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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O ESCÂNDALO DO VLT DE CUIABÁ

Carros do VLT de Cuiabá em testes na fábrica em Zaragoza, na Espanha (www.olhardireto.com.br)

Como quem acompanha o assunto ou mora na região de Cuiabá e tenta se manter informado sobre a cidade já sabe, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da capital matogrossense teve as obras paralisadas quando estava pela metade e assim permanece já há mais de um ano; por outro lado, já teria consumido todo o valor previsto para a sua execução.

A obra ligava Cuiabá a Várzea Grande, cidade vizinha. Era uma obra estadual e fazia parte do plano de obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014. Antes dela, porém, já se sabia que o VLT não seria entregue até o início do torneio. Nota: a cidade teve um estádio novo construído especialmente para abrigar os três jogos - sim, três jogos - da Copa e não tem nenhum time de futebol de expressão há anos e anos. O estádio está às moscas, sendo utilizado apenas para um ou outro jogo de equipes de fora que ganham para levar os jogos para lá.

Mas, afinal, por que as obras pararam?

A Assembleia Legislativa do estado aprovou a obra em 2011 com um custo previsto de mais de um bilhão de reais. Esta foi contratada pelo governador da época, Silval Barbosa, que hoje está preso há um mês. A Polícia Federal descobriu um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em seu governo.

O atual governador, Pedro Taques, interrompeu o contrato, cujo consórcio vencedor era conhecido já um mês antes da abertura dos envelopes na licitação.

O deputado Romoaldo Junior alega que a obra fora aprovada por uma "euforia de momento" em 2011 e que "pode ter sido um erro" a construção do VLT, visto haver alternativas mais baratas, como os corredores de ônibus" (BRTs), que poderia ter sido construído pela metade do preço.

O que ele não disse, nem talvez saiba, é que a manutenção de um BRT é bem mais cara do que a de um VLT. E mais: VLTs são muito mais confortáveis para passageiros do que os BRTs, que têm trepidação constante, pois o asfalto ou concreto dos pisos rapidamente se desgastam. principalmente em cidades muito quentes como Cuiabá.

Finalmente, tudo isso está sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pela Promotoria Estadual. A Assembleia convocou uma CPI. O presidente desta comissão contratou uma empresa de auditoria para analisar o contrato desta e de outras obras para a Copa. Só que a empresa era uma empresa fantasma.

É por aí. A cidade e o povo que se danem. É incompetência por todos os lados.



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VERGONHA NACIONAL


Os brasileiros, que ontem à noite em Belém do Pará cantaram tão bem o hino nacional (surpreendente saber que tanta gente conhece a letra) no estádio antes do jogo Brasil e Argentina, ainda têm muito a aprender. Seria bom aprenderem antes que o país acabe.

Mas, acabar? Por quê? Não, não se trata do problema do calendário azteca no final do ano que vem. Trata-se de um possível esfacelamento em alguma época futura, que pode estar próxima ou mais longínqua, causada pela falta de vergonha na cara. Ou seja, eventuais áreas com mais vergonha na cara do que outras tentarem e conseguirem se separar das outras justamente por terem mais (ou menos, sei lá!) vergonha de serem brasileiros.

Afinal, o brasileiro vem sendo escorchado durante anos a fio - mais de um século, quase dois, e isto contando-se somente o tempo de independência em relação ao império português - pelos seus governantes e diversos poderes sem protestar contra nada.

Quando foi a última vez que os brasileiros realmente protestaram? Revolução de 1932, em São Paulo? Revolução de 1930? Foi o povo ou setores do exército que promoveram essa agitação? Que não lembrem dos caras-pintadas, que me pareceu mais uma brincadeira de jovens do que um protesto real. Ou das "diretas~já", promovidas pelos políticos da oposição. Não me parecerem grandes protestos.

Já desde o governo daquele nefando maranhense, cujo nome não quero citar para não lhe fazer mais propaganda ainda (pois até no governo militar um escândalo geralmente fazia cair um ministro, um governador) que não adianta a mídia publicar escândalos - o governo nem liga. Itamar ligou? Fernando Henrique? Lula? Dilma?

