No dia 16 de novembro de 1912, o jornal O Estado de S. Paulo (que nem é um jornal mineiro) publicou em uma das suas páginas - em uma somente, vejam - 7 (sete!) notícias sobre ferrovias no Estado de Minas Gerais, diretamente ou indiretamente relacionadas com elas.
Isto dá uma ideia da importância das estradas de ferro para o estado e também para o país.
Bem diferente de hoje, quando ela é vista como uma atrapalhação, ao contrário de todos os outros países do mundo, inclusive - e principalmente - dos de Primeiro Mundo. Aliás, pode ser que seja exatamente por isto que eles são Primeiro Mundo.
Vejam as notícias acima. De cima para baixo, da esquerda para a direita:
1) Notícia sobre a construção do que viria a ser o ramal de Jureia (na época, de Tuiuti), da Mogiana. Ele seria entregue em 1914 totalmente pronto e ligado com a que viria a ser a Rede Mineira de Viação, na estação de Tuiuti. O ramal foi extinto em 1966.
2) Notícia publicada na cidade de Oliveira, falando sobre o trem que passaria por ali nos próximos dias. Essa linha ainda existe, mas por ela somente passam trens cargueiros, os de passageiroa acabaram nos anos 1970.
3) Notícia sobre a construção de outro ramal da Mogiana, o ramal de Passos, que ficaria pronto em 1921. Fechou em 1977.
4) Notícia sobre a estação de Retiro, situada na área rural do município de Juiz de Fora. e situada na Linha do Centro da antiga Central do Brasil. A linha ainda existe, somente para cargueiros.
5) Notícia sobre a Estra de Ferro do Piau, que seria anexada à Leopoldina no ano seguinte, transformar-se-ia no ramal de Juiz de Fora (ligava a cidade à estação de Furtado de Campos, na linha de Caratinga da Leopoldina. Ambas estas linhas desapareceram desde os anos 1970 e 80.
6) Notícias do ramal de São Pedro a Uberaba, então da Oeste de Minas e depois da RMV. Este ramal está hoje abandonado pela concessionária.
7) Estações de Pedra do Sino e de Paraibuna, ambas da linha do Centro da antiga Central do Brasil; hoje, linhas cargueira. As estações ainda existem, mas não funcionam como tal há anos. Quanto aos guarda-chaves, somente encontrá-los-emos nos livros de história.
sábado, 26 de novembro de 2016
terça-feira, 22 de novembro de 2016
ANOS 1940: A BAGUNÇA DOS NOMES DAS ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS
A estação e a cidade de São José dos Campos quase viraram Camponésia em 1943
Entre 1938 e 1943, houve uma febre de mudança de nomes de estações ferroviárias, considerando-se que era um absurdo a existência de nomes de estações iguais a outros, ou iguais a distritos, ou a municípios, ou que fossem muito longe da sede do município, etc.
Mesmo antes desse período, houve diversas estações, distritos e municípios que tiveram nomes alterados, mas cada caso era isolado dos outros, eram por motivos específicos.
Entre 1938 e 1943, houve uma febre de mudança de nomes de estações ferroviárias, considerando-se que era um absurdo a existência de nomes de estações iguais a outros, ou iguais a distritos, ou a municípios, ou que fossem muito longe da sede do município, etc.
Mesmo antes desse período, houve diversas estações, distritos e municípios que tiveram nomes alterados, mas cada caso era isolado dos outros, eram por motivos específicos.
Propunha-se a mudança de nome de uma estação porque ela
tinha o mesmo nome, por exemplo, de um distrito de um município que às vezes
ficava a 600 km de distância. Em muitos dos casos, mudava o nome tanto da estação quanto do município do qual ela era a principal.
O curioso é que, mesmo com essa campanha, ainda sobraram diversas estações com nomes iguais a outras.
O curioso é que, mesmo com essa campanha, ainda sobraram diversas estações com nomes iguais a outras.
O primeiro estudo foi feito dentro do Estado de São Paulo.
Mais tarde, isto se estendeu pelo Brasil inteiro e foi um fuzuê. Houve
reclamações de todos os lados e a troca radical de nomes tradicionais de
estações, municípios, distritos, etc. E na maioria das vezes a reclamação era procedente.
Realmente, uma bobagem. A lei, que realmente acabou
prevalecendo, causou a troca de inúmeras localidades no País inteiro, e meu
avô, Sud Mennucci, foi um dos incentivaram essa "revolução". Admiro
muito meu avô, a quem não conheci, mas de quem escrevi a biografia, em 1997.
Admiro, mas certamente não por esta "paranoia" de sua parte. Ele foi um dos mais
ativos colaboradores dessa "revolução", pelo conhecimento geográfico
que tinha, especialmente no Estado de São Paulo, com uma memória de fazer inveja.
