Casa em São Paulo: antiga, bonita e com detalhes. Porém, mais da metade da sua fachada está escondida por um muro pichado, em nome do medo.
Vivemos atrás das grades, atrás de muros? Pelo menos na cidade de São Paulo, sim. Infelizmente, o “pelo menos” pode ser estendido a praticamente todas as cidades do Brasil. Andamos pelas ruas, de carro ou a pé, e vemos as casas escondidas atrás dos muros quase sempre pichados e das grades muitas vezes amassadas e malcuidadas. Casas grandes e pequenas, feias e belas, se escondem atrás de muros altos por cima dos quais mal se pode ver a parte superior das casas.
Já dos prédios, vemos as sacadas dos prédios mais bonitos (para mim, não há prédios bonitos: há os que são menos feios) e as janelas e alvenaria sujas dos edifícios mais simples e feios. Dez, vinte, trinta andares, sempre parecendo que as pessoas que moram lá dentro estão fugindo do chão, afastando-se das ruas, ficando delas o mais distante possível – no caso, o mais alto possível. E tome muros escondendo os jardins e as portarias dos edifícios.
Casas e edifícios novos já são construídos com grade e/ou muros impedindo a entrada de qualquer pessoa que não more neles. Inclusive dos parentes, obrigados a se identificar na portaria pelo porteiro que já está cansado de vê-los, como se fossem os autoritários e arrogantes funcionários de embaixadas de países que insistem em pedir vistos para brasileiros adentrarem seu país.
Casas e edifícios antigos também acabaram fechados por muros e, neste caso, a situação é pior: são construções geralmente bem mais bonitas que as atuais que se escondem dos olhares dos passantes que apenas querem ver algo bem feito.
Ontem quis tirar uma fotografia de uma placa de rua de metal – aquelas antigas, de letras brancas em alto relevo com fundo azul que ainda eram instaladas nas esquinas das ruas da cidade até, sei lá, os anos 1970, grudadas nas paredes à beira da calçada ou até um pouco mais recuada. A rua, de uns 4-5 quarteirões, somente tem ainda essa placa. Ela está atrás de grades, na parede de um prédio de esquina.
Do lado da frente do prédio, a parede está recuada em relação à calçada – é ali que a placa está, grudada nela. Da lateral, a parede encosta na calçada da outra rua. Não me deixaram entrar no jardim gradeado para fotografá-la. Devo ser um perigoso espião ou agente avançado de bandidos que querem planejar um ataque em massa ao prédio, como num arrastão. Enfiei as mãos e a câmara por entre a grade na rua lateral e consegui fotografar a placa.
Casas e prédios sem grades e muros são tão raros de se ver hoje em dia, qualquer que seja o bairro da cidade, rico ou pobre, que, quando vemos uma, nos espantamos. Ainda existem algumas. E sim, quem me conhece sabe que eu moro em Alphaville, cujas casas não tem qualquer tipo de grade ou muros em relação à rua – mas também sabem que cada loteamento é cercado por muros altos e só entra quem passa por uma portaria central. É, eu também me rendi à neurose.
É uma pena. As cidades perdem demais em beleza e ganham demais em feiúra. Tudo pelo medo que foi gerado pela insegurança de estarmos cercados por pessoas supostamente sem educação e cultura, sem dinheiro e com fome, como se fossem bárbaros à procura de comida matando todos os que encontram pela frente. Mas será isso mesmo? Ou é a imagem que criamos e que destrói grande parte da beleza de nossas vidas – de ricos e de pobres.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
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Ola Ralph
ResponderExcluirAqui em Lins não é diferente, a minha casa ainda não tem muro só um pé de acácia que quando florece fica linda....mas os meus vizinhos já "fecharam" com muros e infelizmente como você disse " em nome do medo" também estou pensando em "murar"...quando vim para Lins a quase trinta anos "fugindo" de S.Paulo..a cidade era pacata hoje com cadeias em toda a região...a violência disparou..infelizmente....
Tabém acho feio os muros mas.. moramos em um pais onde impera a inversão de valores ..." os boms se prendem e os maus ficam livres...
Daniel Gentili
Se não fechares, a cidade agradecerá. Resta saber se os invasores em potencial também agradecerão... (estou ficando neurótico demais)
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