Ah, mas há um mês o povo se revoltou contra Ricardo Teixeira no Twitter. Grande coisa. Por pior que Teixeira possa ser, ele preside uma associação que todos dizem corrupta e voltada para interesses pessoais que - notem - é uma entidade privada. Vai mudar a vida de alguém a queda de Teixeira? Só mesmo a dele. Ora, que se dane a CBF e quem os sustenta - as federações de futebol estaduais, também entes particulares. Que protestemos contra o que realmente nos interessa!

Enquanto isso, ninguém protesta contra o escândalo das verbas da Prefeitura e do Estado para um estádio paricular em Itaquera, nunguém liga para os escândalos dos ministérios e do Judiciário, fora os da Câmara e das Assembleias estaduais, e das prefeituras - quais escândalos? Quais Câmaras, quais Assembleias, qual Judiciário(!?), quais ministérios? Ora, se você não sabe quais foram, é porque você não se importa com eles, pois eles foram graves e sérios e todos aconteceram nos últimos dois ou três meses.

Fora Ricardo Teixeira, mas não "fora ministro, fora deputado, fora vereador, fora prefeito, fora secretário"? Será que o brasileiro gosta de sofrer mesmo? É duro ler os jornais todas as manhãs. A seção de cartas dos leitores é terrível. Concordo com praticament tudo que os leitores escrevem em suas cartas decepcionadas e indignadas - mas adianta? Nada muda. Os governantes não lêem jornais e, se lêem, dão risada. Aliás, é sabido, alguns nem sabem ler, são analfabetos, ou semi.

As cartas enviadas para a seção de reclamações contra empresas e serviços públicos são inacreditáveis. Existem leis que protegem os consumidores e, na caradura, diversas empresas não ligam a mínima para isso. Muitas nem respondem ou, se o fazem, escrevem cartas-padrão que muitas vezes não respondem a nada que o leitor reclamou. E fica tudo por isso mesmo. Dizem os advogados e juízes: "procurem a Justiça". Para que? Para ficar esperando anos e anos para se decidir sobre coisas que nem de julgamento precisariam, bastaria conferir com o que dizem as leis? Processos se arrastam pelo judiciário por décadas, às vezes por questões mínimas.

A vergonha na cara está em processo de extinção. Os políticos e empresários já a perderam em sua grande maioria; o povo está perdendo-a também, por conivência. E tome pão e circo: Copa do Mundo, Rock in Rio, Olimpíadas. E que se pegue o escudo na camisa do seu time que o torcedor veste e beije-o, mostre para a televisão (nunca viu?). Para que? É como esconder a cabeça no chão como fazem os avestruzes.

Um amigo meu disse que eu estou rabujento e desesperançoso, que sinto um rancor tremendo atualmente. Bom, com 59 anos, quase 60 e tendo uma experiência de vida como a que tenho, devo sentir o que?

Mas que ele não se preocupe, já estou em alto grau de alienação. Meu humor vai melhorar a partir da hora em que eu aceitar tudo. Quem mandou meu pai me educar para ser um cidadão honesto? E quem mandou eu aprender? Devia ter sido um mau aluno e filho ausente.

Sinto saudades de meu pai. E graças a Deus ele não está vendo tudo isto. Hoje, com os 91 anos que teria, ele ficaria desiludidíssimo com a vida.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

OS FRESQUINHOS DE GENEBRA

Vamos fazer a copa de 2014 aqui. Vai ser divertido.
Discussões e mais discussões sobre a lentidão do Brasil - ou do seu governo e entidades particulares - em colocar as coisas em ordem para a Copa do Mundo de 2014 e, de tabela, para as Olimpíadas de 2016. Estádios cujas obras não começam, infraestrutura ruim, inundações que não se resolvem, aeroportos que não funcionam bem há anos, transporte público geralmente insuficiente.

É difícil saber quem tem razão em criticar, pois o que acompanho são notícias de jornal. E todos nós sabemos que jornais e meios de comunicação não conseguem retratar tudo o que existe, de certo ou de errado. Porém, há coisas que vemos e que, consequentemente, temos como dar alguma opinião.