Tenho, de seus arquivos, esboços de leis, de reuniões no
Instituto Brasileiro de Geografia, recortes de jornais, leis já feitas, etc..
ÉSeriainteressante citar as mudanças (dentro do Estado de
São Paulo) que foram propostas para mudança de nomes de diversas estações
paulistas, pelos mais variados motivos.
Nomeio abaixo algumas que foram sugeridas, de acordo com o
decreto-lei no. 3599, de 6/9/1941, transcritas na ata da reunião do IHG de
28/3/1942. Estas foram sugeridas, mas, por algum motivo, não foram
aplicadas. Em alguns casos, os nomes foram até alterados, mas para outros, diferentes.
Nesta lista, os primeiros nomes eram do que existia na época. O segundo, da
ferrovia. O terceiro (em negrito) era o nome sugerido. O quarto e último é o nome que a estação (e/ou município) tem hoje. Aliás, como a esmagadora maioria das estações brasileiras foi fechada e até demolida, muitos desses nomes nem têm mais sentido, a não ser que algum bairro ou município tenham adotado o nome.
São José dos Campos - Central - Camponésia - São José dos Campos
Areais - SPR - Itiquiri - Areais
Campo Largo - Bragantina - Itapetinga - Campo Largo
km 7 - Bragantina - Buturucaia - km 7
km 22 do ramal de Piracaia - Bragantina - Baitacas - km 22
km 69 do tronco da Bragantina - Bragantina - Mandacaru - km
69
Bacuri - Noroeste - Guacuri - Bacuri
Iporanga - Noroeste - Açoiaba - Iporanga
Junqueira - Noroeste - Abrigo - Junqueira
Mirandópolis - Noroeste - Comandante Arbués - Mirandópolis
Bom Sucesso - E F Campos do Jordão - Mandu - Bom Sucesso
Anhumas - Mogiana - Anhara - Anhumas
Corredeira - Mogiana - Campininha - Corredeira
Guatapará - Mogiana - Angaíba - Guatapará
Itaoca - Mogiana - Itapuá - Itaoca
Macaubas - Mogiana - Jabaetê - Macaubas
Orindiuva - Mogiana - Jaguari-Mirim - Orindiuva
Porangaba - Mogiana - Poranduba - Coronel Pereira Lima
Tibiriçá - Mogiana - Tijupá - Tibiriçá
Entroncamento - Perus-Pirapora - Agarapê - Entroncamento
Nova Parada Sete - Cantareira - Arapecó - Nova Parada Sete
Via Queimada - Central - Caitaba - Vila Queimada
Vargem Grande - Central - Mamanguá - Vargem Grande
Paraíso - Itatibense - Galvões - Paraíso
Itapema - Itatibense - Boava - Itapema
Pedra Branca - E F do Dourado - Itati - Pedra Branca
Ciro Rezende - E F do Dourado - Cambará - Cambaratiba
Areia - Paulista - Ibicuitiba - Santa Irene
Batalha - Paulista - Ibiretê - Batalha
Estrela - Paulista - Tataci - Estrela
Floresta - Paulista - Ibirati - Floresta
Macuco - Paulista - Abaretê - Macuco
Santo Inácio - Paulista - Jacaré-Guaçu - Santo Inácio
Taquaral - Paulista - Taquaretã - Taquaral
Americana - Sorocabana - Americanópolis - Guilherme Wendell
Angatuba - Sorocabana - Angaturama - Angatuba
Caixa D'Água - Sorocabana - Itatins - Caixa D'Água
Fortuna - Sorocabana - Catuaba - Canitar
Iberá - Sorocabana - Ibatubi - Martim Afonso
Itupeva - Sorocabana - Inhandijara - Itupeva
Lageado - Sorocabana - Itaiá - Lageado
Pereiras - Sorocabana - Taba-mirim - Pereiras
Santa Teresinha - Sorocabana - Guaçussaba - Santa Teresinha
Serrinha - Sorocabana - Caraia - Serrinha
Cambuí - E F Araraquara - Anajá - Cambuí
A farra foi muito maior. Essas não vingaram - o nome sugerido acabou nunca sendo efetivamente implementado, mas muitas outras que não estão nesta lista mudaram realmente os seus nomes. Imaginem o que deve ter havido de confusão, principalmente
quando os nomes mudavam de novo ou voltavam para o que eram.
