domingo, 29 de agosto de 2010

MENTIRAS E SONHOS

Trem da E. F. Juruti, em operação há cerca de um ano no interior do Pará. Iniciativa privada, apenas 55 km. Créditos na própria foto.

Douglas Hidalgo, de Osvaldo Cruz, enviou-me há poucos dias a notícia que dá conta que a empresa que administra o porto modal da cidade de Panorama, cidade e estação terminal do tronco oeste da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro, está desativando as instalações por absoluta falta de uso.

Depois de esperarem por mil promessas ainda do tempo da Fepasa e depois das sucessoras Ferroban e ALL, ela resolveu cuidar da vida e desmontar tudo, enviando boa parte para a cidade mineira de Araguari (não me perguntem por quê).

Claramente, esse é um dos indicadores da falência da privatização das ferrovias brasileiras, feitas entre doze e catorze anos atrás. Por que afirmo isto? Bem, a privatização foi feita para que as ferrovias sucateadas e apenas parcialmente operantes com materiais obsoletos do tempo da FEPASA e da RFFSA pudessem voltar a trabalhar em níveis decentes, melhorando significativamente a infra-estrutura do País (junto com rodovias, aerovias, dutos, portos), reativando e modernizando o que não estava sendo utilizado.

Nada disso ocorreu. Das ferrovias ainda em operação na RFFSA e FEPASA na época da privatização, diversas foram desativadas, algumas até com trilhos retirados e roubados. Nenhuma nova entrou em operação, com exceção de trechos da Ferronorte e da Norte-Sul, além de mini-variantes regionais. Os portos continuam trabalhando mal.

Em termos financeiros, a privatização foi um ótimo negócio para o governo federal. Agora, em vez de bancar prejuízos enormes com as ferrovias que ele operava, ele recebe parte do faturamento das concessionárias que as operam. Para estas, são um bom negócio, pois dão lucro com investimentos muito pequenos. Para a infra-estrutura nacional, no entanto, péssimo negócio, pois a quilometragem operada diminuiu, e bastante.

O tronco oeste da ex-Paulista é uma das ferrovias que não estão sendo operadas desde a privatização. Bom, parte dela está: o trecho entre Itirapina e Bauru. De Bauru a Tupã, só durante a safra de açúcar. De Tupã a Panorama, de vez em quando uma composição para matar mato. Por isso, o porto de Panorama não opera.

Anuúncios na mídia há muitos: Ferrovia Norte-Sul de Tocantins a São Paulo, Ferrosul, Ferrofrango, Transnordestina, reativação deste ramal, daquele outro, Oeste-Leste na Bahia... mas obras, mesmo, nada. E lá se vão já catorze anos de mentiras e sonhos.

Um comentário:

  1. Há mais de um ano e meio que não aparece nenhum trem por estas paragens. As usinas pararam de mandar açúcar para a unidade da Ceagest daqui de Tupã porque a ALL não manda mais o trem. E a ALL alega que "não há movimento" que justifique o envio do trem...E então, ficamos sem trem...

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