Locomotiva diesel da Supervia em Saracuruna, ponto final das linhas elétricas e local de entrada no ramal de Vila Inhomerim: dali até Inhomerim ou Gaupimirim, sem eletrificação (Custódio Coimbra, O Globo)
Já há tempos que os ramais de Vila Inhomerim e de Guapimirim, na área metropolitana do Rio de Janeiro, são operados de forma desleixada pelas concessionárias. Ambos são heranças de antigos ramais: o primeiro, da Leopoldina, era uma das linhas mais importantes do Estado, posto que levava à cidade de Petrópolis e ali, além de seguir para cidades mineiras como Ubá e Cataguases, ainda mantinha linhas com trens que trafegavam pelos subúrbios da cidade serrana. O segundo era de uma ferrovia por muitos anos particular, depois açambarcada pela Central e no último ano de operação, pela Leopoldina, e que seguia para Teresópolis, outra cidade serrana de destaque. Essas linhas cessaram a operação em 1964 e 1957, respectivamente.
Delas sobraram apenas os trechos da baixada: as atuais estações terminais, não por coincidência, tinham como nomes originais "Raiz da Serra". Assim que extintoas as linhas, iniciou-se a operação dos trechos que sobraram: Saracuruna-Vila Inhomirim e Magé-Guapimirim.
Com o passar do tempo, rapidamente a operação foi piorando. O primeiro foi dado em concessão à Supervia, em 1998. O segundo ficou com a CENTRAL, que nada tinha a ver com a saudosa Central do Brasil e que deveria ter sido a CPTM fluminense. Por algum motivo, esta jamais investiu em coisa alguma nas linhas que operou por pouco mais de dez anos: este ramal, a linha Niterói-Itaboraí, esta extinta em 2007 e os bondes de Santa Teresa, que, como se sabe, parou depois de um acidente com mortes em 2011.
Pois é. Se durante anos a RFFSA, depois a CBTU, operaram de forma vagabunda e sem demonstrar respeito pelos usuários essas linhas, o que aconteceu depois da privatização de 1998 não melhorou as coisas. A Supervia assumiu o ramal de Vila Inhomirim e, catorze anos depois, não o eletrificou, continuando a operar com trens diesel e estações que são verdadeiros muquifos - a maioria, apenas paradas, como os velhos estribos de antanho.
Já a CENTRAL só não acabou com tudo por mero acaso, pois a outra linha que ela operava - a de Niterói - era de qualidade com tudo que era pior: trens trafegando com portas abertas, manutenção zero, estações e estribos totalmente abandonados, horários nunca cumpridos, sujeira e tudo o mais que se possa esperar. Os bondes, deu no que deu.
E teve também catorze anos para melhorar. Jamais, no entanto, fez absolutamente nada. Como firma do Estado, tinha um dever a cumprir, mas não dava a mínima para os passageiros e o governo do Estado também pouco se importava em cobrar. Há dois ou três anos, a linha passou para a Supervia. A situação não melhorou muito, mas parece que, pelo menos manutenção é dada.
Todos que conhecem um pouco sobre transporte ferroviário sabem que, para se ter trens metropolitanos decentes e com velocidade aceitável - no mínimo 70 km/hora - é necessário trens elétricos. Eletrificação que, em catorze anos, não foi nem iniciada. Resultado: os trens andam a 25 quilômetros por hora. Janelas não fecham. Carros balançam mais, imaginem com passageiros em pé. Para se ter uma ideia, os trens de Mauá, que passavam por parte da linha de Vila Inhomerim em 1854 e que foi a primeira linha do Brasil, andava a 36. A locomotiva era uma das mais antiquadas máquinas a vapor, uma delas, a Baronesa, preservada até hoje em museus.
É muita falta de vergonha na cara de um governo e de uma concessionária. O primeiro, por não respeitar seu povo, apesar de vomitar eficiência; a segunda, por ter muito dinheiro e continuar mantendo o padrão Supervia do dono anterior - para quem não sabe, a Odebrecht comprou a Supervia há pouco mais de um ano.