Em alguns casos, os nomes mudaram, mas depois voltaram a ser o nome anterior, com o acréscimo de algum nome, como "Paulista", "do Sul", "do Norte", etc. (Exemplos? Cachoeira mudou para Valparaiba e 5 anos mais tarde passou a ser Cachoeira Paulista)
Em alguns casos, os nomes mudaram, mas depois voltaram a ser o nome anterior, com o acréscimo de algum nome, como "Paulista", "do Sul", "do Norte", etc. (Exemplos? Cachoeira mudou para Valparaiba e 5 anos mais tarde passou a ser Cachoeira Paulista)
Isto é Brasil. Quando tudo está em ordem, arruma-se um jeito
de se o bagunçar.
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domingo, 20 de novembro de 2016
1913: HORÁRIO DOS TRENS DA MOGIANA ENCHIAM 1/4 DA FOLHA DO JORNAL
Antes, eu e Antonio Pastori - que me enviou o texto abaixo - recomenda que leiam as declarações estúpidas e
estarrecedores emitidas recentemente por "otoridades" do Gov.
Federal:
Só para refrescar o conhecimento dos ministros que caçoam de quem quer ter os trens de passageiros de volta no Brasil, o horário dos trens da Mogiana (só os da Mogiana) 103 anos atrás.
1) Do Ministro do PPI, Moreira
Franco ontem, 16/11, por ocasião da renovação dos contratos de concessão dos
portos de Paranaguá e Salvado por mais mais 25 anos (esse pacote de bondades
faz sentido pois, afinal de contas, o Natal está ai). Moreira disse
textualmente à "Voz do Brasil" que "num país da extensão
do nosso, a ferrovia JAMAIS será o modal em que as pessoas se movimentarão pelo
Brasil, mas ela é indispensável, fundamental, para mobilidade da produção
agrícola...(vide áudio anexado).
Apelidado nos anos 1980 pelo
então Governador Leonel Brizola de "Gato Angorá", esse felino nunca
deve ter viajado - ou ouvido falar - dos milhares trens de passageiros que
circulam pela Rússia, China, Canadá e EUA, para citar somente países de grandes
dimensões territoriais, onde os trens de carga e passageiros convivem de forma
harmoniosa. Só por aqui, esses idiotas planejam ferrovias somente para carga.
Enquanto isso, nossas estradas vão matando um Vietnan por ano.
2) A outra pérola foi dita pelo
seu secretário de coordenação do PPI, Tarcísio de Freitas ao Jornal Folha de S.
Paulo em 9/11, sobre a Ferrovia Bioceânica: "Quem sabe em 2.450,
depois do Armagedom, ironizou." Com certeza esse pateta desconhece
o Projeto do Eixo Capricórnio, elaborado às custa dos BNDES em 2011, que
prevê o uso da malha Sul para interligar os dois Oceanos. É mais barato e de
menor distância e tem pré-estudos confiáveis encomendado pelo BNDES. Ao que
aprece, esse denso estudo do Eixo Capricórnio nunca chegou à Brasilia (foram
para o lixo?). Por essa duas declarações, vemos que esses homunculus publicus não estão muito comprometidos com as ferrovias de carga e, muito menos, com o transporte de passageiros em média e longa distância.
Só para refrescar o conhecimento dos ministros que caçoam de quem quer ter os trens de passageiros de volta no Brasil, o horário dos trens da Mogiana (só os da Mogiana) 103 anos atrás.
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segunda-feira, 14 de novembro de 2016
VENCESLAU BRAZ VAI A PIQUETE - 1918
A estação de Piquete - que, na realidade, se chamava Rodrigues Alves - em 2006, 88 anos depois da visita de Venceslau Braz.
Era maio de 1918. A Primeira Guerra Mundial, ou Guerra do Kaiser, como minha avó a chamava, comia solta na Europa e o Brasil já havia declarado guerra aos alemães, sem, entretanto, ter mandado ainda nenhuma soldado para lá.
O presidente brasileiro era o mineiro Venceslau Braz (na época, Wenceslau) e ele decidiu fazer uma visita à fábrica de "pólvora sem fumaça" de Piquete, no Vale do Paraíba, divisa com o sul de Minas.
Se fosse hoje, ele pegaria o avião presidencial e desceria no aeroporto mais próximo, onde um carro o estaria esperando (ele e mais os seus acompanhantes, ou papagaios de pirata, como queiram-nos chamar). Naquele época, porém... a solução era o trem da Central.
O trem presidencial partiu da estação do Campo (a da Central, que passaria a ser chamada de Dom Pedro II a partir de 1925) e seguiu para o Vale do Paraíba. Na baixada fluminense, o trem parou em três estações: Deodoro, Maxambomba (Nova Iguaçu) e Belém (Japeri). As primeiras notícias, que seriam publicadas nos jornais do dia seguinte vinham exatamente de Belém. O presidente não desceu do carro em nenhuma delas, "em palestra com o ministro da Guerra e com o da Viação, o diretor da Central e o general Mendes de Moraes". A imprensa apareceu por lá também e cumprimentou o presidente pelo "modo magnífico com que iniciara a viagem". Puxa-saquismo puro, próprio de uma época. O que eles esperavam? Um descarrilamento com mortes? Venceslau manteve com eles "cordial palestra".
