Como já escrevi por aqui, meu pai adorava viajar. Em muitas dessas viagens ia de carro e levava a família: minha mãe, eu e minha irmã. Só que o carro que ele teve na virada dos anos 1960 não era tão confiável assim. Era um Studebaker 1951, que ele comprou em 1959. Naquele tempo, os carros nacionais começavam a ser fabricados e ainda havia muitos modelos estrangeiros rodando — alguns bem antigos.
A chapa era 5-99-98. Escrita assim, mesmo, com o sempre presente (no caso) SÃO PAULO-SP em cima dos algarismos. Não era como hoje, em que existe uma outra placa no lado de cima da placa maior com essa escrita (ou da cidade que for o caso). Era a própria placa que a tinha. A outra plaquinha era o licenciamento: quando o carro era licenciado – anualmente, como hoje – era trocada a plaquinha do ano anterior pelo atual. Fomos a Piracicaba com o carro porque era uma cidade relativamente próxima – uns 150 km. Via Anhanguera, depois a estrada que liga Nova Odessa a Piracicaba passando por Santa Bárbara d’Oeste. Foi a primeira vez que fui à cidade.
O motivo da viagem foi o de sempre: reunião da SBPQ. Tanto meu pai como minha mãe participavam todos os anos. Nesse caso, julho de 1961, ficamos na casa do tio Homero e da tia Zizinha. Era na rua Prudente de Morais, uma casa antiga, na ladeira. Não sei se ela ainda existe. Meus tios-avós infelizmente já se foram.
Piracicaba ainda tinha bondes. Ainda tinha a linha e os trens da Sorocabana. Ainda tinha os trens da Paulista. Ainda tinha peixes no rio. O rio ainda não cheirava mal.
Lembro-me de sair a pé com meus tios durante o dia para ir, sei lá, comprar algumas coisas. Mas do que me lembro bem foi de uma ida ao rio Piracicaba de carro – o rio não era tão perto assim da casa deles. Papai parou o carro junto às pedras do rio, acredito que na margem do lado da cidade (difícil de ter certeza), bem perto do famoso salto.
Eu descobri que ali existia um arvoredo que dava o que eu chamava de “fichas”, na verdade, vagens maduras e marrons que quando se abriam tinham seus “feijões” dentro, e eu os chamava de fichas. Eu ficava atirando as fichas no rio. Até que meu pai descobriu que ele tinha perdido o chaveiro com a chave do carro e provavelmente entre as pedras ou dentro do rio. Aí foi um fuzuê.
Não havia jeito de conseguirmos achar a chave nem de abrir a porta. Até que eu me lembrei e disse para o papai que a gente deveria ver se o porta-malas estava aberto. Ele não sabia por que aquilo poderia resolver o problema, mas eu sim. Estava. Eu entrei no porta-malas e daí para o interior do carro (habitáculo??) passando por entre o banco traseiro e o porta-malas, aquela espécie de prateleira que os carros tinham e se jogavam revistas, pulôveres e mais um monte de bugigangas. Por algum motivo era ela removível, e, embora eu soubesse disso, meu pai não sabia.
Salvei o dia. Naquela tarde, eu fui o herói. Abri o carro por dentro. Chamamos um chaveiro e ele refez a chave. Não antes de meu pai fazer “ignição direta” e levar o carro para a casa do tio Homero. O chaveiro foi lá, claro.
Meu Deus, que saudades de tudo isso.
A chapa era 5-99-98. Escrita assim, mesmo, com o sempre presente (no caso) SÃO PAULO-SP em cima dos algarismos. Não era como hoje, em que existe uma outra placa no lado de cima da placa maior com essa escrita (ou da cidade que for o caso). Era a própria placa que a tinha. A outra plaquinha era o licenciamento: quando o carro era licenciado – anualmente, como hoje – era trocada a plaquinha do ano anterior pelo atual. Fomos a Piracicaba com o carro porque era uma cidade relativamente próxima – uns 150 km. Via Anhanguera, depois a estrada que liga Nova Odessa a Piracicaba passando por Santa Bárbara d’Oeste. Foi a primeira vez que fui à cidade.
O motivo da viagem foi o de sempre: reunião da SBPQ. Tanto meu pai como minha mãe participavam todos os anos. Nesse caso, julho de 1961, ficamos na casa do tio Homero e da tia Zizinha. Era na rua Prudente de Morais, uma casa antiga, na ladeira. Não sei se ela ainda existe. Meus tios-avós infelizmente já se foram.
Piracicaba ainda tinha bondes. Ainda tinha a linha e os trens da Sorocabana. Ainda tinha os trens da Paulista. Ainda tinha peixes no rio. O rio ainda não cheirava mal.
Lembro-me de sair a pé com meus tios durante o dia para ir, sei lá, comprar algumas coisas. Mas do que me lembro bem foi de uma ida ao rio Piracicaba de carro – o rio não era tão perto assim da casa deles. Papai parou o carro junto às pedras do rio, acredito que na margem do lado da cidade (difícil de ter certeza), bem perto do famoso salto.
Eu descobri que ali existia um arvoredo que dava o que eu chamava de “fichas”, na verdade, vagens maduras e marrons que quando se abriam tinham seus “feijões” dentro, e eu os chamava de fichas. Eu ficava atirando as fichas no rio. Até que meu pai descobriu que ele tinha perdido o chaveiro com a chave do carro e provavelmente entre as pedras ou dentro do rio. Aí foi um fuzuê.
Não havia jeito de conseguirmos achar a chave nem de abrir a porta. Até que eu me lembrei e disse para o papai que a gente deveria ver se o porta-malas estava aberto. Ele não sabia por que aquilo poderia resolver o problema, mas eu sim. Estava. Eu entrei no porta-malas e daí para o interior do carro (habitáculo??) passando por entre o banco traseiro e o porta-malas, aquela espécie de prateleira que os carros tinham e se jogavam revistas, pulôveres e mais um monte de bugigangas. Por algum motivo era ela removível, e, embora eu soubesse disso, meu pai não sabia.
Salvei o dia. Naquela tarde, eu fui o herói. Abri o carro por dentro. Chamamos um chaveiro e ele refez a chave. Não antes de meu pai fazer “ignição direta” e levar o carro para a casa do tio Homero. O chaveiro foi lá, claro.
Meu Deus, que saudades de tudo isso.
Ralph, o que significa SBPQ? Não achei no google.....
ResponderExcluirSBPC é o correto, o Q está errado. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciencia, na época não era politizado como é hoje. Se fosse como é hoje, meu pai não iria. Ele detestava politica a qualquer nivel.
ResponderExcluirmuito bom
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