E tem gente que reclama da CPTM. Se esta aportasse com seus trens, linhas e eletrificação pelo menos nesses dois ramais fluminenses, certamente seria recebida com flores. Vergonha!
domingo, 10 de junho de 2012
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Ralph, você está se equivocando: não leve em conta essa reportagem sensacionalista dizendo que "trens de hoje são mais lentos do que a primeira locomotiva do Brasil". Isso não é verdade, ambos os ramais não tem demanda que justifique a eletrificação. A Supervia assumiu o Ramal Guapimirim no começo de 2011, e está aos poucos realizando melhorias: alugou mais 3 locomotivas (duas G12 e uma G22U) e reformou todos os carros Pidner que tinham disponíveis. Uma nova composição formada por uma G12 e mais três carros Pidner reformados começou a operar a menos de um mês, e pelo que vi, está rodando em uma velocidade considerável.
ResponderExcluirAcesse meu blog: thalesveigastrainworld.blogspot.com
Não concordo com v. A reportagem pode ter errado na velocidade, mas 14 anos de espera sem nada fazer é absurdo. Mostra incompetencia do governo e da concessionaria, seja ela quem for. Ficaram olhando a Supervia e a Central (Esta do proprio governo) não fazer nada e tratar os usuários desse jeito? Falta de demanda não justifica falta de investimento. Se v. mantém o ramal, v. tem de mantê-lo decentemente. e isso inclui eletrificação. Não há meio termo. Abraços
ExcluirEu também não concordo com v. eu viví neste ramal até 1985, como disse o amigo Gilson (Jd. Primavera) as composições de trens eram compostas com 4, 5 e alguns até com seis vagões, a Vmax em grande parte do trecho neste ramal entre Saracuruna e Vila Inhomirim superava os 70 km/h com U5, U12, U13 entre outras que utilizei neste ramal nos anos 60 e 70, hoje é o tempo do apocalipse neste ramal devido ao descaso da atual operadora, isso de dizer que a "falta de demanda não justifica investimento" é papo furado de quem não tem qualificação para desempenhar e cumprir aquilo que acordado fora no ato da concessão, nos anos 70 e 80 existiam trens com intervalo entre 10 e 15 min nos horários de pico e quase sempre lotados, o que falta mesmo é vergonha na cara de quem administra a atual operadora ferroviária pois ao assumir as operações ferroviárias nos subúrbios do grande Rio ela se comprometeu a manter e atualizar nivelando todos os ramais com os mesmos serviços.
ExcluirAntes de ser Central, era Flumitrens, que sucedeu, no Rio, a CBTU.
ResponderExcluirOlá, Ralph
ResponderExcluirMoro em Jardim Primavera, uma estação antes de Saracuruna, mas tão perto que de manhã ainda ouço o apito da locomotiva a diesel saindo de Saracuruna.
Sou usuário desses dois ramais (vou constantemente à Nova Marília, ramal de Guapi e Piabetá, Raiz da Serra) desde 1975 quando eram administrados pela RFFSA e nessa época os trens andavam no horário e em boa velocidade. Hoje não é mais assim, os horários são poucos, confusos e não confiáveis. A lentidão das locomotivas deve-se não só a idade delas, mas principalmente ao abandono do próprio leito da ferrovia. Tomado de mato pelos lados, com várias passagens de pedestre pelo caminho. Passagens de nível, mal sinalizadas, pessoas e motoristas mal educados que insistem em tentar passar na frente do trem antes dele passar, como se ele fosse enorme a ponto de você ficar 5 min esperando pela passagem do mesmo. Existe sim, demanda pelo serviço desses ramais. Trabalho numa empresa a mais de 20 anos e os funcionários vinham de Magé, Piabetá, Fragoso, Irirí, Jororó, Parada Modelo etc..., e vinham de trem, mas a situação ficou tão caótica que eles passaram a vir de ônibus. Ora, estamos em 2012 e já passou da hora de cercar com muros a linha, em área urbana, fazerem a manutenção decente do leito da linha (dormentes, trilhos, sinalização, mato etc...) e principalmente horários confiáveis de manhã e a tarde na volta do trabalho, ou seja, funcionar como transporte de passageiros mesmo e não como algo que a supervia e o governo tem que manter a custo de grande sacrifício nem sei por quê? Contratos? Votos?
Seria sonho colocar VLT’s??????
Todos têm direito a opinião, essa e a minha... Abraço.