Ali, eles descobrem que no carro do Estado, estava o presidente; no carro dos ministros, os dois ministros; havia carros de luxo e dormitório onde viajavam os "officiaes de gabinete" e os representantes da imprensa; fora estes, o carro administração, o do chefe do trem e o bagageiro.
Às 4hs20 o carro cruzou a divisa estadual, em Queluz. Nesta estação, o presidente foi "recebido com manifestações por parte do povo, que ergueu enthusiasticos vivas ao chefe da Nação". Também foram mostrar que estavam vivos o prefeito, o juiz de direito da comarca, o "tiro 490" e os escoteiros fazendo continência. Ao som de vivas, o trem deixava a estação em seguida. Ah, se fosse hoje...
Em Cachoeira, o trem passou às 5 horas. Neste momento, anunciava-se que a linha de tiro 432 seguiria para Lorena.
Em Lorena, o trem entrou na gare da estação "sob delirantes acclamações dos presentes" às 6h30. Na gare, estavam os membros da Camara Municipal e do diretório político local; mais ainda autoridades, o comandante do 53o Batalhão de Caçadores, o 4o de engenharia, o tiro 432, o tiro 180, um contngente da Força Publica e todo o Gymnasio São Joaquim (alunos, suponho), o Secretário da Justiça, o da Segurança Publica e tenente-coronel Eduardo Lejeune, uma delegação da Liga Nacionalista de São Paulo, além do diretor da fábrica de pólvora e da "massa popular", que não tinha mais nada para fazer. Na verdade, aqui o presidente foi obrigado a descer, pois havia baldeação para o trem que seguia para Piquete - a bitola era menor.
Somente às 6h50 (só vinte minutos?) o trem do ramal seguiu para Piquete. E olhe que o trem ainda parou na Fazenda Amarella, sede do 4o Batalhão de Engenharia.
O trem chegou a Piquete às 7h50. Na estação da cidade, ainda se juntou mais gente à comitiva: um deputado federal, um juiz de direito, os comandantes de três outros batalhões e dois correspondentes de jornais e mais cinco pessoas. Antes de seguir para a fábrica, foram todos tomar café na casa do diretor.
Depois, todos regressaram ao trem, que seguiu para a fábrica - a linha entrava nas dependências da fábrica na verdade. Chegaram ali às 8h50. Depois, a visita - que acabou às 11 horas, o almoço, e longos discursos que não diziam, no duro mesmo, coisa alguma que fosse interessante.
Assim era a vida em 1918.
Era maio de 1918. A Primeira Guerra Mundial, ou Guerra do Kaiser, como minha avó a chamava, comia solta na Europa e o Brasil já havia declarado guerra aos alemães, sem, entretanto, ter mandado ainda nenhuma soldado para lá.
O presidente brasileiro era o mineiro Venceslau Braz (na época, Wenceslau) e ele decidiu fazer uma visita à fábrica de "pólvora sem fumaça" de Piquete, no Vale do Paraíba, divisa com o sul de Minas.
Se fosse hoje, ele pegaria o avião presidencial e desceria no aeroporto mais próximo, onde um carro o estaria esperando (ele e mais os seus acompanhantes, ou papagaios de pirata, como queiram-nos chamar). Naquele época, porém... a solução era o trem da Central.
O trem presidencial partiu da estação do Campo (a da Central, que passaria a ser chamada de Dom Pedro II a partir de 1925) e seguiu para o Vale do Paraíba. Na baixada fluminense, o trem parou em três estações: Deodoro, Maxambomba (Nova Iguaçu) e Belém (Japeri). As primeiras notícias, que seriam publicadas nos jornais do dia seguinte vinham exatamente de Belém. O presidente não desceu do carro em nenhuma delas, "em palestra com o ministro da Guerra e com o da Viação, o diretor da Central e o general Mendes de Moraes". A imprensa apareceu por lá também e cumprimentou o presidente pelo "modo magnífico com que iniciara a viagem". Puxa-saquismo puro, próprio de uma época. O que eles esperavam? Um descarrilamento com mortes? Venceslau manteve com eles "cordial palestra".
Ali, eles descobrem que no carro do Estado, estava o presidente; no carro dos ministros, os dois ministros; havia carros de luxo e dormitório onde viajavam os "officiaes de gabinete" e os representantes da imprensa; fora estes, o carro administração, o do chefe do trem e o bagageiro.