Primeiro lugar: o transporte público funciona nas cidades em que haverá jogos da Copa? Em regra, não. Há cidades em que funciona melhor, como Curitiba. Em São Paulo, onde moro, acho que não funciona tão mal quanto dizem, mas está longe de ser uma Brastemp (se bem que, hoje, a própria Brastemp está longe de ser uma). Imaginem se todos nós atendêssemos à propaganda do governo que diz para deixar o carro em casa e usar mais os ônibus e trens. Simplesmente não haveria lugar para todos e o caos estaria instalado. Pois é, imagine isto em dias de jogos com a cidade lotada de gringos e de visitantes das cidades do estado inteiro. Há como resolver isto? Duvido. Pode-se melhorar alguma coisa, mas não vão conseguir isto a curto prazo - ou seja, três anos. E talvez não se resolva nunca.

Segundo: os estádios são tão ruins assim? Ora, se são, porque todos nós vamos a jogos nos estádios? Gostamos de sofrer? Aguentamos o sol e a chuva, nenhum estádio é coberto - com exceção de algumas partes deles, o resto fica ao relento. Não é, convenhamos, nenhuma tragédia. Os banheiros são ruins e sujos. Poderiam ter manutenção decente, mas isto não é tão difícil e caro assim: basta querer. Os estádios não têm estacionamentos, mas mesmo assim, todos vão aos jogos. Têm evasão de renda, mas isto acontece porque as autoridades não querem resolver o problema (por que será, hein?). O resto é frescura da FIFA.

Terceiro: aeroportos. Estes, sim, têm de ter uma solução. São um caos hoje, imagine quando receberem mais gente, muito mais gente, todos de uma vez. Aí, sim, tem-se de meter a mão na massa e urgente.

Uma sugestão seria fazer todos os jogos em cidades não tão grandes assim. Ou seja: nada de São Paulo ou Rio de Janeiro, mas sim, por exemplo, Araraquara. 200 mil habitantes. (esta foi a primeira cidade que me veio à cabeça, é somente um exemplo). Tem jogo hoje? Ora, que se coloquem os interessados em hoteis na própria cidade ou em cidades em volta, com ônibus (já que trem não tem mesmo, nem vai ter) na porta programados para o número necessário. Como o trânsito na cidade normalmente é pequeno, um aumento não vai causar o mesmo caos que causaria por exemplo no Rio ou em São Paulo, que já são normalmente caóticas.

Ah, o Maracanã é tão tradicional, não podemos deixar de fazer um jogo ali. Ótimo. Façam a final e a cidade viverá um dia de caos somente e ficará contente. São Paulo ficará sem jogo? Ora, façam a abertura e pronto. Mais um dia de caos em outra cidade. Aliás, São Paulo só tem atualmente dirigentes e governantes que tentam passar a perna um nos outros, então, parece que não vai ter estádio nenhum pronto.

Convenhamos: a FIFA é uma frescura só. Dá para fazer uma Copa aqui, sim, exatamente do jeito que as coisas são hoje - estádios inclusive. Quem não gostar que não volte mais. Afinal, quando teremos outra copa no Brasil? Faz diferença? Se eu fosse o governo brasileiro, acho que, um ano antes da Copa, só de sacanagem diria: "parem de encher o saco. A Copa será realizada do jeito que as coisas estão agora, pois não conseguimos nem queremos resolver as coisas do jeito que vocês querem. Portanto, ou vêm assim mesmo, ou mudem de país. Vocês decidem".

E um abraço.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

OS (ATUAIS) DESMANDOS DAS FERROVIAS NO BRASIL

A Ferronorte no Alto Taquari (Foto Rodrigo Cabredo).

A concessionária ALL, que já opera o trecho da antiga Ferronorte entre Santa Fé do Sul, SP, e Alto Taquari, MT, decidiu devolver a concessão das (futuras) linhas que ligam Rondonópolis a Cuiabá, MT; Cuiabá a Porto Velho, RO; Cuiabá ao Porto de Santarém, PA e Rondonópolis a Araguari, MG. O motivo? para operar as linhas, teriam de construí-las. E, depois de quatro anos, resolveram desistir, depois de terem sido constantemente cobradas pelas obras não feitas pelos interessados (o que foi realizado até agora? Apenas 100 km de terraplanagem em parte de um trecho), desde a ANTT até políticos como o vereador Vuolo, do Fórum Pró-Ferrovia (sim, isso existe).

