domingo, 12 de julho de 2009

EU FUI PRA MARACANGALHA

Há pouco mais de três anos estive a trabalho em Salvador. Naturalmente, tirei um dia para visitar as cidades em volta. Depois de rodar por Candeias e antes de chegar à região de Feira de Santana e Cachoeira, estive à procura da localidade de Cinco Rios, onde um dia houve uma estação ferroviária.

Na estrada Salvador-Feira, fui mesmo pela quilometragem e por um mapa da região: esperar que aparecesse uma placa indicando “Cinco Rios” era querer demais. A uma certa altura, entrei num trevo para entrar à esquerda, onde eu achei que deveria haver uma estrada que me levasse a pelo menos perto do local, quando, no trevo vejo uma placa estilizada: “Maracangalha”.

Parecia brincadeira. Mas como era a estrada em que eu supunha que deveria entrar, fui, cruzando a rodovia num viaduto e seguindo novamente no sentido oeste, de Candeias. Logo depois, encontrei outra placa: “Maracangalha”, à direita. Uma pequena rua levava aparentemente ao local. Na esquina da estradinha com essa rua, havia um ponto de ônibus com um senhor, sentado. Perguntei-lhe se sabia onde era Cinco Rios.

Ele respondeu: “é aqui. Eu lhe levo até lá”. Desistiu do ônibus e entrou no meu carro. Subimos a rua: ali no alto, cruzamos a linha férrea, enquanto eu vi à esquerda uma usina de açúcar abandonada (como há delas no Recôncavo baiano!) e, à direita, o rapaz me mostrou: “aqui é Cinco Rios. E é Maracangalha”.

No fim, a vila operária sobreviveu à estação demolida e varrida do mapa – ele me mostrou onde era, não havia sinal dela – e ao abandono da usina, fechada desde o ano de 1987, segundo ele. A vila havia mantido o nome de Maracangalha e não o da usina. Terá sido por causa da música de Dorival Caymmi?

Descemos do carro e ficamos conversando com diversas pessoas, moradores das casinhas da vila. Gente simplíssima, que gosta de um bom papo. Por eles, fiquei sabendo da existência de uma locomotiva a vapor que não constava da relação do Inventário das Locomotivas a Vapor do Brasil que a Revista Ferroviária estava em vias de lançar. Depois que fui embora, avisei a revista e eles contataram o senhor (ele me deixou o telefone) e mandaram um fotógrafo lá. A máquina estava relativamente perto de Maracangalha.

Enfim, quanta gente conhece Maracangalha? Quantos de nós não achamos que o lugar não existe? Pois existe e é muito agradável. Pena que eu estava sem o chapéu de palha. Eu não vou para Maracangalha. Eu, na verdade, já fui. Na foto acima, a vila. Ao fundo, pode-se ver os restos do corpo principal da Usina de Cinco Rios, e em primeiro plano, à esquerda, um pequeno pedaço da placa com o nome: Maracangalha.

Um comentário:

  1. Olá, Ralph. Bastante pitoresca a historinha de Maracangalha. Em 2007 passei por Itaparica, vindo de Nazaré-BA, e topei com uma placa na estrada indicando "Cacha-Pregos". Hoje não é comum, mas me lembro que outrora dizer "Lá em Cacha-Pregos" era sinônimo de lonjura. E não é que o lugar existia mesmo? Depois peguei um mapa e constatei que o lugarejo lendário era real, lá no extremo de Itaparica... Um abraço do Leandro Niterói-RJ.

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