Às 4hs20 o carro cruzou a divisa estadual, em Queluz. Nesta estação, o presidente foi "recebido com manifestações por parte do povo, que ergueu enthusiasticos vivas ao chefe da Nação". Também foram mostrar que estavam vivos o prefeito, o juiz de direito da comarca, o "tiro 490" e os escoteiros fazendo continência. Ao som de vivas, o trem deixava a estação em seguida. Ah, se fosse hoje...
Em Cachoeira, o trem passou às 5 horas. Neste momento, anunciava-se que a linha de tiro 432 seguiria para Lorena.
Em Lorena, o trem entrou na gare da estação "sob delirantes acclamações dos presentes" às 6h30. Na gare, estavam os membros da Camara Municipal e do diretório político local; mais ainda autoridades, o comandante do 53o Batalhão de Caçadores, o 4o de engenharia, o tiro 432, o tiro 180, um contngente da Força Publica e todo o Gymnasio São Joaquim (alunos, suponho), o Secretário da Justiça, o da Segurança Publica e tenente-coronel Eduardo Lejeune, uma delegação da Liga Nacionalista de São Paulo, além do diretor da fábrica de pólvora e da "massa popular", que não tinha mais nada para fazer. Na verdade, aqui o presidente foi obrigado a descer, pois havia baldeação para o trem que seguia para Piquete - a bitola era menor.
Somente às 6h50 (só vinte minutos?) o trem do ramal seguiu para Piquete. E olhe que o trem ainda parou na Fazenda Amarella, sede do 4o Batalhão de Engenharia.
O trem chegou a Piquete às 7h50. Na estação da cidade, ainda se juntou mais gente à comitiva: um deputado federal, um juiz de direito, os comandantes de três outros batalhões e dois correspondentes de jornais e mais cinco pessoas. Antes de seguir para a fábrica, foram todos tomar café na casa do diretor.
Depois, todos regressaram ao trem, que seguiu para a fábrica - a linha entrava nas dependências da fábrica na verdade. Chegaram ali às 8h50. Depois, a visita - que acabou às 11 horas, o almoço, e longos discursos que não diziam, no duro mesmo, coisa alguma que fosse interessante.
Assim era a vida em 1918.
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
DE TREM ONTEM E DE CARRO HOJE (1918-2016)
Trajeto de trem em 1918 e de carro em 2016
A data deste relato deve estar errada. O ano citado (1919) deve ser 1918, pois o relator cita que fez o percurso final sem usar a ferrovia, mas ela estava aberta no trecho (Indiana-Prudente) desde janeiro de 1918 - comprovado no relatório da Sorocabana e nos horarios e anuncios publicados em jornais da época. Além disso, a roça de milho que ele cita estava ali em março de 1918, de acordo com o livro de onde tirei o texto abaixo.
Vale a pena ler. Isto é para quem reclama que "tem de fazer 245 quilômetros de ônibus para ir de uma cidade a outra" hoje em dia - esta é a distância entre São Paulo e São Carlos, hoje em dia, mesma distância por rodovia que hoje tem o percurso que ele fez em 1918 - por ferrovia. O pessoal sofria. Não com o transporte (o trem) em si, mas com as baldeações e a baixa velocidade.
Vejam o relato feito por migrantes que vieram em 1918/19 da região da Araraquarense para Presidente Prudente - que, pelo que pesquisei, em março de 1918 não tinha nem esse nome.
O pioneiro e araraquarense Luiz Colnago veio da estação de Cedral, perto de São José do Rio Preto, atraído pela fama das boas terras da região Alta Sorocabana. Acompanhavam-no 18 companheiros, entre portugueses e italianos. Eles comprarm do Coronel Goulart terras num total de 1.000 alqueires que custaram 50 contos à vista. A viagem dessa turma se fez em 6 dias. Saíram de Cedral na noite de 19 de março de 1919 (nota: mantive a data, mas comentei o possível erro acima), no trem da Araraquarense. Foram até Campinas, onde pousaram. Partiram da estação de Guanabara para Itu. De Itu a Mairinque para pegar a linha tronco da Sorocabana. De Mairinque a Salto Grande, onde o trem pernoitava. De Salto Grande a Assis, onde morava o Coronel Goulart e onde entabularam negócios. De Assis a Indiana, de trem. E de Indiana a Presidente Prudente pela Estrada Boiadeira. Ficaram acampados debaixo de uma figueira perto da (futura) estação. O quadrado delimitado pelas 4 avenidas era uma roça de milho onde ainda estavam os paus calcinados da queimada.
