sexta-feira, 10 de julho de 2009

VELHOS BONDES ELÉTRICOS

Desde que sou pequeno gosto de bondes. Tenho 57 anos de idade, andei em diversos durante minha infância. Quando os bondes acabaram em São Paulo, sob intensa propaganda tipo “lavagem cerebral”, em 1966, eu tinha 14 anos. Na verdade, os bondes de Santo Amaro ainda ficaram até março de 1968, teimosamente (a linha Liberdade-Largo Treze), mas eu jamais andei nessa linha (meu Deus, como me arrependo disso) e nem fui ver na época a última viagem, anunciada nos jornais.

Lembro-me de ter andado inclusive em bondes abertos, aqueles em que o cobrador ficava andando para cima e para baixo no estribo com as notas de cruzeiros dobradas no sentido longitudinal entre os dedos, para facilitar dar troco e colocar as notas quando recebia as passagens dos passageiros. No bonde “fechado”, não era assim, tinha borboleta e cobrador.

A propaganda contra os bondes foi nojenta: dizia-se nos jornais que eles estragavam a pavimentação, que eram lentos, que os cabos aéreos enfeiavam a paisagem, que eles pioravam o trânsito dos automóveis (até as fotos publicadas nos jornais mostravam bondes meio “perdidos” entre automóveis na cidade) e que havia bondes que andavam na contra-mão (o que era verdade, nas ruas Domingos de Morais, parte estreita, e na rua da Consolação – aqui, a rua tinha mão única mas havia trilhos nos dois sentidos, ela não era duplicada como o é hoje – e na avenida Doutor Arnaldo – onde os dois trilhos estavam na mesma pista, pois a duplicação, com a colocação da nova pista, foi feita nos anos 1950. Lembro-me que a pista antiga era de paralelepípedos e tinha os trilhos, enquanto a nova era asfaltada e não tinha trilhos. Esta era a pista bairro-cidade), por exemplo.

Ninguém dizia que os bondes poderiam ser modernizados (são hoje os VLTs, que todo mundo hoje diz que vai implantar mas você não viu nenhum ainda funcionando). Andei de bonde em Frankfurt em 1991. Salvo engano meu, eram bondes Brill, semelhantes aos “fechados” de São Paulo até os anos 1960, e andavam bem mais rápido do que os paulistanos – isto porque foram reformados, com novo motor, sistema de som etc.

No caso de Frankfurt, o bonde andava no canteiro central ou lateral das ruas. Em São Paulo, isso somente acontecia na rua Domingos de Morais, parte larga (onde hoje sob ela passa o metrô), e sua continuação, avenida Jabaquara, e na avenida Ibirapuera, entre a República do Líbano e a avenida dos Eucaliptos (no resto da avenida, incluindo sua continuação, José Diniz, os trilhos eram soberanos na rua – não havia pista para carros). Por que não ter mantido os bondes nessas ruas pelo menos?

O lobby dos ônibus ganhou por aqui, e continua ganhando. Pena, fala-se da colocação de alguns VLTs, mas poucos e, reparem, eles jamais ficam instalados – ficam sempre no “vão ser”.

O que me surpreende mesmo é o saudosismo que os bondes elétricos mantêm em qualquer lugar onde eles tenham existido – como em Santos, por exemplo, onde, aos poucos, ele vai retomando seus espaços no centro histórico, mas apenas nos finais de semana com fins turísticos. Em São Paulo, nem isso. Pessoas choram ao ver as fotos em exposições, esgotam os poucos livros sobre o assunto.

Todos adoram o bonde em São Paulo, Santos, São Vicente, São Carlos, Piracicaba, Piraju e outras cidades paulistas e brasileiras onde ele existiu – mas ele não volta nem a paulada. Se as pessoas gostam tanto dele – e gostam – por que deixaram os governantes acabar com eles? Na foto, bonde de Santo Amaro fazendo o contorno na avenida José Diniz (na época, Conselheiro Rodrigues Alves), esquina com Joaquim Nabuco, no Brooklyn, São Paulo, por volta de 1967.

7 comentários:

  1. Bem, meu pai jura que andou no Bonde que ia para a Penha (via Celso Garcia) em '68, no Mês de setembro (Qdo. nasci). Teria sido esta a última linha? Na Rua dos Trilhos (Mooca), tem partes que o trilho ainda está lá. S/ as cédulas nos dedos gostei da lembrança), os vendedores de balas dos trens da linha Luz-RGSerra ainda usam assim. Abção.

    ResponderExcluir
  2. Ele não andou. É o chamado "engano de memória". A data é bem conhecida e bondes já eram saudade em setembro de 1968. Se andou, andou em Santos, onde ainda existiram bondes até 1971.

    ResponderExcluir
  3. Ralph,
    Temos a mesma idade, sou de dez de 51.Morava nos anos 60 na parada Alto da Boa Vista.Andei muito de bonde, pois utilizáva-o para ir à escola.Realmente a linha de Santo Amaro foi a última a sair , e no Largo Treze tem uma placa, se não me engano ao lado da Igreja Matriz, mencionando o fato da última viagem.O trecho Av. Ibirapuera até Av. Adolfo Pinheiro, já quase em Santo Amaro, era só do bonde e um trecho muito agradável que parecia que saia da cidade.Essa foto foi tirada no "balão do Brooklin" Vereador Zé Diniz X Joaquim Nabuco.

    ResponderExcluir
  4. pra quem andou de bomde vá ao largo 13 de maio e veja que com as obras do metro os velhos trilhos dos bomdes estão sendo descobertos.

    ResponderExcluir
  5. Eu ainda ando de bonde! Só que aqui no Porto eles se chamam eléctricos Há uma linha , onde vemos o Rio Douro e o mar. Gosto de andar nela e falar para os meus netos do tempo em que andava de bonde em Sto Amaro. Nasci no Broo klyn e morro de saudades...
    Era muito raro andar de onibus, onde ia até o Paraiso, Pça João Mendes..
    AH! Eu fiz a última viagem em Sto Amaro.
    Tenho 56 anos e vivo em Portugal há 30.

    ResponderExcluir
  6. Curioso, Rosilda... quando v. falou que mora "no Porto", eu pensei imediatamente em Porto Ferreira, cidade da minha familia, que sempre se referiu a ela como "vou para o Porto". Mas lá não tem bonde, nunca teve. Caiu a ficha: lógico que era Portugal...

    ResponderExcluir
  7. O bonde da foto é o bonde Brooklin fazendo o "balão" de retorno na esquina da Joaquim Nabuco. A loja de materiais de construção que aparece ao fundo é a Aleotti, que existiu até há uns 10 anos. Andei muito no bonde de Santo Amaro porque eu morava no Brooklin Novo. Vi os bondes da última viagem passando atrás do clube Banespa. Muito triste, mas havia um clima de alegria.
    Enquanto isso, em 1933, os bondes ainda brilhavam, conforme anúncio da Light no Estadão de 30.07.1933:
    http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19330730-19558-nac-0016-999-16-clas

    ResponderExcluir