Em frente à antiga estação da Mogiana, na rua General Osório e perto da antiga cervejaria, o belo prédio espera a reforma ou a morte. A história não pe sobre ele, mas ao seu redor. Foto Ralph Giesbrecht, 2007
O que se fala hoje em Ribeirão Preto é a demolição da antiga cervejaria da Antártica para se construir um shopping center no local. O quarteirão é enorme, e fica junto ao centro comercial da cidade, num local hoje deteriorado como o são quase todos os centros de cidades grandes.
A construção de um horrendo shopping ali pode levar à revigoração (como as prefeituras vêem isso) da área ou não. Pode inclusive acabar com o comércio popular do centro, o que seria péssimo para muita gente, mas poderia também acabar deteriorando o próprio shopping.
Nos anos 1960, insistiu-se para demolir a estação ferroviária de Ribeirão Preto, um prédio então de mais de sessenta anos, para se construir uma rodoviária. Embora tenha demorado bastante para isso acontecer, efetivamente ocorreu. Hoje, trinta e seis anos depois da inauguração da rodoviária em 1976, o local está mais deteriorado do que nunca.
Embora os comerciantes dissessem que isso traria a revigoração do local e todos sairiam ganhando, não foi exatamente o que ocorreu. A região que na época estava em início de decadência, hoje está bastante deteriorada, por causa da horrenda rodoviária que substituiu todo um complexo ferroviário que deveria ter se tornado um imenso parque central (para quem não sabe, as linhas ali deixaram de ter função com a remoção das linhas da Mogiana para o outro lado da cidade e a desativação de fdois ramais que dali saíam). Imaginem os senhores todas as casas antigas e históricas da Mogiana mantidas, estação, oficinas, galpões, casas e a rotunda, com seus trilhos e um imenso gramado com árvores no local.
A experiência corre o risco de se repetir. Nunca vi um povo como o brasileiro que goste tanto de derrubar a história para construir avenidas e shopping centers. Haja shoppings, realmente. Deixa-se de caminhar ao ar livre para entrar no ar condicionado de túneis como os dos centros comerciais. Eu nunca gostei, mas certamente sou exceção.
Enquanto isso, ali ao lado da rodoviária, que fica ao lado dos prédios da cervejaria, está também há anos uma locomotiva a vapor que simboliza, segundo moradores do bairro da Vila Tibério e outros de fora dele, uma das únicas lembranças da Mogiana que ali estava em tempos de outrora. O fato é que a máquina jamais pertenceu à Mogiana e jamais rodou em Ribeirão Preto. Pertencia a uma ferrovia de uma fazenda particular desativada em Santa Rosa do Viterbo no final dos anos 1960... ora, se é para ter história, que seja a história correta. Isso, fora o fato de a locomotiva estar a se estragar ao relento. Como é de ferro, obviamente enferruja e serve de depósito de sujeira de pombos e mal-tratos de transeuntes.
A Prefeitura conseguiu verba para pintá-la novamente, etc. Sempre em vésperas de eleições. De qua adiante pin tar? Se ela fosse conservada em ambiente interno, seria muito melhor. Poderia também colocá-la não ali, mas ao lado do sempre prometido e nunca entregue Museu Ferroviário da cidade, na estação do Barracão, que ainda tem seus trilhos mas está fechada há anos e não tão longe dali. Mas isso significaria tirar a máquina da Vila Tibério. Estrague, mas fique ali...
Finalmente, os prédios mais antigos da cervejaria poderiam eles ser o shopping. São pequenos para tanto? Bom, que se os deixe em meio a outras construções. O problema é que shoppings ultimamente têm sido construídos ocupando quase toda a área disponível - e neste caso é uma área grande - e aí, tornam-se monstrngos que parecem dar a impressão de que vão desabar sobre os passantes, de tão próximos que ficam das calçadas. E as construções que sobrevivessem ficariam bastante escondidas, infelizmente. Os automóveis, como sempre, não caberão nos estacionamentos construídos e tudo piorará. E por aí vai, a série de erros de sempre. E a memória da cidade se esvaindo por falte de planejamento, interesse, vergonha, mas não por falta de dinheiro, como sempre.
terça-feira, 26 de junho de 2012
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Ralph, excelente artigo! por isto que eu sigo você por 10 anos.... existe outros prédios abandonados.... Casarão Caramuru, Ciane que pegou fogo! ou colocaram? também na saída para Sertãozinho na beira da Avenida Bandeirantes estão lá os antigos casarões de café...um está em pé! já o outro quase demolido!
ResponderExcluirRalph,
ResponderExcluirParabéns pelo artigo. É exatamente o que acontece por esses canaviais. Já temos diversos exemplos de que essa forma de agir apenas intensifica os problemas, mas a verdade é sempre ignorada em favor das negociatas e politicagens que andam de mãos dadas com essas "soluções mágicas". E por aí vamos, ouvindo a torto e a direito, lendo em anúncios de pagina inteira nos jornais locais, vendo na TV que a prefeitura está fazendo tudo, mas não faz nada e o pouco que faz é besteira. Temos que agüentar um vereador leguminoso, que para mal dos pecados é genro da prefeita, vociferando contra os últimos remanescentes de via férrea da cidade, enquanto todos com um mínimo de consciência pregam o uso da via férrea como solução de modalidade urbana. Temos as lideranças tiberenses chorando a perda da lendária estação da Mogyana, da rotunda e de todo o pátio, denunciando essa que foi a maior besteira institucionalizada da cidade, mas batendo palamas para o "bota-abaixo" da gloriosa Antárctica, tal como tempos atrás explodiram de alegria com a destruição do conjunto da Mogyana. Depois que a tradicional cervejaria (até onde se sabe a fábrica mais antiga ainda existente no país), os mesmos que hoje aplaudem o anúncio de sua demolição irão choramingar que a alma tiberense foi perdida. Quem sabe se satisfaçam com uma grande garrafa de Stella Artois sobre um pedestal na pracinha em frente. E que ninguém queira tocar na sacro-santa garrafa, e nem na locomotiva.
Abraços.
Bom, Denis, v. sabe quem inspirou este texto.
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