As oficinas de Sete Pontes já ocuparam este prédio até pouco menos de 50 anos atrás. Foto Cleiton Pierruccini em fevereiro de 2010
Outro dia mandaram-me uma fotografia das oficinas da antiga Estrada de Ferro de Maricá, em São Gonçalo, RJ. Essas oficinas foram colocadas ali em 1941 juntamente com uma estação da ferrovia, que, logo em seguida, foi entregue à administração da Central do Brasil, embora não tivesse uma ligação física com ela. Somente no final dos anos 1950 passou à administração da Leopoldina, à época já estatal.
A ferrovia foi desativada nos anos 1960. Hoje, nada resta dela, a não ser prédios de estações - alguns deles. Entre eles, o prédio das oficinas de Sete Pontes. Infelizmente, em petição de miséria. Descaracterizado, mal cuidado, sem-abandonado, virou cortiço. Quem é o seu dono? Talvez ainda seja um dos bens da falida RFFSA. De qualquer forma, seu valor histórico é praticamente nenhum. Onde havia intensa atividade de trabalhadores, hoje resta apenas uma figura de miséria da região.
De onde teria surgido esse nome da região? Não consegui descobrir. Hoje, Sete Pontes é um dos distritos do município fluminense de São Gonçalo.
Do outro lado do mundo, se falarmos em Sete Pontes, os europeus, principalmente os mais cultos, vão se lembrar da cidade de Königsberg — "montanha do rei", em alemão. Lá existiam as Sete Pontes — vejam bem, existiam, pois, hoje, dessas sete, apenas duas estão de pé. Duas foram destruídas na Segunda Guerra Mundial, uma foi substituída antes por uma nova em 1935 e outras duas foram desmanchadas para que se passasse por ali uma via expressa.
A cidade, no Mar Báltico, sempre foi estratégica (além de ser a terra natal de meu bisavô Wilhelm, ou Guilherme, Giesbrecht), mas também foi nela que se criou um problema matemático que foi resolvido por Leonhard Euler, em 1736. Como havia uma questão que ninguém resolvia, ou seja, como passar pelas sete pontes sem repetir nenhuma no caminho — há de se saber que elas cruzavam o rio Pregolia e davam acesso também a duas ilhas fluviais no próprio rio.
Euler foi lá e, como Colombo, só que de uma forma mais complicada, resolveu o problema, ou seja, provou que era impossível de se passar por todas elas sem repetir pelo menos uma passagem. Afinal, ninguém tinha conseguido antes...
A cidade continuou sendo chamada de cidade das Sete Pontes mesmo depois da substituição. Bem como Sete Pontes, em São Gonçalo, ainda mantém seu nome mas ninguém sabe exatamente por quê. Aliás, Königsberg nem se chama mais assim — passou a se chamar Kaliningrado, pois foi anexada pela Rússia ao final da guerra. É um enclave no litoral da Polônia que somente pode ser alcançado por mar ou ar, ou por uma estrada que passa dentro de território polonês. Também há uma ferrovia que liga Berlim a ela.
Já Sete Pontes, hoje, não tem ferrovia, e a maioria de seus habitantes nem deve saber que um dia por lá passou alguma.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
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Ralph,
ResponderExcluirParabéns a você, pela publicação, e ao Cleiton, pela escavação arqueológica. Realmente, a única coisa alusiva à EFM em São Gonçalo é a Avenida Maricá, e tenho certeza que a imensa maioria do povo de lá não sabe a origem desse nome. A prefeita, com certeza, está incluída nesta maioria. São Gonçalo já teve tecelagens, estaleiros, fábricas de processamento de pescado... e duas ferrovias em seu território. Hoje é um dormitório de um milhão de almas, submetidas à sanha do mais terrível cartel de empresas de ônibus do nosso estado. O pior é que não há nenhum horizonte favorável a melhorias nesse setor...
Euler fez a sua prova em 1736 e não em 1936.
ResponderExcluirClaro que foi 1736! O texto nem faz sentido dessa forma. São esses erros de datilografia que me deixam maluco. Já corrigi o texto,
ResponderExcluirOlá, Ralph. Meu nome é Marcos Marcelino de Barros. A respeito da localidade gonçalense de Sete Pontes, a professora Maria Nelma Carvalho Braga, em seu livro O Município de São Gonçalo e Sua História diz que "Seu nome originou-se do fato de, no período da Guerra Brasil/Paraguai, o engenheiro francês responsável pela construção de uma ponte nesse local, usava sempre o termo 'Cette Pont' querendo dizer 'Esta Ponte', ficando esta expressão perpetuada, dando nome ao Distrito de Sete Pontes."
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