No dia 31 de agosto, diversos políticos da região reuniram-se com o ministro dos Transportes (outro inútil em termos de infra-estrutura) para pedir que o próprio estado faça os estudos para não atrasarem as obras mais ainda. É uma vergonha. A ALL só visa seus próprios interesses e joga às favas o interesse maior do país. E nem é a primeira vez.

Entre os projetos sinalizados pelo Fórum estaria o de possibilitar o transporte de passageiros entre Rondonópolis e Cuiabá, o que faria com que o trecho fosse entregue antes da Copa do Mundo de 2014. Com a mudança do processo, que retira a ALL como a responsável, a Copa torna-se importante para acelerar ainda mais as obras. Quem acredita nisto, realmente, dada a pouquíssima importância com que é tratado o transporte de passageiros por aqui?

Enquanto isto, no Paraná, o governo de Requião prova que o estado não sabe, mesmo, administrar estradas de ferro: depois de romper com a ALL, que tinha a concessão da Ferroeste até alguns anos atrás e por achar que ela estava dando prejuízos à empresa estatal, deu a concessão para o próprio estado - que fez a ferrovia quase falir. O armário foi aberto há cerca ce um mês atrás. Agora está todo mundo correndo atrás de investimentos que possam reerguer a ferrovia e fazer com que os projetos de ligar Cascavel a Foz e ao Mato Grosso tornem-se realidade... sem dinheiro.

"As necessidades de escoamento da safra na região são muitas, segundo o presidente da Ferroeste, mas o relatório ajudará na formatação de uma estratégia agressiva de recuperação empresarial, sem o que a ferrovia continuará com sérias deficiências técnico-operacionais", diz uma matéria de alguns dias atrás, da Agência de Notícias do Estado do Paraná. Em resumo, a ferrovia, com 14 anos de operação, está sucateada e em péssimas condições de operação.

Triste. Os governos não sabem nem operar estradas de ferro (vide os últimos 60 anos), nem sabem fiscalizar o que as concessionárias fazem (vide os desmandos da ALL, quase todos os dias nos jornais). Qual a solução, então? Talvez seja chamar gente séria para operar e gente séria para fiscalizar. Essas pessoas existem? Certamente, mas é preciso que urgentemente descubramos onde elas estão e quais são as condições para que elas trabalhem sem interferências nocivas.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ALIENAÇÃO TOTAL NO FUTEBOL

Santos x Palestra (perdão, Palmeiras) na Vila Belmiro, em 1917

Os últimos acontecimentos no futebol brasileiro - e, em particular, no futebol paulista - levantam um assunto que pode se tornar um problema muito mais sério do que já é hoje. A extrema rivalidade entre as torcidas, principalmente as uniformizadas, parece ter se transferido para as diretorias dos clubes.

Em primeiro lugar, as torcidas: estas parece que adotaram seus times - Corinthians, São Paulo, Palmeiras, até a Portuguesa com seus poucos torcedores, Santos e outros como verdadeiros deuses ao qual rendem verdadeiros cultos religiosos. Basta ver, por exemplo, as cenas do centenário do Corinthians, onde uma festa de torcedores, diretorias e jogadores se transforma em declarações de amor que se assemelham a adorações aos ídolos. É incrível. E não é porque é Corinthians, não: isso acontece com todos os outros, apenas esse time está mais em evidência por causa do ano de seu centenário.

Depois, as diretorias: ao contrário do respeito que existia entre elas até dez, sei lá, vinte anos atrás, hoje em dia portam-se como se fossem verdadeiros "Olimpos" em guerra entre si. Falam um de outro com desprezo e desdém, como se, isoladamente, cada um desses clubes pudessem sobreviver sozinhos. O episódio do Morumbi e do suposto novo estádio do Corinthians no caso Copa-1914 mostram um emaranhado de cordas submersas num mar de lama, onde a política e mentiras correm soltas. E ainda tinha - ou tem - o Palmeiras e a Portuguesa correndo por fora, além do tal Piritubão.

