terça-feira, 6 de abril de 2010

DELENDA SÃO PAULO

Vista da Rebouças, sentido centro, a partir da Faria Lima. Ao contrário do que escrevi abaixo, nesse momento ela não estava congestionada - o que é, realmente, um milagre. Reparem na fila de ônibus no sentido Eusébio Matoso: é comum ela estar com o dobro de veículos à mesma hora. Foto tirada hoje

Moro em Santana de Parnaíba, mas trabalho no Jardim Paulistano, em frente ao bairro de Pinheiros (ou seja, na esquina da Faria Lima depois da Rebouças, e não antes — para quem vem de Pinheiros). Daqui se vê a Rebouças eternamente congestionada no sentido centro. Com túnel passando debaixo da Faria Lima e tudo.

O túnel é inútil. Está sempre congestionado, exatamente porque tem um sinal na sua boca norte (Pedroso de Moraes). Do lado da Eusébio Matoso, sentido sul, geralmente o trânsito é mais tranquilo. Quem quer seguir de carro para o centro passa pelo túnel e pega a Rebouças. Quem vem de ônibus espera o sinal da Faria Lima e cruza por cima do túnel.

Para que então um túnel, se não eliminou cruzamento algum? Dinheiro jogado fora, literalmente. E para atrapalhar bem, quem vem de carro pela Eusébio tem de entrar à direita na Faria, fazer um retorno dois quarteirões depois, voltar e entrear à direita na Rebouças. Ora, se os ônibus cruzam a Faria com sinal, por que não os carros? O que resolveu? Nada.

Da Rebouças da minha infância não sobrou nada. Não existe (se existe, é um número desprezível) uma casa servindo de moradia nela. Nem na Eusébio Matoso. A única coisa louvável nas duas avenidas é que elas são umas das pouquíssimas ruas em São Paulo sem fiação exposta — elas são subterrâneas. De resto, as casas viraram escritórios, lojas, postos de gasolina e estacionamentos. Constantemente, nas duas avenidas, casas são demolidas para que os terrenos virem estacionamentos. Uma pena.

Uma pena, não porque essas casas mereçam ser preservadas ou não como patrimônio histórico, mas sim porque eliminam-se as casas para se jogar ali carros e mais carros, com o solo totalmente impermeabilizado onde até há pouco ainda poderiam existir jardins - se bem que eles haviam sido eliminados também para estacionamento das casas comerciais que elas já eram. Ninguém quer morar em ruas com muito tráfego. E isto está acabando com São Paulo.

Domingo li uma reportagem sobre o abandono de casas na avenida Brasil. O motivo: o mesmo. Só que lá não existem (que eu me lembre) estacionamentos; as casas são largadas à própria sorte e, ainda por cima, pagam altíssimos impostos prediais. Não sei por quê, pois a rua está se deteriorando. Há casas tombadas que ninguém aluga — para colocar lojas ou escritórios, claro —, pois não podem mexer na estrutura interna da casa — além de um altíssimo IPTU.

A prefeitura não liga para isso. Quer arrecadar, para ela tanto faz o que se faça nas casas. Estacionamento, escritório, loja, casa abandonada e cheia de lixo, não importa. Pague seu IPTU e tudo está bem. A beleza da cidade que se dane. É uma pena que essa mentalidade mesquinha leve a tudo isso. Seria necessária uma mudança radical de costumes para que tudo isso fosse alterado. Isso não vai ocorrer — pelo menos não a curto e médio prazo. Até lá, a tendência dessas ruas com muito movimento é se deteriorar mais ainda. E bastante.

2 comentários:

  1. Essa mudança radical de costume a que você se refere vai vir somente à longo prazo, porque é nessa velocidade que chega o arrependimento. E eu fico muito triste com tudo isso, porque, como bom caipira goiano, ainda acho São Paulo uma cidade muito bonita, que vai aos poucos ficando um tumulto cinza e sem graça. Sem vida.

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  2. Isso parece um ciclo vicioso, quanto mais tráfego mais as moradias se distanciam, o que gera mais tráfego etc.........

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