terça-feira, 27 de outubro de 2009

TRISTEZA SOBRE TRILHOS

A estação de Lobo em 2001. Foto Adriano Martins
Algumas das últimas notícias sobre ferrovias mostram que os fatos que acontecem no dia-a-dia não são sempre agradáveis para quem gosta delas e acredita que muita coisa boa poderia ser oferecida ao País se houvesse mais educação e uma mínima política nacional que fosse para o setor de transportes.

A primeira delas não é tão nova assim. Num esquecido lugarejo do interior de São Paulo, o distrito de Lobo (município de Itatinga), a velha estação construída na primeira década do século com um estilo bem Sorocabana da época – e desativada em 1952 por causa de uma retificação de linha na região – foi demolida. Servia como escola havia um bom tempo. Estive em Lobo apenas duas vezes, entre 1998 e 2001. Fotografei o pequeno prédio, já sem trilhos ao lado. Meu amigo Adriano também esteve lá pelo mesmo motivo, além do fato de ter sido ali que seus avós se casaram, no tempo da linha.

Talvez pelo fato de o prédio ser pequeno demais para uma escola, construíram outro maior a cerca de 30 metros dele – e demoliram o prédio centenário. Quem autorizou isso? Quem não o queria ali? Em que ele atrapalhava? No seu lugar não foi construído absolutamente nada, e a grama em volta continua abrigando coisa alguma. Até a plataforma de pedras desapareceu. Como a escola era pública, o prédio também devia ser. Portanto, salvo desmentido, foi mesmo coisa de político.

De Belo Horizonte vem a notícia que o ramal de Águas Claras, construído nos anos 1970 e já desativado há mais de dez anos (!!!) será transformado em uma avenida. Meu Deus, como os prefeitos adoram avenidas. Aproveitar o leito para colocar transporte público sobre trilhos, nem pensar.

De Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, a notícia que chega é que a ALL “colocará nos trilhos, de 27 a 29 de outubro, o “Vagão do Conhecimento”. No passeio de trem, jovens de escolas municipais de Três Lagoas (MS) terão oficinas de reaproveitamento de material reciclável, aulas de informática e palestras educativas”. Que enorme tristeza achar que um passeio de trem feito eventualmente com diversas crianças uma ou duas vezes por ano pode substituir a alegria de se tomar um trem no dia e na estação que se quiser, como acontecia antigamente.

É o caso de se repetir o velho chavão “me engana que eu gosto”. Tiraram o direito dos brasileiros do transporte por trilhos (com exceção das pouquíssimas exceções conhecidas). Em 1960 havia mais de 37 mil quilômetros de trilhos percorridos por bons e maus trens de passageiros, mas que lá estavam todos os dias, com todas as virtudes e defeitos que eles pudessem ter. Hoje, são apenas pouco mais de 2.500 quilômetros, contando os quatro trens de longo percurso sobreviventes (1800 km), os metropolitanos (800 km) e esquecendo os turísticos, que não são regulares.

Enquanto isso, diversos países do mundo, ricos e pobres, mantêm seus trens de passageiros porque sabem que eles têm sua função na vida das pessoas. Aqui... bom, aqui, políticos e empresas não se importam com as pessoas.

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