Não se conhecem fotos da primitiva estação de Leme. Mas não deveria ser muito diferente desta, acima - a estação de madeira de Engenheiro Serra, tirada em 2000 e já demolida.
Num belo dia, por volta do ano de 1874, Manoel Leme, dono de algumas terras próximas à vila de Nossa Senhora dos Aflitos de Pirassununga, foi procurado por homens de uma certa Companhia Paulista de Estradas de Ferro que estavam interessados em passar com uma linha férrea e em construir uma parada para embarque e desembarque de mercadorias e passageiros no seu terreno.
Não se sabe exatamente como a negociação se desenvolveu, mas o certo é que, no dia 30 de setembro de 1877, a estação foi inaugurada na linha. Um barracão de madeira, enfim, mas cumpria a sua função. Não deve ter havido grandes festas, como aconteceram na abertura da estação de Pirassununga, no mesmo dia; afinal, enquanto esta ficava nos limites da então área urbana da pequena vila, a de Manuel Leme ficava no meio de lugar algum. Provavelmente, um ou outro barraco usado para abrigar trabalhadores existia por ali e sobreviveu por algum tempo. Em volta deles. formou-se em pouco tempo a cidade de Leme.
O tempo passou e as ferrovias se desenvolveram bastante pelo estado e pelo país; com o adensamento das grandes cidades, começaram a surgir os trens de subúrbio, percorrendo curtas distâncias entre as estações centrais e o início da área rural, esta, cada vez mais distantes. Veio depois a decadência, que ocorreu muito mais rápida nos trens suburbanos, criando um estigma de maus serviços que ainda se mantém até os dias de hoje, apesar da enorme melhora destes, principalmente na cidade de São Paulo. Quem ajudou a recuperar o bom nome desses trens foram os metrôs, que, apesar de serem também trens de subúrbios, surgiram com outros nomes em linhas novas, algumas vezes subterrâneas, para o transporte urbano de passageiros.
Os trens de subúrbio, numa tentativa de se livrar do estigma dos maus serviços, mudaram o nome para trens metropolitanos e, efetivamente, melhoraram muito, chegando em alguns casos a ter serviços muito próximos aos do metrô, como em São Paulo. Porém, muita gente ainda não "engoliu" essas mudanças. Um exmplo é o pessoal do bairro de Higienópolis, na capital paulista. Os jornais de ontem estamparam nas primeiras páginas o fato de a Cia. do Metrô ter anunciado que a estação na esquina da avenida Angélica e da rua Sergipe não seria mais construída. Logo isso foi ligado à pressão dos moradores do bairro de alta classe média, pressão esta exercida já havia alguns meses, desde que foi anunciada pela empresa o trajeto da linha 6 com as respectivas estações.
Os argumentos são a possível deterioração do entorno da estação, com a chegada de camelôs e barracas e o embarque e desembarque do que chamaram de "gente diferenciada". Luta de classes, mesmo. E o medo de que, com a inexistente fiscalização da prefeitura com relação à sujeira em geral, tudo se torne um favelão em volta.
Um comentário de minha parte: tomando-se como exemplo a linha da CPTM que passa na estação de Barueri, SP, há de se notar que não existe um camelô ou barraca sequer no entorno da mesma, nem ali nem no município inteiro. Quem não acredita, basta ir lá para ver. Já em Carapicuíba, a situação é inversa: em volta da estação e nem no resto do município, tropeça-se em camelôs e em lixo e sujeira jogados em qualquer canto. Tudo isto mostra que fiscalização pode funcionar... ou não. Por que não em São Paulo, a cidade mais rica da América Latina?
Um amigo meu mandou-me um e-mail com uma opinião bastante realista sobre o "caso Higienópolis", que transcrevo abaixo. Minha opinião é praticamente igual à dele. Vale ressaltar, porém, que eu sou contra a atitude dos moradores do bairro de "vetarem" a estação. Não posso prever o futuro, mas, se a linha for construída, daqui a cem anos ela provavelmente ainda vai estar ali. Já os automóveis...
