A estacão de Arantina nos bons tempos.
Muitas das reminiscências que ouvimos de antigos passageiros assíduos de trens de passageiros que não mais existem neste país levm a conclusões interessantes.
Alguns se recordam das viagens com nostalgia, outros se queixam muito dos trens ruins, sujos e vagarosos e das dificuldades de embarque e baldeações em alguns casos, principalmente em fins de semana e feriados.
Enfim: trens não eram um paraiso e nem um horror.
Um senhor de nome Antonio Marcelino Rodrigues escreveu um comentário no Facebook ao ver uma fotografia da estação mineira de Arantina, não muito longe da região de Caxambu. Ele descreveu seu trajeto que fez por várias vezes com muita saudade ao escrever:
"Saudades da baldeação que fazíamos em minha infância no Rutilo para chegarmos à Arantina, terra de meu pai... Saíamos de Itajubá, baldeávamos em Soledade, pegando o trem que ia para Barra do Piraí e descíamos no Rutilo para esperar o trem Barra Mansa-Ribeirão Vermelho e chegarmos a Arantina. No retorno embarcava-se num vagão já reservado, no trem que vinha de madrugada para Barra Mansa, sendo que chegando ao Rutilo, era feita a manobra e esse vagão se incorporava ao trem da linha da Barra até Soledade".
Citando várias estações, ele saía da estação de Itajubá, na linha do Sapucaí, da RMV, baldeava em Soledade de Minas, na linha Cruzeiro-Juréia, pegando ali o trem que seguia pela linha da Barra até a estação de Rutilo, na linha-tronco da RMV. Ali esperava pelo trem que vinha de Barra Mansa e seguia para Arantina (e muito mais além, incluindo Lavras e Ribeirão Vermelho).
Ele podia fazer isso até mais ou menos 1976. Depois disso, várias dessas linhas foram sendo fechadas. Hoje apenas uma funciona, outra está abandonada e duas foram erradicadas. A que funciona serve somente a trens cargueiros. é exatamente a que ele fazia o trajeto de Rutilo a Arantina.
Eram duas baldeações. A distância não era pequena. Uns duzentos quilômetros. Devia ser cansativa. Não fui olhar as tabelas de horários que tenho, mas com as baldeações a viagem podia durar no mínimo umas seis horas. suponho. Mas é o que sempre digo, no trem, você tem conforto. Os trens da RMV não eram grandes maravilhas, mas você não fica preso ao assento, como em aviões e ônibus: você pode caminhar, olhar paisagens mais bonitas e virgens da janela...
Oque me deixa curioso é que as pessoas hoje em dia reclamam dos trens metropolitanos da CPTM e do metrô de São Paulo, bem como do Rio e de outras cidades. Em alguns casos, fazem mais do que as duas baldeações que Antonio fazia e os trens são mais rápidos. São mais cheios, sim, você em alguns casos viaja apertado. São mais paradas, mas são mais rápidas. As baldeações, em alguns casos, são demoradas. Você é obrigado a subir escadas, descer, algumas não são rolantes, há trechos longos a andar dentro de algumas estações. Na RMV e nos dias dos trens de passageiros no interior, as baldeaçoes exigiam pouca movimentação; as estações eram pequenas.
Os trens são muito melhores que os da RMV, mas todos reclamam. O brasileiro se acostumou a reclamar de tudo. Em grande parte tem razão. Tudo aqui é meia-boca. Porém, os trens metropolitanos - que foram os que sobraram - são bons. Em alguns casos, muito bons. Mas o povo reclama.
Antonio se lembra com saudades do que fazia há quarenta anos atrás. Nós não, e eu não entendo por que. Talvez o otimista seja eu, talvez o errado seja eu. E mais: como eu gostaria de ter andado nesses trens da RMV em que Antonio andava.
sábado, 1 de março de 2014
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Tinha um tio meu que visitava as tias avós que residiam em Ourinhos. Sempre me lembro destes comentários dele, pois era mais prático pegar o trem na Capital e ir direto a Ourinhos. Vim para Itapevi na época que estava ainda funcionando o "Rio Claro" (Mairinque - Itapevi). Em ambos os casos sempre quis andar neles, mas nunca tive uma oportunidade real. Quando me dei conta, estava com 18 anos, e perdi ambas as oportunidades: o "Rio Claro" diminuiria sua rota para ficar entre Amador e Itapevi apenas (a propósito, não sei se está sabendo desta, mas finalmente já vai sair a extensão operacional, e os famosos "Fepasões" vão fazer o trecho :p :) ).
ResponderExcluirDe fato, desde criança ando de trem metropolitano e de lá para cá, a mudança foi melhor. Tenho reclamado menos e apreciado mais. Reclamo do que realmente falta: mais integrações inteligentes, mais linhas úteis, menos "tempo entre trens" (mas isso sei que há outras coisas a serem solucionadas antes). Enfim.
Sempre reclamamos, da mesma forma que bebês fazem manha: sabemos que chorar, espernear, reclamar, são formas de chamar a atenção e pedir por algo e ser atendido. Por isso reclamamos tanto.
Talvez uma pequena mudança de cultura faça a gente saber reclamar e transformar reclamações em críticas, e críticas em soluções :)
Sim Ligeirinho: estou sabendo que o secretario de Estado de Transportes prometeu para mim em novembro que a extensão sairia antes do fim do ano, depois, pelo jornal, disse que sairia em janeiro e á estamos em março e até agora nada.
ResponderExcluirEntão, pela resposta de um funcionário da estação (e por uma matéria no jornal local), a previsão é que no final de Fevereiro já estaria os trens em "operação assistida" e em Abril / Maio a operação plena (tenho que revisar a matéria).
ExcluirTem um "Fepasão" por lá que de vez em quando vai na plataforma de embarque sentido Amador. Provavelmente ainda está em testes. Em outros momentos, ele fica parado na via lateral.
E a título de curiosidade, já vi alguns trens da linha 8 com uma retificação no mapa, colocando apenas as estações Santa Rita (a propósito, acho que ela deve estar com a foto errada recente ainda lá no seu site, sendo a foto a estação de Amador) e de Amador Bueno.
Sinto-me envaidecido por meu comentário ter sido valorizado em tão conceituado blog , onde idealistas lúcidos tratam do assunto caos ferroviário no país, mais uma das vergonhas nacionais...
ResponderExcluirTenho saudades de minha infância...Saudade essa que vem acompanhada pelo inconformismo de engenheiro mecânico, que sou , e principalmente de cidadão brasileiro por ver o CANCRO existente em nossa economia , que é a falta de ferrovias competitivas...Minha narrativa se dá por volta de meados dos anos 60...
Estamos falando de quase 50 anos atrás...Que vergonha!!!
Continue com sua missão Ralph e muita saúde e persistência em sua caminhada!!!
Antônio Marcelino Rodrigues-Itajubá- Mg