sexta-feira, 4 de março de 2011

A FARSA DOS TRENS TURÍSTICOS

A estação de Herval do Oeste, em Santa Catarina, em 1983: inundação da linha causou a supressão definitiva dos trens de passageiros (Autor desconhecido)

Recebi ontem da vereadora Onira Betioli Cibtek, da cidade paulista de Peruíbe, um e-mail com notícias e fotografias da re-inauguração (com hífen? Sem? Sinceramente, não tenho mais paciência de ver o que a quingentésima e inútil reforma ortográfica diz a respeito) da estação ferroviária da cidade. Recebi e agradeço a lembrança. Provavelmente ela me enviou pensando em que eu possa atualizar a página referente a esta estação em meu site Estações Ferroviárias do Brasil - o que farei. Houve uma cerimônia em 17 de fevereiro à qual compareceram diversas pessoas do município.

Também chegou-me ontem, enviado por João Paulo Lemisz, da região da antiga E. F. São Paulo-Rio Grande no trecho em que ela acompanha o rio do Peixe em Santa Catarina, trecho conhecido hoje por lá como "Ferrovia do Contestado", uma notícia publicada em 28 de fevereiro último em jornal não identificado e também da região. Por ela, soube que vereadores da cidade de Herval d´Oeste rejeitaram um projeto de reativação da ferrovia no município para fins turísticos.
Estação de Rio Acima em 2003, já sem movimento de trens, mas bem conservada (Foto Gutierrez L. Coelho)
E hoje chega uma outra notícia sobre a possibilidade de implantação de um trem turístico entre as estações mineiras de Rio Acima e Honório Bicalho, na região de Belo Horizonte. Esta foi a única notícia sobre o assunto, das três aqui citadas, que não veio especificamente para mim.

Bom, e o que é que eu achei dos três casos? Qual a minha opinião sobre tudo isso? Na verdade, restauração ou reforma de velhas estações que não têm mais essa função e implantação de trens turísticos são notícias comuns nos últimos, talvez, vinte anos. Apesar de existirem alguns poucos trens turísticos regulares hoje em dia no Brasil - não estou aqui contando os que já existiram e foram extintos - e que são bem-sucedidos, sou, sinceramente, contra a implantação de novos desses trens, a não ser em casos muito específicos.

Não vou aqui neste artigo comentar sobre os existentes (somente como exemplo, uns dos que aprovo são os da CPTM e os da ABPF, por motivos diversos). Atualmente, depois de analisar por 15 anos a situação das ferrovias em geral no Brasil, afirmo que trem turístico, em geral, é uma enganação. É uma enganação, por exemplo, implantar-se trens turísticos em Rio Acima e em Herval d´Oeste. Não sei qual foram os motivos que levaram os vereadores desta última cidade a recusar esse projeto, mas eles estão certos na recusa. Um deles, aliás, chega a dizer algo que, em resumo, ou se implanta um trem decente que atenda as necessidades da população, ou não se implanta nada.

Afinal, trens de passageiros regulares, bem ou mal, atenderam a região do Contestado por 73 anos - acabaram ali em 1983 - e foram extintos por absoluta falta de interesse da RFFSA em sua operação - interesse que não era necessariamente o da população local, que se utilizava ainda do trem quando de sua extinção. E deveria continuar existindo. Os últimos trens dessa linha eram trens regionais. Ninguém, em sã consciência, devido ao mau serviço, utilizava-se deles para ir, por exemplo, de Itararé a Marcelino Ramos (início e fim da linha da São Paulo-Rio Grande). Nos últimos anos de operação, composições curtas e provavelmente deficitárias serviam a passageiros que como trens regionais, deles utilizando-se por pequenas distâncias. Eram deficitários porque a RFFSA jamais pensou neles como trens regionais ou metropolitanos. Seus dirigentes foram totalmente cegos neste sentido, sabe Deus o por quê. E a população ficou sem o trem.

Em Rio Acima, a Rede encerrou as atividades de um trem suburbano que cortava Belo Horizonte de leste a oeste até aquela cidade no ano de 1996, sem desculpa alguma, privando a cidade da área metropolitana de BH desse trem e não dando nada em troca. Inclusive, abandonou a linha, hoje em frangalhos e já sem uso já há pelo menos dez anos, não servindo nem para cargueiros. Agora vão fazer trens turísticos para que? Para que uma pequena parte da população mate a saudade uma vez por semana ou por mês num trem a vapor? Ora, por favor! Isso é colocar um nariz de palhaço nos habitantes locais.
Estação de Peruíbe, em início de reforma em 2009 (Foto Alex Pisciotano)
Finalmente, Peruíbe: ali não se fala hoje em trem turístico, mas basta lermos alguns trechos da reportagem ("Emoção marca entrega da restauração da Estação - Numa cerimônia cheia de emoção, foi entregue à comunidade (...) a restauração da Estação Ferroviária de Peruíbe e nela inaugurado o Arquivo Municipal da Cidade (...) Com a presença da prefeita (...), da vereadora Onira Betioli e (de) outras autoridades, a solenidade contou com a presença de famílias tradicionais da Cidade, em especial dos antigos ferroviários, que foram homenageados com um quadro alusivo à data (...)"), para notarmos que, se há saudade dos velhos tempos, há também saudades do transporte por trem. E deve haver moesmo, pois o litoral sul sempre - e até hoje - tem más opções de estradas e de transporte. O trem desenvolveu a região a partir de 1915 e foi desativado pela FEPASA no final de 1997 ainda com alta ocupação. É uma vergonha, portanto, que se tenha abandonado uma estação que tinha bom movimento até 14 anos atrás para somente hoje ser re-inaugurada com uso completamente diverso porque durante todo esse tempo ninguém teve o que seria a melhor das ideias: trazer o trem Santos-Juquiá de volta. Ele ainda é necessário.

