segunda-feira, 28 de setembro de 2009

DESAPROPRIAÇÕES


Ontem saiu no jornal uma reportagem sobre o traçado da linha 5 do metrô unindo o Largo Treze à estação Chácara Klabin. Cada uma das pessoas entrevistadas conta o seu drama, que não quer sair da casa, conta suas lembranças, alegrias e tristezas depois de morar ali durante até cinquenta anos.

Uma senhora diz que se mudou para a avenida Santo Amaro há cinquenta anos quando ela ainda era de terra... acho que ela está enganada quanto à terra, mas de qualquer forma, ela deve ter visto uma série de modificações muito grandes durante todo esse tempo. Duplicação, ônibus, ônibus elétrico, depois tiraram o ônibus elétrico e fizeram corredor com ônibus comum, o silencio da época da mudança e a barulheira insuportável que certamente existe hoje.

Do barulho na avenida ela certamente não se recordará com satisfação. Ele já existe há muito tempo. Há mais de vinte anos, eu costumava fazer meus óculos numa loja na mesma avenida, mais para o começo dela. Se a loja não fechava as portas, não era possível ouvir o que o vendedor falava no balcão. Com portas fechadas, melhorava... um pouco.

As pessoas querem não receber dinheiro exatamente pela desapropriação, mas em alguns casos querem uma outra casa, igualzinha àquela. Isso jamais será possível numa cidade de apartamentos e onde a gente fica surpresa que ainda há pessoas que moram em casas sem muros altos (é o caso dela) e ainda por cima numa avenida cheia de ônibus, barulho e poluição do ar.

A maioria, no entanto, aceita a desapropriação, mas tem dúvidas de quanto e quando o Governo pagará. Em um País onde quem tem um pouco de cultura e de educação não acredita em Governo algum (e tem motivos para isso), não há nada de estranho nas preocupações.

Lembro-me de algumas desapropriações que ocorreram na minha família. Foram todas na mesma época, quando Faria Lima e Figueiredo Ferraz, prefeitos entre 1966 e 1973, desapropriaram a casa que foi de meus bisavós Mennucci, na avenida Rudge, para duplicação da rua (meus bisavós já haviam morrido havia trinta anos, a casa estava nas mãos de inúmeros herdeiros e alugada). Cada um dos herdeiros recebeu uma miséria.

Depois veio a casa de meus tios-avós Angélica e Siqueira, na rua Vergueiro, 2024, junto com todas as casas do lado par da rua entre a rua Stella e a rua Neto de Araújo para fazer o metrô e depois duplicar a rua. Meu tio jamais perdoou a Prefeitura pela desapropriação, achava que ela não tinha esse direito e ele gostava da casa. Morreu amargurado oito anos depois, em 1977. Nas 3 fotos acima: a mais em cima é de 1969, a casa de minha tia é a casa da esquerda; a da direita, geminada, era a da dona Ciriaca, a vizinha, que, aliás, aparece na foto. A segunda foto mostra o lado oposto da casa, a saída da sala de jantar para o quintal traseiro. A terceira mostra o mesmo local, hoje (repare no prédio atrás). Uma ou duas lojas ocupam o que deve ter sido o fundo do quintal da casa. A pista que não se vê passa por cima da casa e de parte do quintal. A que se vê sempre existiu e era de paralelepípedos, como pode ser visto na foto de cima.

Finalmente, a casa da minha avó, na avenida Doutor Arnaldo, 1388, para que se duplicasse a rua, mas, antes, se cavasse ali um enorme buraco para que abaixo cruzasse a avenida Paulo VI. A Doutor Arnaldo ali hoje tem um viaduto que originalmente não existia. Isto foi por volta de 1969.

Minha avó morou ali somente por três anos; havia comprado a casa em 1966 para substituir a da Capitão Cavalcanti, na Vila Mariana, onde havia morado desde 1929. Com a demolição, voltou para a Vila Mariana, na rua Azevedo Macedo, 112, onde também morou por 2 ou 3 anos e depois se mudou para outra, a um quarteirão dali.

Enfim: não adianta chorar. Se for desapropriado, entregue as chaves. Não tem jeito. As lembranças são e sempre serão somente lembranças. E não se esqueça de tirar fotografias. Elas sempre farão falta.

2 comentários:

  1. Olá Ralph.. tentei te mandar um email pelo uol (que peguie no site das ferrovias), mas está voltando, teria outro email de contato?
    Gostaria de publicar um material seu em nosso Portal.
    Aguardo contato.
    contato@encantosdebalsanova.com.br

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  2. O email é hr.cons@uol.com.br ou ralph.giesbrecht@gmail.com

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