Trecho da Estrada do Ipanema, a uns 3 km do Alphaville. Foto minha.
Santana de Parnaíba, cidade bem antiga em termos brasileiros, foi fundada em 1580. Elevada a município em 1625, separou-se de São Paulo e teoricamente, para a época, tinha como território todo o resto do Estado como ele é hoje, com exceção apenas da região ao sul do Tietê, do Vale do Ribeira, do litoral e do Vale do Paraíba.
Cidades como Itu, Sorocaba, São Roque, não muito distantes de Parnaíba, ou São José do Rio Preto, Araraquara, Ribeirão Preto e Franca, também exemplos mais longínquos, um dia teoricamente pertenceram à cidade onde hoje eu moro. Em 1625, ao se tornar vila - hoje, município - separando-se de São Paulo, a cidade era o que se chamava de "boca de sertão". Isto fazia qualquer cidade crescer. Foi o caso desta. Porém, como ponto de partida de bandeirantes para o Brasil todo, pessoas que ajudaram o país a ter o tamanho que hoje tem, quando estes descobriram ouro em Goiás, Cuiabá e em Minas Gerais, ajudaram a despovoar a própria cidade.
A descoberta da imagem de uma santa em Pirapora (hoje, do Bom Jesus) também deslocou o centro de atenções de Parnaíba para lá. A partir do final do século XVIII, Parnaíba já era uma cidade sem importância, onde apenas a tradição unia os poucos que restavam e davam ainda alguma força à pequena vila de menos de mil habitantes em relação à já capital São Paulo.
As estradas que levavam ao sertão já não passavam pela pequena vila. O Tietê somente era navegável a partir de Araritaguaba - hoje Porto Feliz. Parnaíba estava isolada. A decadência era enorme no século XIX, mas o orgulho de seus moradores salvava a vila. Na verdade, já no século XX, em 1935, o município deveria ter sido absorvido por São Paulo, devido à sua renda insignificante. A tradição conseguiu evitar o fato a se consumar. Entre 1935 e 1959, a cidade perdeu os atuais municípios de Carapicuiba, Barueri, Cajamar e Pirapora do Bom Jesus, além de uma enorme área para Franco da Rocha e Caieiras.
Apesar de tudo isso, Santana de Parnaíba continuou ali com sua decadência sem fim. Esta decadência somente acabou com a "invasão" forçada de bairros que a cercavam, fazendo a população aumentar a partir de suas divisas para dentro. Dois bairros como a Fazendinha e o Alphaville, a partir do final dos anos 1970, incharam a cidade para dentro.
Mesmo assim, a cidade ainda é um núcleo não tão maior do que era o centro histórico em 1900, com diversos bairros afastados por matas e terrenos vazios. A Fazendinha e o Alphaville usam de estradas para chegar ao centro da cidade, hoje tombado pelo CONDEPHAAT (desde 1982) e com casas que ainda remontam aos séculos XVII, XVIII e XIX, afora várias do início do século XX.
A cidade passou de 3.000 habitantes em 1900 para 20.000 em 1980 e 120.000 hoje. Os espaços intermediários continuam. A área "rural" ainda não está muito longe de ser 50% da área total. Com isso, até há bem pouco tempo nomes de "estradas" ainda eram comuns.
A Estrada Tenente Marques, praticamente a única ligação com a Fazendinha, era a antiga estrada de Perus. A estrada que liga Alphaville com o centro sofreu modificações no traçado, mas basicamente já teve vários nomes: Estrada de Dentro, Estrada Velha de Parnaíba e hoje é a Estrada da Bela Vista. Quem pediu a manutenção desse nome fui eu, em 1997, numa carta a um vereador para passar para o prefeito. Esse era um dos antigos nomes dela e isso fez com que ela retornasse a possuí-lo - mesmo assim, trechos dela mudaram de nome, como, por exemplo, avenida Yojiro Takaoka.
A Estrada de Ipanema mantém o nome em alguns trechos - em parte, é hoje "avenida Valville". A Estrada do Lula Chaves também cedeu um trecho para a avenida Valville. A estrada velha de Itu passa muito longe do centro e mantém o nome no Coruruquara. A estrada "nova" de Itu foi construída em 1922 a partir de Barueri, aí sim, passando pelo centro da cidade e seguindo para Pirapora, Cabreuva, Itu e além - já foi Estrada de Rodagem para o Mato Grosso, depois Marechal Rondon e hoje é Estrada dos Romeiros até Pirapora.
Lembremos que a estrada que ligava Barueri ao centro de Parnaíba até 1922 teve partes dela absorvidas pela atual Romeiros. Um bom trecho dela é a atual rua Campos Salles em Barueri. Mas a partir de um certo ponto, subia para o largo da Cruz Preta não por onde sobe hoje, mas pela atual Sargento José Siqueira, depois pela atual avenida Capitão Francisco Cesar e finalmente saía na atual Romeiros ali perto do atual Parque Santana. Esse trecho final ainda se chama "Estrada Velha de Barueri". Estes trechos faziam parte da antiga "Estrada de Fora".
A Estrada do Jaguari liga esse bairro, perdido atrás do Alphaville e do Valville, à estrada Tenente Marques. Ela acompanha o rio Jaguari. Já pensou mudarem de nome? Para "avenida"? Para o nome de alguem?
Finalmente, a Estrada do Suru, que já foi da Capela Velha e até o meio do século XX a "Estrada de Araçariguama". Hoje as placas mostram "Estrada Turistica do Suru" (não tem nada de turística). O Suru é um bairro que exista há mais de cem anos, a meio caminho entre o centro e a rodovia Castelo Branco, onde a estrada acaba no km 42.
Os nomes ainda são usados popularmente. Há uma mistura de nomes para a mesma rua. Placas são raras. Mapas dizem cada um uma coisa. A numeração é confusa e dá margem a situações em que, mesmo numa rua curta, você se perde.
Curioso que isto é uma situação tão simples de se resolver, tão barata, mas a Prefeitura - não somente a atual, mas praticamente todas as antecessoras, nunca parecem ter se preocupado. Por que não mantiveram os nomes antigos e tradicionais? Aqui onde moro, atrás da minha casa, passava a "Estrada de Dentro", ainda passa, mas desde 1977, quando passou de picada a avenida larga asfaltada, se chamou avenida Alphaville e depois Yojiro Takaoka. Para que?
Por que não se arrumam as numerações? Por que se mudam nomes de ruas tradicionais? É tão difícil assim? O pior é descobrir que esse tipo de coisa não acontece somente em Parnaíba, mas em praticamente todas as cidades do Brasil.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
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Valeu pelas informações sou morador da cidade, e não sabia nem metade dessa historia. Obrigado :)
ResponderExcluirMuito interessante esse ensaio!!! Eu penso em algum dia poder morar na cidade e conhecê-la melhor, gosto muito de Santana de Parnaíba.
ResponderExcluirMuito interessante as matérias, preciso mapas, histórias, plantas dos córregos tudo que tiverem sobre Santana do Parnaiba no ano de 1930.
ResponderExcluirSobre a localização dos córregos: Taipinhas, Batatal, Caiú, Estrada ves.lha Parnaiba a Peru
Quem tiver mapas, plantas, hitória, toda informação é bem vinda sobre Santana de Paraníba de 1930, informações sobre córregos.Batatais, Taipinha, Caiú, Jaguary, e outros. Das estradas antigas
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