quinta-feira, 27 de março de 2014

93 ANOS DE ERNESTO GIESBRECHT


Papai (à esquerda) e seus irmãos, Ruth e Willi, por volta de 1940.

Hoje, 27 de março de 2014, é o dia em que meu pai, se vivo, faria noventa e três anos de idade. Ele, infelizmente, faleceu há dezessete anos, em 20 de julho de 1996, vítima de um enfarte fulminante. Ernesto Giesbrecht, professor titular aposentado do Instituto de Química da USP, sofria já do mal de Parkinson; se tivesse sobrevivido até hoje, se isto fosse possível, estaria certamente em péssimas condições. Ela já não estava bem naquela época, na verdade.

Foi uma tristeza. Papai era querido pela família, tanto a dele quanto a de minha mãe. Nascido em 27 de março de 1921 em Ponta Grossa, PR, mais precisamente no pário da estação de Oficinas, era filho de Hugo Giesbrecht, este nascido meio que por acaso na atual Jaguariúna, em SP, e de Rosina Klein, natural de Joinville, SC, que mal falava português na época em que se casou em 1920.

Papai teve mais uma irmã, Ruth, e um irmão, Willi (Guilherme), com o qual se dava muito bem. Estudaram todos em Curitiba e em Ponta Grossa - vovô era engenheiro da E. F São Paulo-Rio Grande e vivia mudando de uma cidade a outra - até que no início de 1934 tiveram de se mudar de Ponta Grossa para São Paulo (o destino inicial seria Joinville) de mala e cuia, depois de uma demissão política de meu avô que o deixou quase sem nada. Desembarcaram do trem numa cidade que não conheciam, num hotel perto da estação da Sorocabana na capital paulista.

Hugo era batalhador e conseguiu sobreviver e começar uma nova vida. Meu pai foi estudar no Liceu Coração de Jesus, que ele podia alcançar a pé de sua casa, primeiro na rua General sório e depois na alameda Glette. Talvez por isso, acabou por entrar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, nos anos 1940, que acabou dando origem ao Instituto de Química. O fato de falar alemão, aliado ao fato de sempre ter sido (sério!) o primeiro da classe no colégio e um dos primeiros na faculdade, levou-o a fazer diversos cursos no exterior financiados pela Universidade que, finalmente, fizeram-no ser o catedrático de Química Inorgânica já em 1962.

Papai casou-se com uma colega de faculdade dois anos mais nova que ele, Astrea Mennucci, filha de uma figura famosa na época em São Paulo e no Brasil: o professor, jornalista, geógrafo, historiador e escritor Sud Mennucci, em 1946. Nasci cinco anos depois.

Papai continuou sua carreira na USP, chegou a ser diretor do Instituto e foi cotado para ser reitor. Porém, nunca deixou de ser a pessoa simples e bem-humorada que sempre cativava a todos. Era uma pessoa extremamente educada. Falava sempre alemão com seus irmãos e com sua mãe, porém, bastava que alguém chegasse perto para que ele imediatamente mudasse a conversa para português - ele achava falta de respeito falar sem que as pessoas em geral pudessem entendê-lo.

Em 1995, ganhou a comenda da República das mãos do Presidente Fernando Henrique Cardoso - algo que, hoje em dia, não significa mais nada, mas que, para alguém nascido em 1921, era algo que lhe passava muita honra. Foi a Brasília, acompanhado de um orgulhoso neto, meu filho Filipe, pois sua saúde já inspirava cuidados. Ernesto, na verdade, já conhecia Fernando, dos tempos da FFCLUSP. Eles se cumprimentaram como velhos conhecidos. Posso imaginar o sorriso de meu pai ao conversar com ele.

Uma escolha infeliz, no entanto, apressou sua morte: a falta do que fazer depois de sua aposentadoria compulsória aos setenta anos em 1991. No dia seguinte ao retorno de uma viagem de uma semana a Itanhaém, um domingo de manhã, papai morreu em sua casa no Sumaré.

Mamãe costuma dizer que a data de seu nascimento é uma data de desgraças. Seu aniversário ocorreria dois dias depois da morte de papai. Ela se lembrava sempre que seu pai, Sud, havia falecido no dia do aniversário dela em 1948.

Fica na minha cabeça a saudade de papai, que me buscava na escola lá na Praça Roosevelt todos os dias por volta do meio-dia, de 1959 a 1966 e ia almoçar com todos nós em casa. Mamãe trabalhava ali perto e também era fácil para ela nos acompanhar. Com eles viajei de automóvel por boa parte do Brasil nas férias nos anos 1960: São Carlos, Piracicaba, Campinas, Porto Ferreira, Curitiba, Ponta Grossa, Joinville, São Francisco do Sul, Barra Velha, Porto Alegre, Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Araranguá, Rio Negro, Mafra, Lajes, Florianópolis, Salvador, Leopoldina, Governador Valadares, Recife, João Pessoa, Maceió, Aracaju, Paulo Afonso, Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, Santos, São Vicente, Peruíbe, Praia Grande, Itanhaém, Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal, São José dos Campos, Feira de Santana, Caruaru, Jaguariúna ("meu avô Wilhelm construiu a igreja da cidade em 1894", ele sempre dizia) e outras cidades que não me vêm à cabeça agora.

Papai, descanse em paz.

2 comentários:

  1. Saudades das viagens para Itanhaem e quando a gente passava a semana na casa deles quando vc e a mamae viajavam para p exterior! <3

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  2. Legal saber dessa história. Dia 27 de Março também é aniver de meu irmão Fábio...

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