Estação de Jaraguá, antiga Taipas, em 1948, cinquenta anos após o acidente. O local ainda não havia mudado praticamente nada. Foto Carl Heinz Hahmann
Em 19 de abril de 1898, um comboio de passageiros da São Paulo Railway apanhou um boi na linha férrea entre as estações de Taipas (hoje Jaraguá) e de Perus, logo depois da primeira estação. Com a batida, a composição, supostamente a mais de 60 quilômetros por hora, foi parar a dez metros à esquerda da linha, já fora dos limites da plataforma e até em limite pouco abaixo desta.
O primeiro vagão, de animais, tombou e sobre ele atirou-se todo o resto da composição. Apesar de ser linha cercada por arame farpado, o boi conseguiu entrar na via. O animal era propriedade do sr. Luiz Pereira Barreto e havia passado o limite por uma porteira aberta do seu sítio em Pirituba (longe dali) e que foi deixada aberta por um tropeiro que por ela passara.
O trem havia deixado a estação da Luz às 5 e 20 da manhã e o acidente deu-se às 5 horas e 55 minutos de um final de madrugada ainda envolta em neblina. O trem de socorro deixou a estação às 6 horas e cinquenta e cinco, logo depois que foi notificado do acidente, levando superintendente e chefe de tráfego, além de um médico e de um delegado de polícia. Os primeiros feridos chegaram por trem à Capital às 9 horas e vinte e cinco minutos.
Nesse acidente morreram três pessoas e feriram-se doze. Entre os feridos, Anna Schmidt do Prado, filha do fazendeiro Francisco Schmidt, sendo que o marido dela, Francisco Dias do Prado, foi um dos mortos.
Um dos feridos processou a SPR mas perdeu a ação, julgada seis anos depois.
Havia 18 carros e vagões no comboio, listados na ação movida pelo ferido citado:
Locomotiva e tender;
1o - gaiola com um animal.
2o - gaiola com encomendas.
3o - idem.
4o - idem.
5o - carro-salão de 2a classe, vazio.
6o - idem.
7o - carro-salão de 1a classe.
8o - carro pequeno de 1a classe com passageiros.
9o - carro-salão de 2a classe com passageiros.
10o - carro-salão de 1a classe vazio.
11o - carro-salão de 1a classe com passageiros.
12o - carro-salão de 2a classe com passageiros.
13o - carro-salão de 1a classe com passageiros.
14o - carro-salão de 1a classe com passageiros.
15o - carro-salão de 2a classe com passageiros.
16o - carro-salão de 2a classe com passageiros.
17o - carro-correio.
18o - carro-breque.
Até a estação de Taipas foi utilizada uma locomotiva de apoio, que foi retirada nesta estação antes do trem prosseguir.
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sábado, 18 de junho de 2016
domingo, 12 de setembro de 2010
PERCORRENDO VELHOS CAMINHOS

Hoje, domingo, dei uma pequena saída para ver a situação de antigos caminhos rurais na região da divisa municipal entre São Paulo e Santana de Parnaíba. Nos mapas da Sara Brasil de 1930, feitos para a prefeitura da Capital, há inúmeras estradas em regiões afastadas do centro que hoje são em sua grande maioria áreas urbanas, porém muitas habitadas pela população carente.
Fui à região de Perus, na área da via Anhanguera naquele ponto. O mapa de 1930 não mostra a rodovia, que ainda não existia; mostra, no entanto, mais ou menos na latitude onde está hoje o trevo de acesso desta via ao bairro de Perus algumas estradas - poucas - e córregos. O córrego principal, ali, é o Santa Fé, nome hoje de um pequeno bairro naquela região e também de uma parada ferroviária da E. F. Perus-Pirapora na barra desse rio no Juqueri-Guaçu, mais ao norte.
No que seria o lado direito da atual rodovia, a estrada para o Jaraguá; à esquerda, saindo desta, a estrada de Parnaíba. Porém, se olharmos um mapa de hoje, a situação é totalmente estranha, e é preciso um pouco de "ginástica cerebral" para descobrir o que hoje existe por ali. Além da via Anhanguera, sobrou apenas um curto trecho da estrada do Jaraguá nesse ponto, que acompanha a rodovia até desaparecer depois de uns 300 metros. A parte mais ao norte chama-se hoje Estrada de Perus e termina nesse bairro, junto à linha férrea. Mudaram seu nome, o que não é ilógico - não confundir com outro trecho da estrada do Jaraguá que ainda existe com esse nome, mais ao sul.