10 comentários:

  1. Ralph, na boa esse negócio de trem turítico, já deu o que tinha que dar!!!! hoje eu defendo á volta deles, mas para uso da população na sua grande maioria!!!politicos são piada de mau gosto....

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  2. Sim, eu concordo - veja o que escrevi... foi exatamente isso. Há exceções, mas sou contra fazer-se-os a torto e a direito. Se bem que a enorme maioria dos anunciados não sai mesmo... veja o da São Paulo-Minas, que anunciaram por aí, e tb o de Sertãozinho. Precisa mesmo é dar transporte ferroviario decente para a população. Contínuo. Regular. Sem a pecha de "turístico".

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  3. Ralph, eu já fui membro da Associação do Trem Café com Leite!!! e de fato o que aconteceu até hoje nada!!!!! a SPM continua abandonada....se alguèm duvidar entrem no meu orkut!!!! na boa não quero estragar o sonho dos outros!!!! eu também já fui membro da AMPF que está cuidando de Sertãozinho e Pontal !!! imagine já estou fora por conta de politicagem!!!! minha idéia... ou volta o trem para á população !!! ou então não volta pra ninguém..... hoje sou á favor do transporte contínuo e regular fora isso é apenas sonhos!!!!!

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  4. E pensar que minha mãe, literalmente, enfiava à mim e aos meus dois irmãos (12, 10 e 9 anos) num trem em SP, para chegar ao fim do dia em Peruíbe, prá curtir as férias...
    Em Londrina (PR) estão em discussões dilatadas sobre o regional TREM PÉ VERMELHO (com hífem, sem hífem?), baseado em estudos do BNDE de 15 anos atrás, o qual incluiu outros 4 ou 5 núcleos de adensamento urbano Brasil adentro.
    Río-me à larga, com os "valores estimados", em contas feitas por Escoteiros (ou Lobinhos, talvez) acampando...
    Coisa aí, de 5 ou 6% dos valores reais estimados.
    O estudo quer por que quer usar em comunhão de bens com a ALL e mais seus 18 Cargueiros Diários (um deles, com 90 Vagões!), a serpenteante bitola métrica de Londrina à Maringá, peripécia de 4, talvez 6 horas, mas feita em 59 minutos indo por asfalto de veludo dos bons.

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  5. Christian, ao mesmo tempo que o projeto Londrina-Maringá é pelo menos um trem regular e não turístico, ele é inviável, se leva mais de 20% do tempo estimado de carro para fazer o mesmo percurso. Linhas de passageiros, hoje, só mesmo novas. E trens regionais podem aproveitar uma linha mais antiga, mas não com cargueiros enchendo o saco... é complexo. Mas que o governo não trata essa questão com seriedade, não trata mesmo. Por isso desvia a atenção propindo "trens turisticos"...

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  6. Bom sr Ralph concordo plenamente com que sr diz e acrescento trem turistico viro negocio da china descobriram isso e vejo hoje grupos criandro entidades de preservação sem nenhum fundamento apenas para angariar material rodande do dnit proveniente da rede para fazer seus trens turisticos totalmente fora de conceito (locomotiva vapor da rmv puxando carros inox efs, etc...) pra granhar dinheiro 6duzia ficando ricos encima disso assim fica facil crio uma associação granho material do governo ganho lenha arrumo uns voluntarios e cobro 60 conto por cabeça pra andar no meu trem pra onde vai essa grana?

    chega de demagogia e de arrementos turisticos precisamos de trens de passageiros de verdade se bem que ja perdi as esperanças, com proximidade da copa e olimpiedas nao se fala nada de trem pra lugar nenhum com toda essa neseccidade nao se fala de trem entao meu amigo quando vao falar?

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  7. O caso de Herval d'Oeste é diferente. Acontece que as águas termais de Piratuba seria uma excelente objetivo desse trêm turístico.
    Com pouco investimento e programas especiais com idosos, principalmente estaria viabilizada. Até mesmo com uma parceria com a Rota da Amizade e a Rota Italianas, e mais, o Turismo de Treze Tilias.
    Se implantar vai se dar bem se as autoridades e as funções de Diretores de Turismo dos mais diversos Municípios, todos escontados um do outro, não for somente cabiudes de emprego.

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  8. Mario, trens turisticos não traz turismo. O turismo é que o promove. Piratuba já era uma cidade turistica, com suas termas. Sem trem pouquissimo vai mudar. O trem apenas ajuda a ser um entretenimento a mais para eles. Pouca gente vai a Piratuba andar de trem apenas (como eu fui, de S. Paulo, que está a mais de 600 km - mas eu adoro trens e ferrovias)

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  9. Pra mim o problema mais granve ainda e o aluguel de propriedade publica isso e crime grave e mecere ser investigado a fundo é um absurdo

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