Do livro: "Formação História de uma Cidade Paulista: Presidente Prudente", de Dióres Santos Abreu, lançado em 1972 pela Feculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente
A data deste relato deve estar errada. O ano citado (1919) deve ser 1918, pois o relator cita que fez o percurso final sem usar a ferrovia, mas ela estava aberta no trecho (Indiana-Prudente) desde janeiro de 1918 - comprovado no relatório da Sorocabana e nos horarios e anuncios publicados em jornais da época. Além disso, a roça de milho que ele cita estava ali em março de 1918, de acordo com o livro de onde tirei o texto abaixo.
Vale a pena ler. Isto é para quem reclama que "tem de fazer 245 quilômetros de ônibus para ir de uma cidade a outra" hoje em dia - esta é a distância entre São Paulo e São Carlos, hoje em dia, mesma distância por rodovia que hoje tem o percurso que ele fez em 1918 - por ferrovia. O pessoal sofria. Não com o transporte (o trem) em si, mas com as baldeações e a baixa velocidade.
Vejam o relato feito por migrantes que vieram em 1918/19 da região da Araraquarense para Presidente Prudente - que, pelo que pesquisei, em março de 1918 não tinha nem esse nome.
O pioneiro e araraquarense Luiz Colnago veio da estação de Cedral, perto de São José do Rio Preto, atraído pela fama das boas terras da região Alta Sorocabana. Acompanhavam-no 18 companheiros, entre portugueses e italianos. Eles comprarm do Coronel Goulart terras num total de 1.000 alqueires que custaram 50 contos à vista. A viagem dessa turma se fez em 6 dias. Saíram de Cedral na noite de 19 de março de 1919 (nota: mantive a data, mas comentei o possível erro acima), no trem da Araraquarense. Foram até Campinas, onde pousaram. Partiram da estação de Guanabara para Itu. De Itu a Mairinque para pegar a linha tronco da Sorocabana. De Mairinque a Salto Grande, onde o trem pernoitava. De Salto Grande a Assis, onde morava o Coronel Goulart e onde entabularam negócios. De Assis a Indiana, de trem. E de Indiana a Presidente Prudente pela Estrada Boiadeira. Ficaram acampados debaixo de uma figueira perto da (futura) estação. O quadrado delimitado pelas 4 avenidas era uma roça de milho onde ainda estavam os paus calcinados da queimada.
Do livro: "Formação História de uma Cidade Paulista: Presidente Prudente", de Dióres Santos Abreu, lançado em 1972 pela Feculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente
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quinta-feira, 10 de novembro de 2016
A SOROCABANA E OS PRESIDENTES
Um dos primeiros trens a chegar a Presidente Prudente.
Em 1919, a Sorocabana inaugurou sua fase de "presidentes" para nomear estações.
Em janeiro desse ano, inaugurou uma estação já lá perto do rio Paraná e deu a ela o nome de Presidente Prudente. Não Prudente de Moraes. Prudente, só. Quem deu o nome, e porque? Eu estava lendo um livro muito bem escrito sobre a história da cidade, o "Formação História de uma Cidade Paulista: Presidente Prudente", de Dióres Santos Abreu, lançado em 1972 pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente e não achei, em nenhum lugar do texto, alguma explicação sobre o porquê desse nome. Por que Prudente de Moraes, se ele havia sido presidente 20 anos antes e falecido havia 17 anos? Certamente este senhor não possuía terras por ali. Bom, porque homenagear esse presidente e não algum outro, ou, porque um presidente da jovem República, também fica a dúvida. Porém, poder-se-ia supor que, numa cidade, fundada segundo o autor em 1917 e que se consistia nesse início de dois loteamentos, um de um lado do leito da futura linha férrea, de nome Villa Goulart e outro do outro lado, de nome Villa Marcondes, ficaria difícil privilegiar o nome de um deles numa estação ferroviária.
Agora, por que não se nomear a nova estação com esse nome e não com o de um riacho próximo... sei lá. Aparentemente, o nome foi dado pela ferrovia, realmente.
No mesmo mês de janeiro de 1919, a linha da Sorocabana chegaria a um povoado de nome Brejão, logo depois mudado para Alvares Machado, um bairro afastado que somente seria município décadas depois. Este senhor não havia sido um presidente. Em novembro, a estação seguinte aberta foi Guarucaia. Entrando em 1920 e 1921, mais duas estações com nomes "normais" (Santo Anastacio e Piquerobi), para, na terceira, em dezembro de 1921, aparecer Presidente Venceslau. Aqui, o povoado se chamava Coroados. De novo, por que o nome de Venceslau Braz (na época, era com W)? Este foi um presidente que cumpriu mandato entre 1914 e 1918 e estava vivo - só foi morrer em 1966.