O presidente do Corinthians diz que "o estádio somente vai sair porque o clube é confiável" é uma mentira deslavada, pois qualquer um no Brasil sabe - inclui ele - que nenhum clube de futebol no país é confiável. Nunca foi. Nem os que são geralmente citados pela imprensa como "modelos", como o São Paulo e o Internacional de Porto Alegre, são minimamente confiáveis. Isto quer dizer: não empreste um tostão furado para nenhum deles, pois o risco de não ter seu retorno é praticamente de cem por cento.

Por fim, os jogadores: os mesmos que hoje dizem juras de amor aos seus clubes se vendem por qualquer quantia a mais que se lhe seja oferecida, principalmente se vier da Europa, Ásia ou até Estados Unidos, em euros ou em dólares. Afinal, são profissionais: mas não agem como tal. Beijam as suas camisas na altura do distintivo sem a menor cerimônia de três em três meses - em equipes diferentes. E alguém já reparou na cara e nos gestos que muitos deles fazem ao comemorar gols? Os que fazem a cara de mais raivosos e gestos mais obscenos são os idolatrados pela torcida. Ou seja, colaboram para a violência no esporte, ao desacatarem muitas vezes seus colegas de profissão no clube adversário e também a torcida "inimiga", a mesma em que jogaram ou jogarão com pouco tempo de diferença.

Quando eu era moleque, nos anos 1960, sabia decor as equipes dos times, não só do mesu, mas dos outros também. Era fácil. O time pouco se alterava, jogador só saía do time quando estava machucado, e voltava quando se recuperava, o reserva voltava para a reserva. Os times jogavam sempre com os mesmos esquemas, não ficavam mudando a equipe ou o sistema de jogo por que iam enfrentar um time mais forte e mais fraco. Hoje, não dá para lembrar o time de dois meses atrás... aliás, nem o de hoje. Isso é bom ou mau? Bem, o amor à camisa, que fortalece o esporte, era, sem dúvida, maior, dado o grande período de tempo em que os jogadores permaneciam em seus times. E já eram profissionais.

Tempo em que para uma festa de um clube eram convidados todos os outros. E que o treinador - ou técnico - era um mero distribuidor de camisas numeradas.

Realmente, hoje, com as religiões clubísticas, todo mundo vai à igreja - os estádios. Não há padre e ninguém ouve sermões, só vê o jogo e ainda torce para aparecer uma briga para animar mais... e ainda por cima, quando o time perde, ele pode depredar ônibus, trens, metrô, matar torcedores de outros times e depredar as salas de troféus do seu próprio time, pois sabe que nada vai acontecer. No jogo seguinta, ele poderá estar lá de novo para adorar seus semi-deuses coordenados pelo seu Deus maior - seu time.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

PEDAÇOS DE FELICIDADE

Foi gol da Inglaterra, sim... mas há coisas mais importantes na história do jogo Alemanha x Inglaterra. Foto UOL

Ontem, pela Copa do Mundo, a seleção de futebo alemã derrotou a seleção inglesa por 4 a 1 na África do Sul. Houve reclamações de monte por causa de um gol inglês que não foi confirmado pelo juiz, que não viu que a bola realmente entrou na meta alemã.

Há 44 anos atrás, outro jogo, que eu ouvi por rádio - na época não havia transmissão direta por televisão para o Brasil - entre os mesmos adversários resultou em 4 x2 para os ingleses, nesse caso decidindo a Copa de 1966, disputada na Inglaterra, para a seleção inglesa. Também houve um gol discutido, no caso, validado pelo árbitro, para a Inglaterra: só que ali, a bola não entrou no gol.

Ontem vários alemães declararam em entrevista que foi o troco.

Houve também outro jogo entre os dois países, na Copa do Mundo de 1970, vencido pela Alemanha. que eliminou então os ingleses nas quartas de final da Copa distutada no México. Que eu me recorde, não houve outra partida entre as duas seleções em Copas do Mundo, mas houve outros em diferentes campeonatos.

