sábado, 10 de abril de 2010

AMIGO E ADMIRADOR...


Meu avô Sud ocupou diversos cargos públicos e privados em sua vida. A presidência do Centro do Professorado Paulista ocupou-a por pelo menos 17 anos, entre 1931 e 1948, ano de sua morte. Embora tudo que ouvi e li sobre ele mostrem-no como um sujeito íntegro e patriota, ele, como todas as pessoas do mundo, deu suas escorregadelas. Algumas são fáceis de se notar: decisões e conclusões erradas relatadas em suas peripécias durante sua vida.

Outras, nem tanto: atitudes tomadas contra determinadas empresas e/ou pessoas que acabaram por gerar aborrecimentos a ele. Muitas dessas são até impossíveis de sabermos. Ele dava a impressão de ser uma pessoa arrogante, como o são várias pessoas que sabem muito e acham que todos deveriam ter o mesmo nível de sabedoria do que eles. É difícil se livrar da arrogância. Mas é claro também que determinadas decisões tomadas não podem agradar a todos ao mesmo tempo.

A pessoa da qual vou falar adiante não terá seu nome citado. Entretanto, é interessante ver, nas únicas duas cartas trocadas com meu avô das quais tenho conhecimento, como se apresentam as relações entre duas pessoas num momento e em outro. Em uma carta de novembro de 1939, o cidadão responde a uma carta de Sud - a qual nunca li - afirmando que "S. S. não tem o direito de insultar-me, aquilatando-se de embelecador, intrusão, impostor, embusteiro, etc. como se deduz de sua infeliz carta, na qual S. S. manifesta, de certo modo, sua desconfiança em minha pessoa, exigindo a devolução de um documento (...)".

Continua, mais à frente, insultando meu avô (filho de italianos): "Creio, no entanto, que S. S. para fazer tal juízo, deveria, primeiramente, verificar se o meu sangue caboclo contém mescla de sangue lazaroni, ou se o meu nome cheira a porão de navio de imigração". E escreve mais desaforos, para finalmente afirmar que se considera já um ex-sócio do Centro (do Professorado Paulista).

Não dá para saber se este Sr. teria alguma razão em sua ira. O fato é que a carta ficou guardada por quase seis anos. Finalmente, em setembro de 1945, o mesmo Sr. escreve a meu avô - não sei se houve alguma conversa entre eles nesse intervalo - começando a carta com a expressão "Saudações muito cordiais" e pedindo ao "prestigioso chefe" a sua remoção (ele era diretor de Grupo Escolar no interior de São Paulo) para "uma localidade que tenha colégio, de preferência Catanduva ou São Carlos (...)". E termina com "É o que lhe pede o amigo e admirador".

Chamava Sud de chefe, pois na época meu avô era Diretor do Departamento de Educação do Estado. Não sei o que aconteceu depois disso. Meu avô deve ter rido muito e sido muito ácido ao ler a carta.

Nada como um dia depois do outro.

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