Nilópolis, 8/10/2009 - Foto OESP
Hoje saem notícias nos jornais e sites que resultam do tumulto na estação de Nilópolis e o trem queimado na de Mesquita, nas linhas da Supervia no Rio de Janeiro. Uma delas afirma que o Ministério Público vai pedir o pagamento de indenização à Supervia para os passageiros que foram prejudicados com o atraso devido às falhas nos trens naquele dia. Outra que a Supervia tem 48 horas para sanar todos os defeitos que impedem os trens de rodar de forma a não pararem e prejudicarem os usuários.
Não conheço a Supervia, jamais andei num trem deles. Sei que eles recentemente trouxeram alguns TUEs coreanos novos e que só os colocaram para rodar em algumas das linhas. Sei também que há queixas por causa das estações (como a de São Cristóvão, que é muito pequena para o movimento de baldeação) mal cuidadas (não sei se seriam todas). Houve problemas há alguns meses, quando seguranças da empresa bateram em passageiros e que logo depois do incidente em Nilópolis houve outro problema de falha em Japeri que quase causou mais tumultos.
Ou seja – sei o que leio nos jornais. Sem dúvida, a Supervia não é um exemplo de gestão de trens metropolitanos, mas o serviço está muito melhor do que estava quando a CBTU o jogou nas mãos da concessionária em 1997. O número de passageiros, que vinha então diminuindo, voltou a aumentar.
Porém, será a Supervia a única culpada pelo tumulto? E os bagunceiros? Não respondem pela depredação? Ser prejudicado não justifica depredar propriedade alheia. Agora todos vão ser tratados como se fossem sem-terras derrubando laranjais numa fazenda, ou seja, nada vai acontecer?
Está certo que se imponham medidas para a Supervia consertar seus problemas, mas também deveriam ser presos muitos desses bagunceiros. A Supervia diz que foi sabotagem. E se foi? Não estou defendendo a empresa, mas nessas ocasiões tudo pode acontecer. De qualquer forma, há que se melhorar. A Supervia deve pôr as barbas de molho. Todo o mundo falava em privatização do transporte público, mas aqui em São Paulo ele não aconteceu e o serviço melhorou assim mesmo – e muito, nos últimos dez anos.
Enquanto isso, aqui em São Paulo, os funcionários da CPTM afirmam que, para obter melhores salários, vão entrar em greve. Quando? Exatamente no dia em que começam os treinos da F-1 em Interlagos, que tem uma estação junto ao autódromo. Isso se chama chantagem. Se deixarem isso acontecer sem providências, esperem só até ver durante a Copa e as Olimpíadas o que os sindicatos farão.
É como eu sempre digo – não está contente com o salário? Peça demissão, mas não encha o saco de quem nada tem a ver com isso.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
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Concordo que o transporte ferroviário melhorou muito em relação ao exercido pela CBTU/Flumitrens nas décadas passadas ... mas não melhorou "da água pro vinho", digamos que tenha sido "da água pro refresco artificial" ... eu não utilizo usualmente os serviços da Supervia, mas tenho muita noção do que ocorre, e do que presenciei nas ocasiões em que embarquei em um trem da companhia. O que ocorreu semana passada foi absurdo, de ambas as partes, empresa e usuários. Da parte da Supervia faltou (não só na ocasião em Mesquita, como nas seguintes, como a confusão na Central do Brasil) uma coisa muito básica: respeito ao usuário ! Como que um trem para, fica inoperante durante 12 minutos (tempo estimado pela empresa), fazendo com que seus passageiros fiquem espremidos no calor do carro, sem nenhuma informação que pelo menos amenizasse os ânimos do povo ? Li no jornal que um especialista afirmou que o ser humano suporta até 7 minutos na situação de 5 pessoas por m² antes de sofrer angústia, ansiedade etc; imagina dentro do trem, mais do que isso de pessoas espremidas por um tempo maior, sem saber porque ? Deu no que deu: portas forçadas, que permitiram ver o maquinista "abandonando" o trem, e confusão geral ! Porque o