Porém, o jogo mais importante - mas conhecido por pouca gente - foi o que se disputou nos campos europeus - na Bélgica ou na França - no Natal de 1914, em plena guerra. Sabe-se deste jogo por causa de uma carta escrita por um oficial inglês e publicada no jornal The Times do dia a de janeiro de 1915.

A carta dizia: "Foi um estranho Natal! Tudo calmo, a não ser uns tiros de emboscada do lado direito, mas nada no fronte. Nas trincheiras, aconteceram as cenas mais extraordinárias. Em frente à nossa barricada, nossos homens saíram e se misturaram com os alemães, conversando, trocando cigarros, etc. Alguns dos nossos foram mesmo até as trincheiras do inimigo e lá ficaram algum tempo, entretidos! Começaram a cantar, cada lado uma canção, até que todos terminaram com o God Save the King, que os saxões cantaram com bastente sentimento. Um de meus homens recebeu uma garrafa de vinho e o regimento chegou a jogar uma partida de futebol com os saxões, que saíram vitoriosos de 3 a 2!".

Realmente, a saudade de casa e da paz fazem coisas inacreditáveis. A guerra durou quase 4 anos mais e teve milhões de mortos, numa violência inacreditável, porém, nesse dia de Natal de 1914, um pequeno pedaço de felicidade inundou a imbecilidade humana dentro de sua maior estupidez. Esse foi o jogo de futebol mais importante do mundo até hoje, sem dúvida.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

PICUINHAS E IMPLICÂNCIAS

Não esperem ver nossa atual seleção jogar como este time: a equipe da A. A. das Palmeiras, em 1915. Nada a ver com a S. E. Palmeiras de hoje, mas, curiosamente, com o São Paulo F. C., do qual foi uma das equipes que se juntaram ao Paulistano para formar o primeiro SPFC, em 1929 - o São Paulo da Floresta.

Este não é um blog sobre futebol. Porém, em tempos de Copa do Mundo, não se fala de outra coisa, pelo menos no Brasil. O país realmente para.

Assisti ao jogo de ontem da seleção contra a Coréia do Norte. Ao contrário dos comentaristas que adoram ver defeito em tudo, não acho que o time brasileiro jogou tão mal assim... jogou até razoavelmente bem. Já teve times melhores, claro, mas ontem foi bastante razoável.

Afinal, de todos as 32 equipes que jogaram a primeira rodada da Copa, somente uma fez mais gols que o Brasil: a Alemanha, que fez 4. Dois outros times fizeram dois, além do Brasil. Os outros 28 países fizeram só um ou nenhum.

Os dois gols brasileiros foram bonitos. A Coréia é um time que joga fechado, porque joga mal, não tem talento. Dificulta o adversário pela ruindade e pelo antifutebol. Como várias equipes desta Copa, cheia de nulidades futebolísticas, como a África do Sul, Honduras, Grécia, Austrália e outros.

A verdade é que a imprensa brasileira "encarnou" em Dunga, treinador que detesta e que já detestava como jogador. Acho que o que matou Dunga desde o início para a imprensa foi o seu apelido, que, realmente, é ridículo. Sempre foi, na imprensa, alvo de chacotas. E ele também pegou raiva dos repórteres. Uma pena.

Não pe um grande técnico, mas está longe de ser ruim - como Parreira é, por exemplo. Também tem o péssimo defeito de somente convocar jogadores que atuam na Europa, deixando a torcida brasileira sem identificação com os jogadores, dos quais mal conhece alguns. Exemplos? Michel Bastos, Felipe Melo e alguns outros. E convocou e manteve no time jogadores sem condição física, como Kaká e Luiz Fabiano, apesar que o primeiro deles não jogou tão mal assim como falaram ontem. O segundo realmente foi mal.

Apesar de tudo isto, o time jogou, como falei, razoavelmente bem para um estréia. Pode até não chegar à final, mas tem chances, com certeza. E pode melhorar. Depende somente deles.

domingo, 31 de janeiro de 2010

QUE COMAM BRIOCHES!

