A estação de Piquete - que, na realidade, se chamava Rodrigues Alves - em 2006, 88 anos depois da visita de Venceslau Braz.
Era maio de 1918. A Primeira Guerra Mundial, ou Guerra do Kaiser, como minha avó a chamava, comia solta na Europa e o Brasil já havia declarado guerra aos alemães, sem, entretanto, ter mandado ainda nenhuma soldado para lá.
O presidente brasileiro era o mineiro Venceslau Braz (na época, Wenceslau) e ele decidiu fazer uma visita à fábrica de "pólvora sem fumaça" de Piquete, no Vale do Paraíba, divisa com o sul de Minas.
Se fosse hoje, ele pegaria o avião presidencial e desceria no aeroporto mais próximo, onde um carro o estaria esperando (ele e mais os seus acompanhantes, ou papagaios de pirata, como queiram-nos chamar). Naquele época, porém... a solução era o trem da Central.
O trem presidencial partiu da estação do Campo (a da Central, que passaria a ser chamada de Dom Pedro II a partir de 1925) e seguiu para o Vale do Paraíba. Na baixada fluminense, o trem parou em três estações: Deodoro, Maxambomba (Nova Iguaçu) e Belém (Japeri). As primeiras notícias, que seriam publicadas nos jornais do dia seguinte vinham exatamente de Belém. O presidente não desceu do carro em nenhuma delas, "em palestra com o ministro da Guerra e com o da Viação, o diretor da Central e o general Mendes de Moraes". A imprensa apareceu por lá também e cumprimentou o presidente pelo "modo magnífico com que iniciara a viagem". Puxa-saquismo puro, próprio de uma época. O que eles esperavam? Um descarrilamento com mortes? Venceslau manteve com eles "cordial palestra".
Ali, eles descobrem que no carro do Estado, estava o presidente; no carro dos ministros, os dois ministros; havia carros de luxo e dormitório onde viajavam os "officiaes de gabinete" e os representantes da imprensa; fora estes, o carro administração, o do chefe do trem e o bagageiro.
Às 4hs20 o carro cruzou a divisa estadual, em Queluz. Nesta estação, o presidente foi "recebido com manifestações por parte do povo, que ergueu enthusiasticos vivas ao chefe da Nação". Também foram mostrar que estavam vivos o prefeito, o juiz de direito da comarca, o "tiro 490" e os escoteiros fazendo continência. Ao som de vivas, o trem deixava a estação em seguida. Ah, se fosse hoje...
Em Cachoeira, o trem passou às 5 horas. Neste momento, anunciava-se que a linha de tiro 432 seguiria para Lorena.
Em Lorena, o trem entrou na gare da estação "sob delirantes acclamações dos presentes" às 6h30. Na gare, estavam os membros da Camara Municipal e do diretório político local; mais ainda autoridades, o comandante do 53o Batalhão de Caçadores, o 4o de engenharia, o tiro 432, o tiro 180, um contngente da Força Publica e todo o Gymnasio São Joaquim (alunos, suponho), o Secretário da Justiça, o da Segurança Publica e tenente-coronel Eduardo Lejeune, uma delegação da Liga Nacionalista de São Paulo, além do diretor da fábrica de pólvora e da "massa popular", que não tinha mais nada para fazer. Na verdade, aqui o presidente foi obrigado a descer, pois havia baldeação para o trem que seguia para Piquete - a bitola era menor.
Somente às 6h50 (só vinte minutos?) o trem do ramal seguiu para Piquete. E olhe que o trem ainda parou na Fazenda Amarella, sede do 4o Batalhão de Engenharia.
O trem chegou a Piquete às 7h50. Na estação da cidade, ainda se juntou mais gente à comitiva: um deputado federal, um juiz de direito, os comandantes de três outros batalhões e dois correspondentes de jornais e mais cinco pessoas. Antes de seguir para a fábrica, foram todos tomar café na casa do diretor.
Depois, todos regressaram ao trem, que seguiu para a fábrica - a linha entrava nas dependências da fábrica na verdade. Chegaram ali às 8h50. Depois, a visita - que acabou às 11 horas, o almoço, e longos discursos que não diziam, no duro mesmo, coisa alguma que fosse interessante.
Assim era a vida em 1918.
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
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