bendito maquinista não informou pelo sistema de som do trem (éééééé todos eles tem, mas alguém já ouviu algum maquinista dando informações pelo sistema de som ? Eu já, mas é raríssimo !), será que é muito dificil um sistema desse funcionar ? Não teria evitado isso tudo ? Talvez sim ... e aí lembra-se do seguinte: a Supervia não investe em recursos humanos, treinamento, reciclagem de funcionários, psicólogos ... pois é, a função não é fácil, basta pensar que você sofre a pressão de cumprir horário, passa por áreas de risco (a estação do Jacarezinho é surreal ! ! !), tem que adivinhar quando alguém vai se jogar na frente do trem (acontece com certa freqüência), convive com vandalismo, má educação, etc ... além disso tudo a Supervia não investe em manutenção de trens (tudo que circula reformado ou novo FOI FINANCIADO PELO GOVERNO DO ESTADO ! A companhia nem pagar a despesa de energia elétrica pagava, até dar problema com a justiça.), não investe em manutenção da via (precisa de trilhos ou dormentes ? pega de uma via inoperante, como o ramal de Matadouro, a reta de Honório Gurgel, até do pátio de Guapimirim, que é (era) operado pela CENTRAL Logística a Supervia já foi lá, negociar retirada de trilhos !) e como eu disse antes, não investe em recursos humanos.
ResponderExcluirMas lembro que absurdo também foi o comportamento DE PARTE dos passageiros ... uma completa burrice ! Basta pensar ... tem pouco trem ? Tem poucos horários ? Tem falta de conforto ? Tem falhas ? E por isso vamos queimar e depredar tudo ? E amanhã ... não será menos trens, menos conforto, menos horários, menos serviços ainda ? No site de um grande jornal do RJ, vi num fórum, até com certo humor mas de forma equivocada, um usuário do fórum convocando a população a pegar a sua "Tocha Olímpica" e botar fogo em tudo que dê errado ! O ônibus quebrou ? Fogo ! O trem parou ? Fogo ! O guarda multou ? Fogo nele ! Que ABSURDO ! Realmente, não sei dizer o que foi pior nisso tudo ...
E o que fazer ? Cassar a concessão da Supervia ? Sinceramente, acho que AINDA não ... foi feito certo investimento no sistema, tudo bem que bancado em quase a totalidade pelo governo, o que acarretou melhoras; então por isso acho que ainda devemos dar um pequeno crédito à companhia. Lembremos, por exemplo, do ramal de Vila Inhomirim, que teve maior oferta de horários e reformas de estações, após a privatização da linha. Alguma coisa, pelo menos, a Supervia ainda fez ... prefiro acreditar que mais coisa boa ainda vai sair dessa confusão.
Agora, uma pequena suposição: já imaginaram se esta confusão nos trens acontece um ou dois dias antes do resultado da candidatura às Olimpíadas ? Talvez o resultado seria outro ... e de repente o incêndio seria muito maior !
E em relação à sabotagem, parece que houve mesmo ! Foram encontradas pedras (verdadeiros paralelepípedos !) próximo ao leito ferroviário e em cima do trem ! Está sendo especulado que tal atentado foi promovido pela máfia das vans, já que este serviço foi drasticamente reduzido e prejudicado no estado, após medida tomada pelo governo do estado, proibindo centenas de vans de circularem. Parece que cerca de 20% dos usuários das vans migraram para os trens e por isso, a revolta se voltou para este tipo de transporte.
ResponderExcluirÉ ... tá complicada a situação na cidade maravilhosa ...
Uma das coisas que aconteceram de bom nesse periodo pós concessão foi a volta da credibilidade em relação aos trens. Tá certissímo em dizer Dado, que isso se deve ao investimento do ESTADO. Tivemos aumento significativo nos números de passageiros e viagens tbm. Mas, creio que se o Governo tem grana para injetar na Supervia, tem como sim bancar o sistema ferroviário se a mesma não tivesse à frente do sistema. Concordo plenamente eu genero, número e grau qdo se falou que precisa se investir em pessoas dentro da Supervia. Mudar completamente esse conceito arcaico. Não conseguimos resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa.