Maria Antonieta de Áustria, rainha da França (1774-1792). Foto Wikipedia

Há governantes que não percebem a real necessidade do povo que governam. A rainha de França, Maria Antonieta, esposa de Luiz XVI, respondeu aos pedidos do povo por pão com a frase célebre: “Eles não têm pão? Que comam brioches”. Por essa e por mais outras, além de não perceber a gravidade da situação que a cercava, perdeu — literalmente — a cabeça.

Nem isso fez os governantes dos quase 250 anos que se passaram aprender. É verdade que eles hoje não perdem mais as cabeças, mas algumas vezes — infelizmente, somente algumas vezes — perdem o governo. Hoje em dia, parece que pessoas como o Sr. Kassab são cegas. Há outros exemplos, muitos deles. Não vou ficar numerando, mas cito um fato lido no jornal O Estado de S. Paulo de hoje que fala sobre transporte urbano sobre trilhos.

Diversas cidades que falavam em implantar Veículos Leves sobre Trilhos ou “Metrôs Leves” — é tudo basicamente a mesma coisa — agora dizem que, já que não foram escolhidas para sediar a Copa do Mundo de 2014, vão deixar esses planos para trás e construir corredores de ônibus. Campo Grande, Natal, Cuiabá e Porto Alegre são as cidades citadas. Lá, o povo vai comer brioches — e talvez, pois sempre é possível que não construam é coisa alguma.

Para não dizerem que eu só penso em trilhos, vamos acrescentar o que a reportagem escreve:

"Em média, o custo para adotar os VLTs é o dobro do de corredores de ônibus do tipo BRT (Bus Rapid Transit), usado em Curitiba e Bogotá. Um projeto para trens leves exige pelo menos R$ 37 milhões por quilômetro, enquanto um BRT sai por R$ 18,8 milhões/km. Para o consultor Peter Alouche, os investimentos não devem ser analisados somente pela quantia inicial. 'Os custos podem ser maiores a princípio, mas a longo prazo isso se reverte. Uma frota de ônibus precisa ser trocada a cada cinco anos e um trem dura 40 anos'. Alouche também afirma que o VLT vem acompanhado de uma revitalização urbanística da região. 'O fato de ser um projeto mais caro significa que vai haver uma preocupação maior com a área, que será recuperada urbanisticamente. O Transmilênio (elogiado corredor de ônibus de Bogotá) funciona bem como meio de transporte, mas dividiu a cidade em duas'.

Os defensores de corredores no estilo BRT argumentam que, a um custo de operação menor, conseguem transportar praticamente a mesma quantidade de pessoas dos VLTs. Nos ônibus, são entre 10 mil e 20 mil passageiros por hora e sentido, enquanto o modelo sobre trilhos tem capacidade entre 15 mil e 35 mil. ‘Só é preciso elaborar bem os projetos. Mesmo um BRT pode dar errado se for feito no tapa, para ficar pronto a tempo da Copa’, completa Balassiano, que ressalta que os corredores precisam ser um ‘sistema à parte’, não enfrentando cruzamentos e outros tipos de interferência. O investimento, porém, parece ser o diferencial para a escolha entre os dois modelos. A prefeitura de Campo Grande, por exemplo, ficou de fora da Copa e então desistiu de um projeto de 12 quilômetros de VLT. No lugar, o município vai trabalhar na criação de um sistema com 32 quilômetros de corredores, ao custo de R$ 150 milhões. ‘Nossa demanda é baixa para a utilização de um VLT e, por isso, vamos trabalhar em um sistema de terminais e corredores’, diz o diretor da Agência Municipal de Transportes da cidade, Rudel Trindade”.

Tudo é explicação e desculpas — como se não fosse necessário para qualquer cidade desse porte olhar para o crescimento futuro, com Copa ou sem Copa. Enfim, notamos a cegueira habitual. Não vão perder a cabeça, mas vão ser lembrados no futuro pelos seus sucessores da forma “isso é culpa das administrações anteriores”, como costuma dizer a maioria dos governantes neste País de Deus.

O povo? Ora, o povo... que continue respirando a fumaceira dos ônibus desregulados e do enorme ruído decorrente de seu tráfego, em vez do silêncio e limpeza dos bondes (ops, desculpe, VLTs).