sábado, 7 de agosto de 2010

NOMES SEM NADA A VER

Planta do loteamento do Bosque da Saúde em janeiro de 1921, publicado no Diário Popular. Os nomes das ruas referiam-se todos à Guerra do Paraguai. Quase todos, no entanto, mudaram depois.

As denominações de logradouros no Brasil não seguem, realmente, nenhuma regra de coerência. Cidades, ruas, estações ferroviárias, bairros e outras localidades são e foram batizados em um grande número de vezes de forma a não manterem relação nenhuma com fatos, locais ou pessoas com as quais são denominadas. As que menos sofrem com isso parecem ser as cidades, mas, mesmo assim, parecem existir inúmeros casos desse tipo.

Ruas, então, pelamordedeus. Alguns exemplos em São Paulo: alguém sabe que relação o sr. Roberto Marinho tem a ver com a antiga avenida das Águas Espraiadas (que tinha esse nome por causa do córrego que ela acompanha)? Ou os Bandeirantes com a avenida que lhe leva o nome (antiga avenida da Traição, por causa de um fato perdido no tempo de um assassinato às margens do córrego que ela acompanha)?

Ou o Capitão Cavalcanti com a rua que tem seu nome na Vila Mariana - ele era um herói da guerra do Paraguai, mas que não tinha nenhuma relação com o bairro. Especialmente na Vila Mariana, que é um bairro formado no final do século XIX e cujas primeiras ruas levaram o nome de moradores ou dono de chácaras por ali: Carlos Petit, Dona Avelina, Dona Júlia, Dona Ana Rosa. Por outro lado, o próprio nome da rua principal dali, Domingos de Moraes, recebe o nome de um político batataense que talvez jamais tenha passado por ali. O nome original desta rua era Caminho do Carro (para Santo Amaro).

Há, no entanto, diversos bairros que receberam nomes temáticos, ou seja, quando se abriu o loteamento, como eram muitas ruas, decidiu-se dar os nomes baseados em algum fato histórico ou geográfico. O Jardim Europa leva o nome de países da Europa. O Jardim América, da América. O Sumaré, de cidades do Brasil. A antiga Vila América, de cidades do Estado (Santos, Jaú, Itu... embora a Iguape tenha virado Oscar Freire no final dos anos 1920... por que?). Em Moema, as ruas têm nomes de pássaros a oeste e de índios a leste da avenida Ibirapuera, mas nos anos 1980 uma delas recebeu o nome de um ministro (Gabriel de Rezende Passos). Mesmo que ele tivesse terras ali ou houvesse ali morado, mudar o esquema e a sintonia dos nomes temáticos por que motivo?

Em estações ferroviárias brasileiras, o nome de funcionários das companhias em que trabalhavam foram dados a inúmeras estações, sendo que muitos deles a pontos que não tinham relação alguma com as pessoas. Pessoas falecidas em acidentes na ferrovia foram homenageadas às vezes a 500 km dali. Muitos - não todos - os nomes - substituíam nomes antigos e tradicionais. Por que? O que ganham as pessoas com isso? A recente briga pelo nome do túnel da avenida Nove de Julho pelo nome de um médico mostra bem isso. Ou das pontes das Marginais. Em ambos os casos agora elas têm dois nomes. Para que, meu Deus?

São muitos os exemplos. Inúmeros, para dizer a verdade. Não se entende por que os políticos brasileiros insistem em alterar nomes de logradouros ou mesmo de darem nomes sem relação com os locais. Está mais do que na hora de parar com isso - e, se fosse mesmo viável, retroagir muitos dos nomes atuais aos antigos. Mas é, realmente, sonhar acordado.

8 comentários:

  1. Ralph,

    No Brás, renomearam a Praça Silva Telles para Praça República da Coreia.

    A rua Silva Telles ainda continua com o nome, mas a praça que é onde se iniciava a rua deixou de ser chamada do nome original.

    É um desrespeito retirar uma homenagem a alguém, especialmente uma pessoa com Silva Telles que quando vereador fez leis urbanísticas importantes para a cidade de São Paulo.

    Já os coreanos podem até contribuir para a cidade pro bem (empregos) e pro mal (subempregos), se querem uma homenagem que dêem uma rua nova, uma praça nova.

    Que tal em cidade Tiradentes, Jardim Pantanal ? Ah, lá não vão querer...

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  2. Quando Paulo Maluf foi prefeito pela ultima vez batisou uma avenida com o nome de seu pai e
    um tunel com o nome de sua mãe. Canalha como é se perguntado, dirá que quem deu o nome dos locais em homenagem aos pais foi a egrégia
    Camara Municipal. Pelo menos eram obras novas
    não precisou despejar o antigo detentor do nome

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  3. No segundo nome (a mãe) pelo menos não "deslocou" ninguém - embora, no primeiro (o pai), a nova avenida se chamava avenida Tatuapé. O nome podia ser singelo, mas era o nome do córrego e do bairro cujo limite era feito pelo córrego.

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  4. A avenida Dr. Roberto Marinho deve ter recebido esse nome em função dos estúdios da TV Globo, situados próximo ao entroncamento dessa avenida com a Marginal. Aí aproveitaram o mote pra batizar a ponte estaiada desse entroncamento com o nome de outro empresário da mídia. Uma no cravo, outra na ferradura...

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  5. Pensei nisso, Gorni, mas para mim ainda assim não é motivo. O Sr. Marinho jamais prestigiou São Paulo. Se não prestigiou, não tem de ser homenageado.

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  6. Bom, se entrarmos na questão do merecimento pela homenagem do batismo da rua, a coisa realmente complica, e em inúmeros casos. Infelizmente, como o caso anterior bem mostra, trata-se de barretada que os políticos dão com o chapéu alheio.

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  7. Sim, complica mesmo. Mas é só reclamação fo vovô aqui, vai ficar tudo assim mesmo!!!

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  8. Eu sempre achei curioso que em Moema, do lado dos pássaros havia 2 nomes de índios: Arapanés e Jauaperí. Vendo um mapa antigo da região eu vi que esta última chamava-se Tangará. Como já havia outra rua com o mesmo nome na vila Mariana, perto também da mesma linha de bonde, resolveram mudar o nome (só não sei porque para índio). E a Arapanés era Pixoxó. Não havia outro nome igual, mas, embora o pixoxó tenha um canto muito bonito talvez tenham achado que não era muito sério...

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