sexta-feira, 2 de outubro de 2009

BOLO COM SORVETE

Quando eu era pequeno, aniversário era uma maravilha. Eu esperava dias e dias por ele. Enquanto eu não estava na escola era um tal de receber os priminhos, vovô, vovó, titias, todas com presentes. Quem não me via desde o aniversário anterior falava sempre que “nossa, como ele cresceu!”.

Eu muitas vezes dava os braços na altura das mãos que carregavam o presente. Abria e levava para a cama, lá em cima, que ficava coalhada deles. Quando era mole, eu já sabia: era roupa. Eu nem abria, largava na cama. Quando era uma caixa,tinha de abrir para ver o que era – era brinquedo, com certeza.

Cada campainha que tocava eu corria para ver quem era. Quem não trazia presente me deixava triste. Mas depois eu nem lembrava quem deu e quem não deu presente. Na mesa da sala, o bolo era quase sempre feito pela tia Angélica e havia alguma coisa em cima, que não era de comer, que era geralmente feita pelo tio Siqueira.

Curiosamente, eu me lembro de um aniversário com um piano e um pianista – tudo feito pelo tio, mas o aniversário foi da minha irmã. Muito legal. À medida em que eu ia crescendo, diminuía o número de primos e aumentava o número dos “amiguinhos da escola”. Do Porto Seguro, no caso.

Aí montavam todos em cima de um jipe que eu saía dirigindo – aqueles jipinhos verdes do Exército com pedal. E eles agüentavam o tranco. Mas tinha também velocípede e tico-tico. Bicicleta, só mais tarde.

Depois de um certo tempo, passamos a jogar futebol no quintal. Quando chegava a hora de assoprar as velinhas já estavam todos imundos, mas que diferença fazia? Comíamos o bolo, mas antes já tínhamos nos enchido de cachorros-quentes e de salgadinhos. E ainda tinham os brigadeiros e o sorvete que sempre vinha com o bolo.

Já adolescente, as festas viravam bailinhos. O bolo com sorvete e os refrigerantes continuavam Quando na faculdade, mudaram os convidados. Do Porto Seguro, pouca gente ia, iam mesmo os colegas do Instituto de Química. Aí, eu já não ligava mais para os presentes, só ganhava mesmo era roupa e discos. Elepês e compactos-simples, claro. Todos eram tocados na vitrola lá de casa.

Adulto, existem festas ou jantares ou nada, dependendo da época. Os presentes, pelos quais também não fico esperando, são roupas, livros e discos. Agora são CDs.

Por tudo isso, com as devidas adaptações, vai passar o Guilherme Giesbrecht, meu neto. Hoje será o primeiro, do qual ele jamais se lembrará. Parabéns, Willi.

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