Placa ainda existente até uns seis anos atrás. Foto minha. O mourão branco ainda existe. A mata de araucárias virou um terreno baldio. O número 1809 era do terreno, não uma data.
Passei outro dia pela rua Vergueiro. Sempre me lembro de minha tia, que morava lá no 2024 - entre a pequena rua Tamoio e o Largo Ana Rosa e que teve a casa demolida em 1969 para o alargamento da rua e construção do buraco do metrô, num tempo sem tatuzões.
Lembro-me da casa onde eu fui dormir várias vezes, cujos quartos tremiam - eram no segundo andar e não havia laje, era tudo madeira - quando passavam os ônibus na rua estreita de paralelepípedos, em alta velocidade no sentido centro. A rua tinha mão única.
O alargamento da rua foi feito somente até onde hoje se inicia a avenida Noé de Azevedo, que não existia e foi cavada entre as casas por causa do buraco do metrô que se fez embaixo do seu atual leito. Ela une a Vergueiro e a Domingos de Moraes. Depois disso, a rua segue estreita como era no 2024 e como sempre foi.
Assim ia até a rua Conde de Irajá, alguns quarteirões mais à frente. A partir daí, era Estrada do Vergueiro. Até São Bernardo e depois. No início dos anos 1970 o nome da rua passou a ser rua Vergueiro para toda sua extensão - pelo menos dentro do município de São Paulo. Sumiu a poética Estrada do Vergueiro, como sumiram diversos nomes "estrada" no município. Os que ainda existem são poucos, como a Estrada do M´Boy Mirim, por exemplo.
Como a rua Itapaiuna, no Morumbi, ali onde hoje existe uma das duas sedes do Colégio Visconde de Porto Seguro e o enorme condomínio "chic" Villaggio Panamby. Essa rua se chamou até não tanto tempo assim, Estrada do Morumbi. Nada a ver com a atual avenida Morumbi. Ou talvez sim, pode ter sido um antigo curso, mas em tempos bastante remotos. Esta estrada começava junto à ponte da João Dias, na antiga Estrada de Itapecerica. Em mapas mais antigos encontra-se, para a mesma rua, o nome Estrada da Penhinha. Para quem conhece, havia também a Parada da Penhinha no trem da Sorocabana (hoje linha 9 da CPTM), do outro lado do rio.
Por que esses nomes tão cheios de poesia desapareceram do mapa? Para que o nome Itapaiuna? "Estrada" leva a histórias. Itapaiuna leva a que? Seja qual for o significado do nome indígena, se a rua tinha um nome, para que mudar? E - podem apostar - a rua um dia vai ter o nome de algum político, principalmente porque boa parte dela está sendo alargada.
Aliás, falaram-me um dia que os nomes "estrada" mudaram para "avenida" ou "rua" por causa da Prefeitura, que teria uma norma onde "avenida" pode cobrar mais IPTU do que "rua", que pode cobrar mais do que "estrada". Será, ou terá sido, verdade? Se não, por que trocar "estrada" para "rua" ou "avenida"?
Nomes tradicionais de estradas e bairros foram mudados para outros, muitos para "nomes de gente" que, geralmente, não merecem ter seus nomes nelas. Para que? Um dos nomes mais bonitos da velha São Paulo era a "estrada do Chora Menino". Lá em Santana. Hoje o nome é outro. Por que? O próprio bairro do Chora Menino não é mais chamado assim.
Por onde anda o largo do Piques (praça das Bandeiras), o largo do Zunega (largo do Paisandu), a rua da Palha (7 de Abril), a rua do Paredão (Xavier de Toledo), Estrada Velha de Santo Amaro (Avenida Santo Amaro e av. Adolfo Pinheiro), avenida da Traição (Bandeirantes)... e muitos afora.
Chora, menino! Perdeu-se a poesia de São Paulo!
terça-feira, 19 de junho de 2012
POESIA PERDIDA
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Olá, gostaria de saber se vocês possuem algum material que possam disponibilizar referente à retirada dos trilhos do trem do centro de araçatuba. Estou fazendo um trabalho de graduação na unesp sobre o tema, mas o material é muito escasso. Desde já agradeço!
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