Já faz pelo menos quatro anos (pode ser mais) que se tenta recolocar a velha linha de Petrópolis, RJ, “de volta aos trilhos” na serra do Mar. Esta linha foi extinta em novembro de 1964 e logo em seguida arrancada. A Leopoldina, sua dona, já havia feito um acordo com a RFFSA/Central do Brasil para utilizar a antiga Linha Auxiliar, também de bitola métrica, para subir a serra e por ela chegar a Três Rios e Porto Novo do Cunha, de onde seguia com suas composições para Minas Gerais: Manhuaçu, Caratinga, Recreio e outras localidades.
Petrópolis, que ficava no meio do caminho, ainda poderia ser alcançada (se na época se tivesse querido isto) via Três Rios. A volta seria enorme, mas nem se foi aventado se valeria a pena ou não, fosse para cargueiros, fosse para trens de passageiros. Petrópolis e as vilas estações da subida da serra para o norte ficaram sem o trem. Até as localidades que eram servidas pelos trens de subúrbio da cidade ficaram sem eles, elas que estavam no planalto.
A linha era deficitária na época? Provavelmente sim. Porém, lembremo-nos que desde sua implantação em 1883 pela extinta E. F. Grão Pará (depois comprada pela Leopoldina), não havia sido feito praticamente nenhum investimento e as composições já estavam tecnicamente defasadas.
É verdadeiro, porém, que dificilmente os trens poderiam trafegar pela serra num sistema muito diferente do original, dado o tipo de desnível. De Vila Inhomerim (antes Raiz da Serra e hoje estação terminal dos trens metropolitanos que vêm do Rio via Duque de Caxias) à estação Alto da Serra, já em Petrópolis, as locomotivas eram do tipo cremalheira, lentas e que necessitavam ter os carros e/ou vagões engatados e desengatados para locomotivas comuns trafegarem tanto no trecho da baixada quanto do planalto.
A reconstrução do trecho – que jamais deveria ter sido removido – daria margem a uma série de providências preliminares. Seu idealizador sabia disso pois havia trabalhado no Governo, mas, como todos nós, pobres mortais, não pensava que fosse tão difícil. A via-crucis foi (e ainda é):
Antes de pegar dinheiro no BNDES, tem que...
1. Assinar um protocolo de cooperação técnica entre Petrópolis, Magé e Governo do Estado do Rio, que vai fazer um ano de troca de minutas pra lá e prá cá, com pareceres de assessores, etc... (que, pensemos bem, analisando o que pode ser isto: que “grandes problemas” pode isto trazer para ter de demorar tanto assim?)
2. Remover as invasões no trecho, remover/indenizar umas 250 famílias etc. Fazer projeto, achar local, quem banca isso? (no Brasil é assim: o cara invade e depois para sair quer indenização)
3. Elaborar edital para realização de novos estudos de demanda, e de engenharia, meio ambiente (governo do Estado), definindo a modelagem financeira do projeto com a parceria do Governo do Estado para fazer as obras; o operador privado vai comprar os trens.
4. Fazer Audiências Públicas, reuniões e mais reuniões com a ANTT, IPHAN, IBAMA, INEA, Supervia, Agetransportes.
5. Licitar o trecho. O vencedor vai elaborar o projeto executivo de engenharia
6. Obter as licenças ambientais
7. Apresentar projeto ao BNDES, se o vencedor julgar conveniente, tiver condições financeiras, bom cadastro, garantias, etc.
e por aí vai... O fato de haver Lei assinada (isto, acreditem, já existe) somente dá a legitimidade da reativação. Só se consegue avançar quando cumprir o primeiro passo da lista acima.
Os suíços têm tecnologia de sobra com trens de cremalheira. Então onde está o problema que este trem não anda? Nota: a ideia é usar esse trem não somente para fins turísticos como também para fins de transporte (a estrada Rio-Petrópolis é uma das rodovias mais congestionadas do Brasil).
Enfim: o trem não anda mesmo porque o governo não quer, não quer ter o ônus de expulsar invasores (vejam bem: invasores), não quer gastar dinheiro, não quer “ofender” as empresas de transporte que exploram o trecho rodoviário, não quer perder tempo com licenças ambientais, não...
E, convenhamos: se houvesse todo o interesse do mundo por parte dele, ainda seria tudo muito lento, pois as leis e costumes criados neste país chamado Brasil simplesmente estão inviabilizando viver nele.
domingo, 8 de maio de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Linda a matéria, parabéns!
ResponderExcluirBrasil sil sil ...
ResponderExcluirOs governantes só envergonham a nação ... eita "burrocracia" maldita !
Sem comentários.
Outros países tem desastres como tornados, terremotos, tsunamis...coisas devastadoras, porém, temporárias. Passado o momento de infortúnio, é meter a mão na massa e recuperar os estragos tanto quanto possível, se não deixar os lugares melhores do que eram. Mas aqui no Brasil, temos uma desgraça pior: POLÍTICOS!!! E eles são um uma desgraça PERMANENTE!!! Causam mais estragos que qualquer calamidade natural, e pior, não deixam que seus estragos sejam consertados...isto é BRASIL, infelizmente. Um país dotado de lindas belezas e potenciais naturais e recursos de fazer inveja a muitas nações, mas como tudo tem um porém, temos um praga a nos assolar que, ao que tudo indica, será ETERNA...
ResponderExcluirNo meu entendimento, o re-aproveitamento do leito da antiga ferrovia Grão Pará, para se chegar a Petrópolis, por ferrovia, tem muito de imaginação. Na minha visão temos variados grandes obstáculos: uma distância bem maior para se chegar a Petrópolis, saindo da Central e/ou da antiga Leopoldina (a distância do centro até o Terminal Rodoviário do Bingen é de apenas 58km); o visual, nada atraente, das regiões a serem atravessadas pelo trem; e, a questão da segurança dos passageiros, em decorrência, também, de os trilhos atravessarem regiões com altíssimos níveis de ações anti-sociais, ocupadas por quadrilhas rivais. Qual seria o nível de segurança de um trem com turistas, parando em pequenas estações distantes, em plena Baixada Fluminense, e, depois, subindo a Serra, a baixa velocidade?
ResponderExcluirAugusto Torres
Augusto: em minha opinião, o problema da segurança é contornável. Não sei o projeto exato, mas provavelmente o número de estações a parar num trem Rio-Petropolis seria mínimo. Talvez Duque de Caxias. Caso contrário, a demora seria demais.
ResponderExcluirAté onde sei seria um trem expresso, partindo do Centro do RJ e parando em pouquíssimas estações, ainda a serem definidas.
ResponderExcluirDesci a Serra da Estrela a pé em 17/02/2011 e 21/04/2011 pelo leito ferroviário e as desapropriações são mínimas de fato. Um lugar muito bonito, por sinal.
O único entrave, ao meu ver, seria compartilhar o leito com via urbana no trecho dos arredores do BNH (antiga estação Meio da Serra) até o onde era a estação Petrópolis (atual rodoviária).
Possuo fotos do encontro, se alguém quiser, disponibilizo.
Abraços
SOU UM MORADOR DA COMUNIDADE E QUERIA SABER O QUE VAI SER FEITO COM OS MORADORES DA COMUNIDADE E EU ESPERO UMA RESPOSTA
ResponderExcluir