sábado, 26 de março de 2011

TEMPO RELATIVO

Primeira Guerra Mundial - França
Há dez anos atrás, houve o ataque às torres gêmeas em Nova York. Há vinte, estourou a Gurra do Golfo. Há trinta e sete, a guerra do petróleo entre Israel e o Egito. Há quase cinquenta, a crise dos mísseis dos EUA e Cuba. Todos fatos dos quais me lembro, alguns mais, outros menos, mas lembro-me disso acontecendo. Pelos jornais e pela televisão, claro.

Não parece tanto tempo assim, para mim, mas, de trás para a frente, na crise dos mísseis, eu tinha apenas dez anos de idade. Era um mundo diferente não somente no que me cercava, mas também em como eu percebia a realidade. Afinal, era uma criança. 49 anos atrás, eu apenas acompanhava e não tentava entender por que as coisas aconteciam. Mas 49 anos são sempre 49 anos, certo?

Errado. O conceito de tempo, pelo menos para mim, varia dependendo principalmente de dois fatores: primeiro, eu já estava vivo na época. Segundo, eu não era nascido. Parece que tudo muda no ano de 1951, assim como tudo parece mudar depois do ano de 1956, ano do qual começo a me recordar de minha vida. Entre 1951 e 1956, tudo que sei de minha vida são contados pelas pessoas que me conheciam e cuidavam de mim, ou por fotografias. Apenas alguns flashes me vêm à memória às vezes, mas não dá para ter certeza se são de uma visão real ou... ? Não sei se é assim com todo mundo.

Portanto, 49 anos para trás, para mim, em 1965, por exemplo, quando eu tinha 14 anos, me levam ao ano de 1916 - Primeira Guerra Mundial! Naquela época, para mim, isso já eram tempos remotíssimos - mas não me parecem tempos remotíssimos aqueles em que, 49 anos atrás a partir de hoje, eu ainda estava estudando no ginásio do Colégio Visconde de Porto Seguro. Por que será que isso acontece?

Outra coisa curiosa é que, quando me recordo da Guerra do Golfo, por exemplo (1991), tento me recordar como estava minha vida nessa época. Onde eu trabalhava, que idade tinham meus filhos, o que minha esposa estava fazendo... essas coisas. Às vezes eu me surpreendo quando junto os cacos: "puxa, mas nessa época é que foi a guerra? Nem lembrava que, nesta memsa época, eu estava fazendo isso ou aquilo".

São apenas constatações que mostram que o tempo parece passar de forma diferente de acordo com a época. Outro dia estava eu vendo um filme ambientado em 1935 (mas produzido no final dos anos 1980). Não parece uma coisa tão diferente de hoje, no sentido em que já havia automóveis, telefones, aviões, rádio, casas, prédios, pessoas vestindo roupas não tão diferentes das atuais (lembrando que moda é moda)... até televisão já existia, embora fosse algo raríssimo (basta lembrar que a coroação do rei Jorge VI da Inglaterra, em 1937, foi televisionada). Eram, no entanto, rudimentares em comparação ao que existe hoje, mas já os havia!

Porém, olhar algo em 1900... aí, sim, parece muito diferente! Não havia automóveis, aviões, radio, televisão, a moda era muito diferente da que começou a surgir depois da Primeira Guerra... telefone havia, mas era tão raro que somente pouca gente os possuía. As casas eram cheias de adornos (bonitas, pelo meu gosto!), prédios tinham no máximo 3 ou 4 andares... Era a Idade da pedra!!!

3 comentários:

  1. Tudo o que você falou está num romance fascinante de Proust : "La recherche de temps perdue". Já leu ?

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  2. Também tenho essa mania de comparar o tempo... e é isso mesmo, coisas pré-1962 (quando comecei a me entender por gente) são anti-diluvianas e pré-1958 (quando nasci) são pré-históricas ou mesmo pré-vida na Terra...

    Também tenho a vaga impressão de que, depois da disseminação da eletrõnica e do automóvel, as coisas não mudaram taaaanto assim nos locais onde isso ocorreu. A transição que vi durante os anos 1960 no Brasil - do transporte público para o individual, a ascensão da TV - implicou em mudanças de comportamento que não vi em nenhuma outra década posterior, ao menos não com tanta intensidade. Acho que também a evolução cultural (melhor seria dizer choque) dos anos 1960 foi um progresso (?) que não se repetiu com tanta intensidade nas demais décadas. Será que afirmaremos o mesmo a respeito da internet nas próximas décadas?

    Mas às vezes acho que isso é coisa de velho. Eu ouço Beatles no rádio e acho que são canções praticamente contemporâneas. Mas, na verdade, são músicas chegando rapidamente aos seus 50 anos de idade. Isso seria equivalente a ouvir, na década de 1960, sucessos de 1915. Na época, sob qualquer padrão, seria considerado coisa do "tempo do onça". Mas creio, apesar da minha idade, que Beatles estão longe de ser coisa do "tempo do onça". Tenho a impressão que isso ocorre com as músicas mais recentes, das décadas de 1970, 1980 - mas, curiosamente, não com as músicas da década de 1950, que me parecem realmente "vintage" (ainda que não obsoletas).

    Então, será que teria havido uma "estagnação" na evolução (?) musical a partir dos anos 1960? Será que isso teria a ver com a melhoria da qualidade dos registros sonoros, progressivamente com o LP, K7, CD e MP3? A Banda e Disparada, sucessos de 1967, ainda soam modernas pra mim. Mas, afinal, eu sou suspeito!

    Acho que esse assunto mereceria uma abordagem mais consistente do que esses apanhados aleatórios que acabei de fazer...

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