terça-feira, 8 de setembro de 2009

NADANDO EM SÃO PAULO

Hoje é mais um dia na história de São Paulo em que a cidade sofre de um mal crônico: inundações e alagamentos. Na foto acima, as crianças se divertem numa inundação em dezembro de 1930 no Bom Retiro (Jornal O Tempo, 30/12/1930). Aqui nos sites da Internet falam em mais de 50 pontos de alagamento na cidade inteira. Está chovendo quase sem parar desde as primeiras horas da manhã. Como moro em Santana de Parnaíba, nem me arrisquei a pegar o carro e ir para o escritório em Pinheiros.

Amanhã os jornais vão pela enésima vez procurar culpados. Mas na verdade todos nós sabemos quem eles são. Posso repetir: são eles (não necessariamente nessa ordem) o prefeito atual, os antigos prefeitos (basicamente, todos), o próprio povo, as construtoras, os rios (bom, eles sempre existiram)...

Culpar os rios e córregos é interessante. Eles seriam culpados apenas se houvessem se formado após a implantação da cidade, que, claro, foi gradativa. Uma chuva como a de hoje, 150 anos atrás, também causava diversos alagamentos. Só que não havia tráfego de automóveis. Os carros da época eram carros de boi ou tróleis. Claro, talvez eles não passassem também pelas poças, mas, enfim, numa época em que todos tinham o tempo como seu aliado e não hoje, como seu inimigo, quem ligava?

O problema é que a administração paulistana começou a canalizar rios (abertos ou fechados) e permitir a ocupação, legal ou ilegal, das margens dos rios e córregos, inundáveis ou não. E hoje eles inundam mais do que antes, porque as construtoras fazem prédios e mais prédios (e antes faziam casas e mais casas) em locais que já inundavam antes e em locais que não inundavam. Nestes últimos, onde havia terra que absorvia a água para os lençóis freáticos, passou a haver cimento ou concreto impermeável.

As águas da chuva passaram cada vez mais a deslizar sobre o asfalto das ruas que antes eram de terra, do pátio das casas e dos prédios que antes eram de terra, e finalmente entrar nas bocas de lobo que deságuam em galerias de águas pluviais e depois nos rios e córregos. E as bocas de lobo passaram a recolher não somente água, mas todo o tipo de sujeira que as entope, tanto fora como internamente.

O povo, que sempre achou que rios e córregos são lugares de jogar lixo e continuou a jogar de tudo, inclusive pneus e sofás. Lembro-me das dragagens do rio Tietê que traziam uma quantidade gigantesca de pneus, que se empilhavam ao lado das Marginais. Dos córregos mal-cheirosos cheios de pedaços de madeira e de sofás velhos.

Há 150 anos, jogar algo no córrego também era infelizmente comum. Só que a cidade era pequena e o número de cursos d’água dentro de seus limites era pequeno. Hoje há inúmeros cursos – a céu aberto, canalizados ou não, e debaixo do leito das ruas e avenidas.

Se os administradores antigos tivessem coibido a construção de bairros inteiros em locais alagáveis ou potencialmente alagáveis, se tivessem se preocupado em tentar estabelecer um índice de impermeabilização do solo... se...

Enfim, nada fizeram neste sentido e continuam não fazendo. Quando se esgota a cota de construção de edifícios em algum bairro, simplesmente vota-se nova cota. Baseado em quê, não se sabe.

E vamos ter inundações catastróficas por muitos e muitos anos ainda. É só esperar para ver.

5 comentários:

  1. Ralph, tentei enviar um e-mail para você no endereço que aparece no "www.estacoesferroviarias.com.br" mas parece que não funcionou.
    Tem algum outro endereço?

    Meu nome é Eduardo Silva dos Reis.
    Sou natural de caratinga - MG e encontrei seu site durante uma busca por informações sobre a estrada de ferro que um dia existiu aqui.

    Você parece ser o melhor informado sobre trens.
    Gostaria de entrar em contato. É sobre uma idéia de documentario que está nascendo por aqui e sua ajuda pode ser fundamental.
    Se possível, entre em contato: edo.reis@hotmail.com

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  2. Edo, sua mensagem já havia chegado por e-mail e j´pa foi respondida há poucos minutos. Abraços - Ralph

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  3. Gostaria de parabenizá-lo pelo Blog e nossa empresa a Companhia Fazenda Belém, que foi criada pela SPR, à época Estrada de Ferro de Santos a Jundiaí, em 1922 com a integralização de três fazendas, Cachoeira, Belém e parte anexa da Borda do Mato, aonde literalmente nasceram as cidades de Franco da Rocha e Francisco Morato.
    Colocamos-nos a vosso inteiro dispor com nossa farta documentação histórica e nosso acervo salvo do incêndio da Estação da Luz pois lá mesmo dividíamos o espaço com a SPR como nosso endereço primitivo.

    As histórias dessas cidades que estão envolvidas em nosso trecho de propriedade e domínio são pelo menos curiosas, além de peculiares e o Professor sabe bem disso.

    Forte abraço e Parabéns novamente, ainda mais com esse relato publicado da Dra. Evangelina que nos ajuda e é bastante esclarecedor.

    Artur Palici
    Diretor Presidente
    Companhia Fazenda Belém
    Funda em 17 de Fevereiro de 1922
    Pela Construtora da Estrada de Ferro de Santos a Jundiaí a São Paulo Railway Company, à época com Matriz em Londres

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Escolhi um "bom" dia para sair da pacata Atibaia e fazer pesquisas na biblioteca da USP. Estava tudo bem, até sair da USP e chegar a marginal Pinheiros.... O resto da história pode se ver nos noticiários.

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