Pátio ferroviário da estação antiga de Curitiba, em 1997, antes do shopping ocupar tudo (Cessão Paulo Stradiotto)
O Paulo, de Curitiba, é outro dos inconformados com a destruição da malha ferroviária brasileira; em particular, a da malha paranaense, por motivos óvios.
É curioso. A malha paranaense sofreu de início poucas baixas, sendo que, de todas as linhas erradicadas lá, apenas uma não o foi por causa da construção de outras linhas variantes: o caso isolado foi o ramal de Barra do Bonita e rio do Peixe, de 286 quilômetros, em 1969, que ligava o ramal de Paranapanema às minas de carvão do Cambuí.
Isso não significa, no entanto, que os trens de passageiros tenham sido passados para as linhas mais novas. Quando o foram, não duraram muito. Uma das variantes, a que substituiu (embora não de uma vez só) o ramal do Paranapanema, foi a linha de Apucarana a Uvaranas, em Ponta Grossa, aberta em 1975, jamais teve trens de passageiros; os do ramal de Paranapanema acabaram em 1979 e o transporte de cargas da mesma linha, em 2--1. No entanto, a linha ainda está lá, sendo percorrida casualmente por um auto de linha da ALL.
Curitiba - saída do pátio - anos 1950. O pátio está além do prédio da administração da RVPSC, visto à esquerda. Vê-se ainda os postes de eletrificação da Curitiba-Parabaguá, que funcionaram por pouco tempo com locomotivas elétricas Metropolitan-Wickers e nunca passou da metade do trecho. A linha da direita, cheia de vagões, é hoje o leito da avenida Afonso Camargo. A ponte preta está mais para trás na foto, não consegue ser vista. Cessão Paulo Stradiotto
Partes da linha da saudosa São Paulo-Rio Grande, que teve seu trecho construído no Paraná entre 1900 e 1908, foram extintas: Jaguariaíva-Itapeva e Irati-União da Vitoria, entre 1993 e 1996. O que sobrou, entre Jaguariaíva e Ponta Grossa e depois até Irati, continuou a operar entrando direto para Guarapuava pelo ramal e dali pela Ferroeste até Cascavel. Depois, o trecho Jaguariaíva-Piraí do Sul também fechou para cargas e hoje o trecho Ponta Grossa-Piraí que servia o ramal de Monte Alegre até Telemaco Borba, que operava até relativamente pouco tempo, não sei se ainda está funcionando.
Estou falando em cargas. O trecho, para passageiros, fechou e, 1983, depois das enchentes que assolaram o Estado nesse ano, e já operando apenas com trens mistos.
Há outros pequenos detalhes, outras linhas, mas, enfim, o único trem de passageiros que opera regularmente no Paraná é a linha Curitiba-Paranaguá, hoje em caráter turístico. Ela era diária. Não sei se ainda opera todos os dias. E, nos últimos anos, a operadora Serra Verde cancelou o tráfego entre Morretes e Paranaguá por falta absoluta de interesse da prefeitura desta última cidade.
Paulo me enviou algum material que dá tristeza ver. Conheço razoavelmente bem as linhas daquele Estado, e melhor ainda as linhas próximas à Capital, cidade que visito a trabalho, com alguma frequência, desde 2001. Quando cheguei a Curitiba em 2001, depois de doze anos sem visitar a cidade (e mesmo assim com muita rapidez), já encontrei o Shopping Estação construído sobre o antigo pátio ferroviário da cidade. A estação havia sido desativada em 1972, substituída pela atual estação rodoferroviária (a menos de um quilômetro dali, de onde partem hoje os trens para Morretes), mas seu pátio continuou sendo utilizado para manobras e estocagem de material rodante.
Isto, até cerca de 1997/8, quando começaram as obras de construção do atual Shopping. O pátio que pode ser visto na foto do topo deste artigo mostra ainda trilhos, material rodante e a velha estação desativada, esta à direita. Depois da minha visita em 2001, o Shopping foi aumentando sua área cada vez mais, sendo hoje um prédio de dois andares que cobre totalmente o pátio e encosta na estação - que somente pode ser acessada por dentro, ou seja, por sua plataforma. Nela estão instalados hoje um museu ferroviário e diversos pequenos restaurantes pertencentes ao shopping.
O que vocês preferem, um shopping fechado ou um grande campo aberto como era o pátio durante mais de cem anos? Na verdade, o pátio de que falo termina na rua Roosevelt, e, atravessando-a no sentido da rodoferroviária, ainda existe o velho prédio de administração da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (RVPSC), e, ao lado, a velha ponte preta, sobre a rua João Negrão, por onde saíam os trens da estação, tanto para Paranaguá, como para Portão e Ponta Grossa e ainda para Rio Branco.
A ponte preta e a loco #102. Cessão Paulo Stradiotto.
A ponte ainda existe. Não serve para nada, a não ser por sua beleza. Durante algum tempo, posava sobre ela a locomotiva a vapor de número 102 da RVPSC. Depois, a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária conseguiu a transferência da máquina para tracionar o trem turístico Piratuba, SC a Marcelino Ramos, RS. Mais recentemente, ela foi levada a Rio Negrinho, SC, outra sede da ABPF, para manutenção - ver fotos imediatamente acima e abaixo.
A locomotiva 102, mais recentemente, no pátio de Rio Negrinho, SC. Acervo ABPF.
E por aí vamos, com o Brasil vivendo suas ferrovias na saudade, com trens turísticos rodados por abnegados e as ferrovias que deveriam estar funcionando, pelo menos para cargas, já que o governo brasileiro tem verdadeira ogeriza a trens de passageiros, ou estão abandonadas pelas próprias concessionárias, ou rodando abaixo de sua capacidade por falta de manutenção pelo país afora.
segunda-feira, 31 de março de 2014
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O antigo prédio da RVPSC hoje está sendo transformado em Campus da UFPR.
ResponderExcluirhttp://globotv.globo.com/rpc/parana-tv-2a-edicao-curitiba/v/construcao-de-novo-predio-da-ufpr-revitaliza-bairro-reboucas-em-curitiba/2528743/
http://paranaextra.com.br/a-partir-do-ano-que-vem-a-ufpr-tera-novo-campus/
A primeira foto ali de cima não é o patio ferrroviario da antiga estação e sim a atual rodoferroviária
ResponderExcluirÉ uma pena ver a malha ferroviária se degradando. Uma pena que nossos governantes esqueceram de investir num patrimônio como é a malha ferroviária ferroviária do Brasil. Menos poluição e mais conservação
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