E ainda em 1919, bem longe dali, o recém-aberto posto telegráfico "quilômetro 14" teria o nome alterado pela mesma Sorocabana para Presidente Altino. Aqui fazia algum sentido, pois Altino Arantes estava em pleno mandato de Governador paulista, cargo que tinha o nome de Presidente naquela época. Também não acredito que Altino tenha possuído terras por ali, uma região ainda erma entre a foz do rio Pinheiros no Tietê e o bairro e estação de Osasco. Outra vez, era um local que precisava de um nome e neste caso escolheram alguém contemporâneo para batizá-lo - ainda não existia a lei que vetava nomes de pessoas vivas para logradouros públicos.
Em 1922, a ferrovia chegava ao seu ponto mais distante e abriu a estação de Presidente Epitácio. Próxima a dois pontos já existentes então, Porto Tibiriçá e Porto XV de Novembro, o nome do presidente, Epitácio Pessoa, ainda no seu cargo, foi o escolhido para mais uma estação.
No ano seguinte, a estação de Guarucaia seria nomeada - desta vez, com o nome do então ocupante do cargo, André Bernardes (Presidente Bernardes). Por que renomear Guarucaia? Não consegui descobrir.
Oito anos se passariam antes que a estação de Paraguassu - hoje, Paraguassu Paulista - tivesse o nome alterado para Presidente Washington, o ocupante do cargo então (Washington Luiz Pereira de Souza). Não durou muito, Em março de 1931, o nome voltaria ao anterior (o presidente havia sido deposto em outubro de 1930), para, 17 anos mais tarde, passar a se chamar Araguassu e, em 1949, passar a ser Paraguassu Paulista.
Em 1961, a Sorocabana abriu uma nova estação no ramal de Dourados, que ligava Presidente Prudente a irante do Paranapanema desde 1957 e a chamou de Presidente Washington. O ex-presidente havia falecido em 1957. O projeto da ferrovia era que em volta desse ponto surgisse uma nova cidade, planejada e rica. Não deu certo. Hoje, ali não há mais ramal, nem trilhos, nem estação, nem cidade, nem nada. Nem o nome sobreviveu - você não o encontrará em mapa algum.
Esta é a história dos "Presidentes" da Sorocabana. Ainda existiram, porém, no Estado de São Paulo, outra no mesmo estilo: Presidente Vargas, na E. F. Araraquara (aberta em 1962 e desativada nos anos 1970 e uma das poucas homenagens ao ex-presidente no Estado), Presidente Alves (Rodrigues Alves), na Noroeste, aberta em 1906. Ali, segundo Nelson Ghirardello, existia um córrego que já tinha esse nome, para justificar a denominação da estação.
Em 1919, a Sorocabana inaugurou sua fase de "presidentes" para nomear estações.
Em janeiro desse ano, inaugurou uma estação já lá perto do rio Paraná e deu a ela o nome de Presidente Prudente. Não Prudente de Moraes. Prudente, só. Quem deu o nome, e porque? Eu estava lendo um livro muito bem escrito sobre a história da cidade, o "Formação História de uma Cidade Paulista: Presidente Prudente", de Dióres Santos Abreu, lançado em 1972 pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente e não achei, em nenhum lugar do texto, alguma explicação sobre o porquê desse nome. Por que Prudente de Moraes, se ele havia sido presidente 20 anos antes e falecido havia 17 anos? Certamente este senhor não possuía terras por ali. Bom, porque homenagear esse presidente e não algum outro, ou, porque um presidente da jovem República, também fica a dúvida. Porém, poder-se-ia supor que, numa cidade, fundada segundo o autor em 1917 e que se consistia nesse início de dois loteamentos, um de um lado do leito da futura linha férrea, de nome Villa Goulart e outro do outro lado, de nome Villa Marcondes, ficaria difícil privilegiar o nome de um deles numa estação ferroviária.
Agora, por que não se nomear a nova estação com esse nome e não com o de um riacho próximo... sei lá. Aparentemente, o nome foi dado pela ferrovia, realmente.
No mesmo mês de janeiro de 1919, a linha da Sorocabana chegaria a um povoado de nome Brejão, logo depois mudado para Alvares Machado, um bairro afastado que somente seria município décadas depois. Este senhor não havia sido um presidente. Em novembro, a estação seguinte aberta foi Guarucaia. Entrando em 1920 e 1921, mais duas estações com nomes "normais" (Santo Anastacio e Piquerobi), para, na terceira, em dezembro de 1921, aparecer Presidente Venceslau. Aqui, o povoado se chamava Coroados. De novo, por que o nome de Venceslau Braz (na época, era com W)? Este foi um presidente que cumpriu mandato entre 1914 e 1918 e estava vivo - só foi morrer em 1966.
