domingo, 8 de novembro de 2009

DESABAFO

A ponte de pedras, chamada Ponte do Peixoto, foi construída pela E. F. Dom Pedro II durante o Império. Com o fim deste a ferrovia tornou-se a Central do Brasil. Esta magnífica obra de arte está abandonada no meio do mato, embora seus trilhos ainda estejam cruzando-a e a concessionária tenha abandonado a linha - parte da bitola métrica da Linha do Centro na região de Rio Acima, MG.

Esta semana chegaram-me notícias sobre a inauguração que deverá acontecer logo, logo, de um trem turístico na localidade de Rio Acima, em Minas Gerais. Entretanto, em listas de discussão falou-se sobre o abandono da linha métrica da Central nessas região. Falou-se muito também sobre a quebra de bitola em Lafayette, aliás assunto do meu blog no dia de ontem.

Aí, vieram os desabafos, ambos de um conhecido pesquisador ferroviário e morador em Belo Horizonte, uma das pessoas que mais me manda fotografias e informações para meu site de estações ferroviárias. Optei por transcrevê-los abaixo. Não sou somente eu que fico revoltado com o abandono das ferrovias no País.

Caros, excelentes textos, parabenizo-os por esta e as mensagens anteriores de mesmo tema. Entretanto, já em pleno século 21, continuamos a pagar o preço da chamada "quebra da bitola" cuja decisão, se política, militar, econômica, vaidade pessoal, falta de visão de futuro, seja qual tenha sido, nos coloca na ridícula situação de operação ferroviária com duas bitolas distintas, algo absolutamente irremovível, obrigando-nos a transbordos, linhas mistas, rivalidades e tudo o mais de ruim que a bitola diferente possa trazer. Isto é o Brasil, país exótico do esquecido e longínquo cone sul das Américas, vivendo suas idiossincrasias e suas bobagens seculares”.

Logo depois, veio o segundo desabafo:


“Caros, tenho acompanhado a troca de mensagens decorrentes da incursão do último domingo, Sabará, Honório Bicalho, Linha do Centro às margens da Estrada Real, Rio Acima, túneis abandonados – as fotos publicadas, todas do Pedro, ocasionaram discussões filosóficas, sobretudo comportamentais do brasileiro comum, opiniões sobre a gestão do bem público (nossos governantes sabem o que é isso?), etc, etc.
À parte das surpresas agradáveis, como o trem turístico de Rio Acima, ganham ênfase, nos nossos corações ferroviófilos, o abandono, a destruição e o descaso.

O fenômeno é inexplicável, pelo menos quando se apela ao bom senso - se se dispõe de uma infraestrutura de transporte, como na região entre Rio Acima e BH, como podem os governos relegá-la ao abandono, gerando perdas financeiras incalculáveis e a substituindo por transporte rodoviário de péssima qualidade e altíssimo nível de risco, como presenciamos aqui, a cada dia?

Abandonado o bem público ferroviário é saqueado, isto é o que vemos em nossas incursões. Nada sobra, tudo é reaproveitável nas construções miseráveis e improvisadas que vemos aumentar a cada dia nas periferias das cidades, mesmo as cidades pequenas como Rio Acima. Ocupação insana, migração irrefreável do campo para as cidades, está é a imagem que sempre nos recebe às margens das nossas ferrovias abandonadas e relegadas ao ostracismo e ao saque.


Solução? A meu ver, não há. A conjunção de fatores, ou sejam, abandono do governo, saques, destruição, má educação, desrespeito, contratos de concessão absurdos (a concessionária tem que manter o que recebeu, mas eu duvido que isto se cumpra, a ANTT é um fantoche, a exemplo de qualquer órgão governamental), é perversa, pervertida e cruel.
Resta-nos, como diz o Pedro, fotografar agora tudo o que pudermos porque nossas fotos serão a única testemunha de que algo ferroviário existiu. Tudo o mais vai sumir na voracidade da ocupação humana
”.

Concordo com praticamente tudo o que ele escreveu acima. E gostaria de não concordar, de ter provas cabais para desmenti-lo, mas não as tenho. Sinto muito por isso.

Um comentário:

  1. Ola Ralph
    Goataria de ver essas fotos do abandono dessa ferrovia mineira apesar de talvez ja conhece-la.

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