ResponderExcluirSe a Supervia faz "cata-cata" de trilhos em diversos lugares, já deveria ter sido vista pelo Governo e ter ganho uma pesada multa. Daí tiramos as conclusões de que existe gente levando rios de dinheiro em cima dessa concessão. Vivendo de "gatilhos", qualquer dia desses podemos ver trens descarrilando entre outros.
São tantas as coisas erradas que descobrimos (eu particularmente não sabia desse "cata-cata"), que as vezes é melhor continuarmos sem saber de nada.
Abraços
O que é realmente necessário é EDUCAÇÃO. Para o povo e para os empresários (que também são parte do povo, claro). Agora, independente do grau de culpa, a SUPERVIA precisa aprender alguma lição do que aconteceu. Se não melhorar a lição de casa, a situação vai piorar. Um tumulto geralmente não vem isolado.
ResponderExcluirO "cata-cata" é muito comum na ALL, por exemplo.
ResponderExcluirEducação realmente é a base de tudo Ralph. Para ambos os lados. Foi justamente o que me referi qdo disse que se precisa investir em pessoas. Esse efeito cascata está acontecendo justamente como tem que acontecer: má gestão no topo e revolta popular na base. Não justifica vandalismo, canibalizar as coisas, sou totalmente contra esse tipo de coisas. Se falta trem com a maioria da frota rodando, é lógico que faltará mais ainda se continuar o quebra quebra. Se realmente o dever de casa não for feito, creio eu que poderemos sim nos prepararmos para o pior.
ResponderExcluirQuanto ao ""cata-cata", hoje fui de Madureira a Central do Brasil (antiga D. Pedro II.)Eu já havia reparado em muitas linhas que foram retiradas, mas hoje vi uma cena que, embora volta e meia passe por lá, ainda não tinha notado. Não existe mais via dupla no caminho de São Cristovão - Barão de Mauá. Até isso a Supervia canibalizou. Existe apenas uma via em bitola larga e uma via em bitola métrica (da FCA).Na antiga estação de São Diogo (hoje uma parte oficina se não me engano e outra parte lavador de trens)tbm existe uma porção de linhas que foram arrancadas pela Supervia.
É caro Ralph, as coisas estão realmente de cabeça pra baixo aqui. Parabéns para São Paulo nesse ponto. O Governo qdo quer trabalhar, trabalha. Aqui o que era pra ser um mar de rosas por ser privatizado, está uma verdadeira vergonha.
Abraços
ISSO É O CÚMULO !
ResponderExcluirLeiam a notícia abaixo, saiu no Jornal Extra, de ontem:
http://extra.globo.com/geral/casosdecidade/transporte/posts/2009/10/14/ramal-da-leopoldina-canibalizado-na-estacao-barao-de-maua-231785.asp
Há quem concorde com o presidente da Supervia, mas vem cá: não faz parte do contrato de concessão a preservação das instalações ferroviárias ??? Será que alguém se esqueceu disso ?
Bem observado, Luís Eduardo ... aliás postei um comentário dois minutos depois do seu, nem tinha lido o seu ainda ...
ResponderExcluirEm relação a canibalização de linhas (retirada de dormentes e trilhos para aproveitamento em outro local) cito mais alguns exemplos:
- O ramal de Marítima (tudo bem que construiram a Cidade do Samba, taqparam o túnel da Gamboa e acabaram com o local, não fazia sentido ter trilhos ainda ali)
- A reta de Honório Gurgel, que ligava a Linha Auxiliar a Linha do Centro e Deodoro em linha dupla, agora é linha singela.
- O pátio de Triagem ... arrisco dizer que ali havia dezenas de linhas para manobra, agora só as de tráfego mesmo.
Há outros exemplos, com certeza.