Sobrou também a estrada de Parnaíba, mas sem continuidade - hoje ela não se liga com a antiga estrada do Jaraguá. Dá para notar que a construção da via Anhanguera nos anos 1940 acabou com boa parte das poucas estradas que existiam no seu caminho. Para confundir mais, a estrada de Parnaíba de 1930 chama-se hoje estrada de Pirapora. Pirapora era, até 1959, um bairro, um distrito do município de Parnaíba (hoje Santana de Parnaíba). Não saberia dizer o motivo da mudança do nome em algum ponto do passado. Talvez porque ela entrasse pelo norte de Parnaíba e seguisse para o atual bairro da Fazendinha, de onde se podia seguir mais rapidamente para Pirapora. O fato é que a estrada hoje tem placas oficiais: Estrada de Pirapora.
Andei de carro por ela. Só dá para se a tomar ao sul do córrego Santa Fé; o mapa nem mostra qualquer ponte nem continuidade do outro lado do rio, sentido Anhanguera. A estrada desce para o sul e depois faz uma curva seguindo para oeste. Enquanto é plana, ainda mantém algum aspecto de estrada velha: algumas chácaras com construções mais antigas existem à beira da rua, asfaltada (exceto o pequeno trecho próximo ao córrego).
Porém, a partir do momento em que ela sobe um morro e o desce em curvas, é tomada por um bairro mais pobre. Em seguida, volta a subir, mas nem tanto: a um determinado ponto (na esquina com uma rua chamada "Recife", com uma placa mal feita) o asfalto desaparece. Seria ali a mudança de município? Não sei, esse trecho mais para a frente o mapa não mostra. Não segui por ele. Deve dar na região da fazenda Itaiê e de lá seguia para a atual Tenente Marques, em Cajamar, que depois continua pela Fazendinha, em Parnaíba.
Ainda se pode ver, apesar da invasão habitacional, muita mata nativa em volta de alguns trechos da estrada.
Nem sempre, porém, é possível andar por uma estrada antiga. Como trechos das duas estradas citadas acima, algumas desapareceram. Em 1927, a São Paulo Light aprovou a colocação de trilhos de bondes na avenida Cidade Jardim, até o seu final, no então novíssimo bairro do mesmo nome. Seu final não era o de hoje, na entrada da ponte sobre o rio Pinheiros. Era no início da avenida das Magnólias, que fica onde hoje acaba o túnel que sai da Juscelino. Todo esse trecho, que era uma reta, desapareceu (veja o mapa acima) em 1943, depois que o bonde foi retirado. A retificação do rio também afetou a área, seguida pela construção da avenida Marginal, nos anos 1960.
sábado, 3 de julho de 2010
A URBANIZAÇÃO TRAUMÁTICA DE SÃO PAULO
Pesquisando hoje em meus arquivos, eis que, para concluir a localização original de alguns córregos e rios na periferia do município de São Paulo, tenho de esquadrinhar velhos nomes de bairros e estradas para conseguir concluir algo palpável.
Como se muda nome neste país de Deus.
Coloco aqui algumas informações curiosas. No possível matagal que era a cidade em 1930, cortado por uma ou outra estrada de terra na zona noroeste do município, saibam todos que esta lêem que: a atual "Estrada Turística do Jaraguá" - que de turística não tem nada, parece brincadeira esse nome - se chamava Estrada do Ribeirão Vermelho. Isso, num trecho dela, no início; porque esta última fazia uma quebrada para leste e chegava à estrada do Mutinga (esta, hoje se chama avenida Mutinga, embora de avenida também não tenha nada). Nesse trecho da "quebrada", os nomes hoje são: rua Ribeirão Vermelho, rua Jurubim, rua Itamogi.
A Estrada do Jaraguá, que hoje continua se chamando assim no seu trecho mais perto da subida do morro do mesmo nome, hoje se chama, em seu trecho mais próximo à via Anhanguera, rua Jornalista Paulo Zingg. Com todo respeito a este senhor, que não conheci e do qual apenas sei que foi jornalista, a sua rua deveria ter continuado com o nome histórico antigo. Outro trecho da velha estrada se chama hoje rua Coronel José Rufino Freire.
O trecho ao norte desta última rua, que é o bairro Jardim Maristela, tinha ali a Chácara Maria. E o córrego que acompanhava a estrada do Ribeirão Vermelho nesse trecho era exatamente... o ribeirão Vermelho, só que com um alagado enorme, que foi contido com uma canalização feita a posteriori.
A via Anhanguera nem existia ainda. No lugar dela, que hoje naquela região faz uma curva para o sul, havia algumas estradinhas que foram em grande parte engolfadas pela própria abertura da rodovia em 1943. No meio delas, o córrego da Olaria. Um pouco mais ao sul, hoje há um canteiro enorme de obras ao longo da Anhanguera para a construção de um enorme viaduto de acesso para a avenida Mutinga.
Enfim, de matagal, exceto pequenos pontos isolados, a região não tem mais nada. É tudo urbano e feio. Ali, a transformação de rural para urbana foi traumática.
Isso não ocorreu apenas ali, claro. Um livro bastante grosso poderia ser escrito com textos como o acima, apenas para a cidade de São Paulo. Imagine para o resto do Brasil.
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