domingo, 29 de maio de 2011

CONCESSÕES FERROVIÁRIAS À DERIVA - II

Cajuri, MG: linhas penduradas há anos. Foto Guilherme Rios
Mais um capítulo de como as concessionárias e o governo federal tratam as ferrovias no Brasil. Depois de 15 anos de concessões e um início até que promissor, as concessionárias já perceberam que o governo e seus órgãos de fiscalização não fiscalizam coisa alguma e nem estão preocupados com o que acontece na malha ferroviária, que, ao contrário do que muitos brasileiros pensam, não é obsoleta nem inútil (embora seja verdade se pensar que alguns trajetos ferroviários são realmente obsoletos por terem sido construídos com tecnologia antiquada para os dias de hoje).
Mais linha pendurada, desta vez em São Geraldo, também Minas Gerais. Foto Almerindo Lama/Panorâmio
As fotografias postadas na página de hoje têm vários autores e mostram linhas que estão concessionadas, mas que não são utilizadas há praticamente o mesmo tempo em que existem as concessões. Mais precisamente, duas delas (Cajuri e São Geraldo) estão na antiga linha de Caratinga (Rio de Janeiro-Três Rios-Ubá-Caratinga) da Leopoldina. A outra, na subida da serra do Mar percorrida pela antiga linha Auxiliar da Central do Brasil.

Será que não há nada a ser transportado nessas regiões? Será que em muitas delas não seria útil o transporte ferroviário de materiais para aliviar as estradas, sempre perigosas, principalmente da forma em que são mantidas atualmente (repare que muitas das fotos aqui são de Minas Gerais, estado que tem rodovias bastante ruins)? Será que muitas destas linhas não poderiam ser utilizadas para trens regionais de passageiros, seja como transporte metropolitano, de média distância, com trens diesel ou mesmo VLTs e litorinas?
Viaduto Paulo de Frontin, construído em 1898, lindo mas sem uso algum desde 1996. Foto Elson Pinho
A concessão foi, por exemplo, péssima para o Estado de Sergipe: segundo um depoimento que recebi hoje de Marcus Vinicius S. Gonçalves, que acompanha as ferrovias no estado, a FCA fez um teste recente para transportar cimento da cidade de Laranjeiras para o estado da Bahia,foram feitas algumas viagens-teste e depois não se efetivou o transporte regular,então no momento não se transporta nada pela única linha do Estado, que o cruza de sul a norte vinda da Bahia (Alagoinhas) e seguindo para Alagoas passando por Propriá. Só se pode transportar cimento em Sergipe (e petroquímicos, também de Laranjeiras, não?)? E só para a Bahia, para o norte, não?

5 comentários:

  1. Parabéns, muito bem escrito e objetivo. Deveria enviar para os jornais.
    Pastori

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  2. Concordo com o Pastori! Aqui de lavras a varginha a linha está igualmente suspensa no ar por erosão, e a via permanente sumiu!

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  3. Ótimo texto Ralph! Falou toda a verdade em algumas linhas. Minas Gerais com péssimas rodovias não pode de maneira alguma dispensar esse meio de transporte que é o ferroviário.
    Principalmente nós que moramos em BH, para irmos à cidades que antes eram atendidas pela Leopoldina, por exemplo (Rio Casca, Raul Soares, etc) temos que "por em risco nossa vida" e enfrentar a BR-381, vulga "rodovia da morte", em um tempo absurdo: 6-7 horas para um percurso de aproximadamente 200 km...
    Bom seria se realmente reativassem a linha BH-Ponte Nova. Tenho certeza que passageiros não faltariam para ir para a região de Ponte Nova. Mas acredito que tem a questão das concessões rodoviárias, que não "deixam" isso acontecer, o que é outra história...

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  4. Belíssimo serviço prestam as concessionárias ao país.

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  5. Caro Ralph
    A ANTT colocou em consulta publica as mudanças previstas para o regime de concessão. Entre as mudanças a mais importante é a que passa o regime de exploração de "fechado" para o "aberto". O que isto representa? Hoje só as concessionárias tem direito a transito em sua malha, e mais, só elas podem captar cargas em sua área de atuação. Com o regime proposto qualquer empresa de logística que tivesse locomotivas e vagões poderiam captar cargas em qualquer lugar e pagando apenas as concessionárias o direito de uso da malha.
    As mudanças também contemplariam metas por trecho o que obrigaria as concessionárias a usar toda a malha existente.
    É claro que as concessionárias não querem isto e estão brigando com todas as forças para não perderem este filé mignon. Veja que o presidente da MRS Eduardo Parente está a frente da ANTF desde fevereiro só para conduzir estas negociações(RF).
    Marcos Dutra

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