E ainda falando da Supervia: o Ministério Público intimou a empresa a apresentar um relatório detalhado sobre seu funcionamento, com número de carros, linhas, estações, funcionários, oficinas, passageiros diários etc e além disso, esta semana vai haver uma inspeção na empresa, para apurar a denúncia de canibalização e mau funcionamento dos trens, já que supostamente há muitas composições sem estar 100% operacionais rodando pelos ramais ... amigo, pelas informações que tive no começo do ano, sobre manutenção e funcionamento dos trens da Supervia, e que me fizeram ficar surpreso, para não dizer apavorado, a Supervia que se cuide ! Se tudo que soube não tiver sido consertado, a coisa vai ficar sinistra ...
Se for como nos contratos de concessão das cargueiras, ela tem de devolver como recebeu as instalações. Então, os trilhos tem de voltar, nem que seja no último dia da concessão. Talvez se baseiem nisso, a não ser que haja alguma clausula que proiba remanejamento. O problema é: vão devolver? Outra coisa: de quem é a obrigação de manter as linhas ou de comprar trilhos novos que eventualmente sejam necessários? da concessionária ou do governo? Será que s Supervia não remaneja trilhos no "cata-cata" justamente por que o governo não estaria fazendo sua parte? Estou aqui especulando.
ResponderExcluirDado, qdo observei isso hj fiquei de boca aberta. Mesmo. Nunca tinha reparado isso. Na própria estação de São Cristovão se repararmos bem, vemos que retiraram linha dali. Na verdade, do Engenho de Dentro até Madureira existiam 6 linhas, hj são só cinco. De Madureira até Deodoro não me recordo, mas acho que existia mais tbm. O Ramal de Matadouro tbm sofreu canibalização. A Reta de Honório eu já sabia, embora tenha esquecido. Qdo eu era criança, morava na rua paralela a Reta e toda noite passava uma composição de passageiros ali, muito provavelmente fazendo manobras. Triagem eu nunca vi, pois por ali eu nao passo mesmo. A Supervia está sendo criminosa em relação a isso. A própria estação da Leopoldina, que ao meu ver poderia voltar a operar pois demanda tem e muita, está entregue a própria sorte. Sempre que passo pela Praça da BAndeira de trem eu a observo como um cadáver em decomposição. Vimos a sua morte e agora seus restos mortais.
ResponderExcluirSaindo um pouco da Supervia, a FCA tbm quase que abandonou por completo a malha aqui no RJ. No próprio site da empresa, em operações só até Barra Mansa. De resto, nada. Creio eu -esse é o meu pensamento, não sei até onde possa ter sentido - ela poderia ou ter um trem de passageiros até a Baixada ou fazer sei lá o que tbm, mas que não abandonasse sua malha aqui. É outra que assumiu uma concessão e que simplesmente virou as costas pra tudo.
Tem muita coisa errada, muita mesmo. Temos demanda pra ramais extintos - Matadouro, Itaguaí e Barão de Mauá são um belo exemplo disso - e não conseguimos dar uma passo sequer a frente. Como disse o Ralph, São Paulo não terá Olimpíadas e investe pesado. Aqui eu n ouvi falar pouco em ampliação de ramal: Itaguaí, mas esse aí já falaram tantas vezes e até agora nada que nem vale mais a pena citar e uma possível volta do trem para Petrópolis, o que acho que não acontecerá pois tbm nunca mais ouvi falar nada - e na verdade, desde que me entendo por gente, vi a extinção do Ramal circular da Pavuna, ainda nos anos 90 e do Ramal de Niterói-Visconde de Itaboraí. É triste, mas o que nos resta é ficar sentado e assistindo o sepultamento de nossas ferrovias.
Abraços
Sobre o abandono e canibalização da Barão de Mauá, escrevi - há algum tempo atrás - um post sobre isso...
ResponderExcluirhttp://viajantedoria.blogspot.com/2008/06/o-lado-b-do-sistema-ferrovirio.html
Muito bem, Doria, bom material. Só não entendi a data de 1934 que está lá no texto.
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