quarta-feira, 19 de março de 2014

SÃO PAULO: A GARGANTA DO DIABO E A CIDADE DE 1963

Mercado Municipal inundado - Folha de S. Paulo, jan/1963
Durante os primeiros dez dias de janeiro de 1963, a cidade de São Paulo esteve inundada em vários pontos, com o rio Tamanduateí e o Tietê inundando em boa parte de seu percurso. Uma ponte antiga desabou sobre o Tietê, cheia de gente, na Vila dos Remédios. O Campeonato Brasileiro de Seleções - este foi, se bem me lembro, o último que existiu - prosseguia pelo Brasil e Minas Gerais goleava os paranaenses na lama, eliminando-os do campeonato. A chuva não caía somente sobre nosso Estado.

Várias estradas brasileiras estavam bloqueadas pela lama - não eram asfaltadas. A Anchieta, a Regis Bittencourt e a Fernão Dias eram, mas estavam em petição de miséria. A BR-7 (BH-Brasilia) e Rio-Bahia (BR-2) se afundavam na lama e tinham o tráfego impedido na região de Paracatu e de Leopoldina, respctivamente.
Congestionamento para chegar à Marginal do Tietê - Folha de S. Paulo, jan/1963

A Linha do Cantagalo, via ferrea que ligava o Rio a Nova Friburgo e seguia até as margens do rio Paraíba, estava debaixo d`'agua em Boa Sorte, estaçào não muito longe de Friburgo. Esta linha seria fechada poucos anos depois.
Loja a ser demolida na rua Mauá, em frente à estação Julio Prestes em 1963 - Folha de S. Paulo, jan/1963

A construção da rodovia Itanhaém-Peruíbe seguia lentamente e a sua continuação até Pedro de Barros (confluência com a Regis Bittencourt) estava ainda engatinhando. Seria a solução para se fugir dos congestionamentos da via Anchieta para seguir para o litoral sul. Foi terminada não muito tempo depois, mas jamais foi uma solução para o que se pensava.
Desgraça: ponte de pedestres sobre o Tietê desaba - Folha de S. Paulo, jan/1963

No meio de tudo isso, a prefeitura de São Paulo estava alargando a rua Mauá, em frente à estação Julio Prestes e, para isso, estava tendo de demolir vários prédios entre a estação da Sorocabana e a estação rodoviária. Hoje, a rua Mauá está alargada, e em compensação (e não por causa desse alargamento), à frente da estação hoje da CPTM existe um praça e no lugar da ex-rodoviária existe um enorme terreno vazio onde se pretendia construir uma escola de dança, projeto abortado há poucos dias atrás e que, apesar disso, gastou aguns milhares de reais.em demolições recentes e projetos. O projeto da "Nova Luz"de hoje foi para o brejo e, pior, está há anos tomada pelos craqueiros da Cracolândia, que éxatamente ali.
A ~Gaganta do Diabo - Folha de S. Paulo, jan/1963

E a "Garganta do Diabo" do título, o que era? Era exatamente a rua Mauá estreita com velhos casarões e galpões antigos. Eu não conhecia esse termo, mas talvez porque jamais passasse por ali nessa época, eu, que tinha acabado de fazer onze anos de idade. E olhe que eu, pelo menos uma vez por mês, ia com meu pai para a Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras, onde ele lecionava e pesquisava Química na alameda Glette. Mas de casa até lá e vise-versa, não se passava pela Garganta do Diabo, que ficava um ou dois quarteirões "para lá".
As casas da "Garganta"sendo demolidas. À esquerda, a estação Julio Prestes - Folha de S. Paulo, jan/1963

Uma São Paulo bastante diferente de hoje, mas com as mesmas inundações e os mesmos congestionamentos - que se concentravam na zona mais central da cidade apens.

Um comentário:

  1. Que legal essa foto da "garganta do diabo"! Dá pra ver claramente os prédios em que hoje funcionam a Sec. Estadual da Cultura e ao fundo a Estação Pinacoteca... Realmente a rua Mauá, que começa bem ai, no final da Duque de Caxias, ficava super-estrangulada! Bem, eu devo ter visto essa inundação da região do Mercado, em Janeiro de 1963, mas é natural que não lembre: eu não tinha nem 15 dias de vida, certamente estava na rua 25 de Março nª 171, em um berço no apto 110 daquele prédio antigo curioso, que está lá até hoje. Valeu!

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