Bom, o texto que recebi é o seguinte:
Não vejo problema algum os moradores do bairro reivindicarem a "não construção" da estação. Se fosse apenas um a protestar, talvez aí sim seria algo a se condenar. Mas é uma comunidade inteira.
Vale lembrar que os "milhões" de usuários da provável estação serão pessoas que estarão ali de passagem. Já os moradores moram lá. Eles que terão de conviver com eventuais distúrbios. Assim como é nos arredores do Pacaembu, embora o estádio esteja ali há mais tempo e os moradores que foram para lá, o foram sabendo do problema (em 2005 fui em um show no Pacaembu, que começou às 7 da noite, para acabar às 9, devido ao barulho - reivindicação dos moradores do bairro).
Se é errado ou não, cabe o debate, mas é direito deles de não querer a estação, é do jogo democrático. Se conseguiram (independente se a decisão foi do fato do local "abrigar a elite" como estão dizendo) isso não importa. Agora cabe àqueles que querem a estação contra-argumentar.
Por que no quesito segurança, e camelôs ilegais, os moradores têm até uma certa razão, vejamos:
O estado é omisso, falido e corrupto. Não vai manter a segurança do local, e muito menos impedir o comércio ilegal nas calçadas. Se os camelôs são os "excluídos da sociedade", na prática, no que diz respeito a manter a ordem onde moram, os moradores do local não tem nada com isso, é responsabilidade do estado. Afinal, ninguém quer camelô na porta de casa (há a "patrulha do bem" que recorre à hipocrisia de dizer que aceitaria, mas na prática não, apenas por que é politicamente correto). Por que senão, estará institucionalizada a baderna.
Um grupo (independente do nível social) lutar pelo melhor qualidade do bairro onde moram, possuem suas propriedades (casas) e pagam seus impostos, estão exercendo uma coisa que o Brasil jogou no lixo moral há tempos, a tal da cidadania. Se um mesmo grupo de nível social menor não conseguir, o problema estará então escancarado que é do estado.
Muitos perguntarão que os 3.500 não representam os "milhões de possíveis usuários". Pois bem, de fato, não. Mas aí, no caso, cabe um protesto em frente ao metrô, ou no Palácio dos Bandeirantes, e não no bairro para atingir os moradores que, de fato, estavam exercendo um direito.
Se "o direito do rico vale, o do pobre não" entrar no debate, é outra história. Na prática, todos o tem. É fato que o rico, por já o possuir, às vezes o perde para a patrulha ideológica vigarista politicamente correta que está na moda hoje em dia.
Lembrem-se da frase: "Posso não concordar com o que diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo".
Não moro em Higienópolis, não conheço ninguém lá, e de fato, por mim tanto faz onde vão fazer a estação do metrô.
É isso. Que se manifeste a luta de classes. E a constatação que, hoje em dia, inaugurar estações ferroviárias (as do metrô, as são, por que não?) é um risco e não uma grande coisa.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
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Ao contrario do amigo que lhe enviou o email eu moro em Higienopolis e gostaria muito de ter o metro na esquina da Sergipe. Como êle, acho que é direito de alguns moradores não quererem o metro por lá. Como êle eu concordo que o estado canalha que nos governa prefere se esconder atraz do politicamente correto e não lutar para educar o povo. Portanto nem Kassab nem a Martha e seu PT vão nos livrar da sujeira e da degradação urbana que provavelmente chegará junto com a estação. Dê uma passada na estação Marechal Deodoro e veja a eugenia ambiental por lá.
ResponderExcluirLuiz, lembre-se que a estação Marechal Deodoro já nasceu degradada. O local já era decadente quando fizeram o Minhocão ali. A estação foi construída cerca de dez anos depois disso. O local já nasceu sujo.
ResponderExcluirConcordo com você que a degradação é anterior ao metro na Mar.Deodoro.Mas enquanto não houver uma ação energica dessas nossas autoridades , isto é multas e outras penalidades, para os sugismundos que abundam em SP. não haverá melhoria, independente de ser porta de metro ou não.
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