sexta-feira, 9 de abril de 2010

NITERÓI

Foto do site da UOL - 9/4/2010

Conheço a cidade de Niterói já há vários anos, mas na última vez que lá estive, em 2005, pude dar uma boa olhada por lá. É uma bela cidade, limpa, bem cuidada, uma pequena Rio de Janeiro que deu certo.

Hoje só se fala em Niterói e pelo lado mau: uma tragédia que matou muita gente no tal morro do Bumba, local a que nunca fui. E hoje cedo li as notícias que dão conta que "a Prefeitura já sabia que o morro tinha problemas", etc. etc. etc.

Ora, claro que sabia. Nem é preciso saber (eu, claro, não sabia) que um aterro formado por lixo não pode ter casas construídas em cima de forma direta. Basta saber que há casas em um morro para saber que ali é terreno de risco. Ou abaixo dele, como foi o caso de Angra dos Reis na virada do ano.

Deve haver poucas cidades grandes no Brasil que não tenham casas nas encostas de morros. A não ser que estejam sobre pedra viva, elas têm uma chance enorme de rolarem morro abaixo. É só uma questão de tempo. Pode demorar muitos anos - afinal, há inúmeras casas em morros no Brasil que ainda não foram arrastadas - mas vive-se em risco, sim.

Já que há inúmeras famílias que não se importam de morar em condições perigosas, caberia às Prefeituras não deixá-las construir nas encostas. Com raras exceções, no entanto, isto jamais acontece. As Prefeituras e até donos de áreas particulares invadidas pouco se importam com isso. É um fardo político muito grande (numa sociedade com baixo nível de educação) tirá-las dali. Afinal, se o morro não cair no dia seguinte ao da retirada, esta vai ser sempre chamada de demagógica, de ter sido feita com segundas intenções, de ser feita sem planejamento, por um governo que não respeita os menos favorecidos, etc.

Os próprios moradores não querem sair, e os "lideres comunitários", cuja qualificação é geralmente dúbia para ocupar um "cargo" destes, também costumam dizer não e acusam as prefeituras de insensibilidade. E no caso de construção de residências decentes para eles (casas populares), há inúmeros casos de venda ou aluguel ilegal das propriedades, feitas pelos transferidos para que eles amealhem dinheiro e voltem para as casas anteriores, ou que reconstruam outras nos mesmos lugares de risco. E novamente a prefeitura não se preocupa em conferir tudo isto.

Está mais do que na cara que a culpa destas tragédias é, além do clima incontrolável, tanto da Prefeitura como dos moradores. Perguntar até quando é inútil. Daqui a um mês, senão antes, todos se esquecerão de tudo e volta a ser tudo "como dantes no quartel de Abrantes".

E aí, é só esperar por novas tragédias. Quem lucra são os órgãos de imprensa, porque, ao mesmo tempo que as pessoas correm para ajudar, correm para ler tudo sobre o assunto, infelizmente não com a intenção de tirar algo de útil do ocorrido, mas principalmente porque gostam de se entreter com este tipo de assunto.

5 comentários:

  1. Luiz Carlos

    A tragedia de Niteroi é somente mais uma pagina da repetitiva cronica brasileira.Os crimes dos "Nardonis", as bebedeiras dos "Adrianos", as canalhices dos "Sarneys"
    tudo isso só traz vantangens para a mídia.
    E como você disse o povo, estupido que é, não consegue tirar nenhum ensinamento dos eventos.
    Quanto a construir nos morros , não há nenhum problema desde que feito do modo correto.
    Em LA subindo pela Mullholand Drive só tem casas simpaticas e sem risco de cair.
    Grande abraço

    ResponderExcluir
  2. Ralph, você disse tudo. Nada tenho a acrescentar, a não ser um abraço fraterno.

    Leandro Cesar dos Santos, Canto do Rio, Niterói, RJ

    ResponderExcluir
  3. Outros também que costumam prestar um desserviço à causa da não-ocupação dessas regiões é o próprio judiciário: às vezes a própria prefeitura e os órgãos de defesa lutam para que essas áreas não sejam ocupadas, mas os interessados vão na Justiça, (que dificilmente sabe a quê veio) e liberam a ocupação. Essa manobra envolvendo a Justiça (é evidente) é bem mais comum quando envolve empreendimentos de maior padrão, como praias (no Recreio dos Bandeirantes, no RJ, por exemplo, na própria Angra dos Reis mesmo, em Trindade (distrito de Paraty), etc. Depois que a pessoa constrói a primeira laje, aí é quase impossível retirá-la de lá.

    ResponderExcluir
  4. Realmente, o Luiz Carlos tem razão, há casas que suportam um desbarrancamento, quando fundações são bem feitas. Porém, no Brasil, provavelmente 99% das casas construídas em aclives não têm procupações com as fundações. Causa: falta de dinheiro e falta de conhecimento.

    ResponderExcluir
  5. Muito interessante o comportamento da mídia neste caso.Bombardeiam o povo com imagens e lamentos das vítimas sobreviventes.É um espetáculo deprimente. O interessante é que "magnatas" ocupam as encosta da zona sul do Rio de Janeiro e nada é notificado. Nem acreditei quando vi o lamento de um destes "bem nascidos" reclamando que a sua mansão tinha vindo abaixo, a dele de outros vizinhos. Ele lamentava de ter perdido meio milhão de reais na casa que desabou.Isto foi mostrado em questão de um minuto ou dois no máximo.As mansões que desabaram estavam em área de proteção ambiental com uma visão espetacular para o mar.

    ResponderExcluir