E ainda em 1919, bem longe dali, o recém-aberto posto telegráfico "quilômetro 14" teria o nome alterado pela mesma Sorocabana para Presidente Altino. Aqui fazia algum sentido, pois Altino Arantes estava em pleno mandato de Governador paulista, cargo que tinha o nome de Presidente naquela época. Também não acredito que Altino tenha possuído terras por ali, uma região ainda erma entre a foz do rio Pinheiros no Tietê e o bairro e estação de Osasco. Outra vez, era um local que precisava de um nome e neste caso escolheram alguém contemporâneo para batizá-lo - ainda não existia a lei que vetava nomes de pessoas vivas para logradouros públicos.
Em 1922, a ferrovia chegava ao seu ponto mais distante e abriu a estação de Presidente Epitácio. Próxima a dois pontos já existentes então, Porto Tibiriçá e Porto XV de Novembro, o nome do presidente, Epitácio Pessoa, ainda no seu cargo, foi o escolhido para mais uma estação.
No ano seguinte, a estação de Guarucaia seria nomeada - desta vez, com o nome do então ocupante do cargo, André Bernardes (Presidente Bernardes). Por que renomear Guarucaia? Não consegui descobrir.
Oito anos se passariam antes que a estação de Paraguassu - hoje, Paraguassu Paulista - tivesse o nome alterado para Presidente Washington, o ocupante do cargo então (Washington Luiz Pereira de Souza). Não durou muito, Em março de 1931, o nome voltaria ao anterior (o presidente havia sido deposto em outubro de 1930), para, 17 anos mais tarde, passar a se chamar Araguassu e, em 1949, passar a ser Paraguassu Paulista.
Em 1961, a Sorocabana abriu uma nova estação no ramal de Dourados, que ligava Presidente Prudente a irante do Paranapanema desde 1957 e a chamou de Presidente Washington. O ex-presidente havia falecido em 1957. O projeto da ferrovia era que em volta desse ponto surgisse uma nova cidade, planejada e rica. Não deu certo. Hoje, ali não há mais ramal, nem trilhos, nem estação, nem cidade, nem nada. Nem o nome sobreviveu - você não o encontrará em mapa algum.
Esta é a história dos "Presidentes" da Sorocabana. Ainda existiram, porém, no Estado de São Paulo, outra no mesmo estilo: Presidente Vargas, na E. F. Araraquara (aberta em 1962 e desativada nos anos 1970 e uma das poucas homenagens ao ex-presidente no Estado), Presidente Alves (Rodrigues Alves), na Noroeste, aberta em 1906. Ali, segundo Nelson Ghirardello, existia um córrego que já tinha esse nome, para justificar a denominação da estação.
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
O METRÔ DE SÃO PAULO EM 1964
Em azul: metrô de 1964; em vermelho: Cantareira; em preto: metrô como é hoje.
Uma notícia de jornal publicada pelo O Estado de S. Paulo de 1964 mostra uma linha de metrô bem diferente com relação à que foi efetivamente construída, a Norte-Sul, atual linha 1.
Aqui era mostrada como seria a linha entre o centro da cidade (onde passava pelo vale do Anhangabaú e não pela Praça da Sé e Largo São Bento).
"A linha norte do metropolitano vai desenvolver-se em subterrâneo pelo Parque Anhangabaú, cruzará em nível inferior o leito da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, alcançando a avenida Tiradentes. Emergirá logo adiante, junto à rua Jorge Velho, e seguirá em elevado, primeiro pela rua Pedro Vicente e segundo, pela avenida Cruzeiro do Sul.
No final desta avenida cruzará o outeiro de Santana, em túnel de 243 metros de extensão, aproximadamente, seguindo por faixa sem acesso através de miolos de quadras, cruzará em nível superior a rua José de Debieux e, num segundo túnel de mais ou menos 280 metros de extensão, passará pelas ruas Arthur Guimarães e Manoel Soveral, emergindo depois na encosta esquerda do pequeno vale paralelo à rua Voluntários da Pátria. Atingirá a seguir a estação do Mandaqui do ramal da Cantareira, cruzando por cima a avenida Mandaqui, cujo plano de abertura foi aprovado pela lei 6.076, em 1962. Desse ponto acompanhará aproximadamente o leito da referida estrada de ferro até as imediações do Horto Florestal."
Interessante notar que, dessa forma, o metrô seria praticamente uma retificação do Tramway da Cantareira, até pelo menos próximo à estação do Tremembé.
A linha 1 do metrô atual seguiu a Cantareira apenas entre as avenidas Prestes Maia e o túnel da linha em Santana. Depois, desviou para leste e pegou apenas um pequeno trecho da ferrovia, mas no ramal de Guarulhos, entre a Parada Inglesa e o Tucuruvi.
Por que terá havido a modificação?
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