos. Mas que diabo! Falo isso e me lembro que os trens da Vale ainda usam carros antigos reformados. Sim, são confortáveis, mas já são praticamente peças de museu.

E fala-se em trem-bala entre o Rio, São Paulo e Campinas. Esse, não tem jeito: se ele sair um dia, vai ter de ser com tudo novo, senão não será um trem-bala. Os únicos trens no Brasil que têm em alguns casos unidades novas são os metropolitanos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Há trens metropolitanos que andam em diversas capitais do País que ainda usam carros e unidades bem antigos, como os Toshiba reformados de Salvador ou os lendários húngaros ultra-recauchutados de Teresina. E os metrôs, claro.

2 comentários:

  1. olá Sr. Ralph,

    A desinformação não é "privilégio" dos desavisados. Numa recente entrevista ao jornalista Milton Parron, da Radio Bandeirantes AM, o presidente da CPTM, ao ser questionado pelo jornalista onde estariam os antigos trens húngarosda FEPASA, este respondeu que nunca soube que eles existissem ou que um dia teriam existido no Brasil. A propósito, eles seriam os mesmos de Teresina hoje?

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  2. Os húngaros de Teresina vieram do Rio Grande do Sul, são da bitola métrica, e lá no sul pararam em 1987, eles faziam a linha PoA-Uruguaiana. Foram 3 para o PI. Parece que somente um anda e os outros servem de peça de reposição.

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