segunda-feira, 19 de julho de 2010

DÁ PARA ACEITAR ISTO?

A plataforma de São Carlos depois do acidente - Foto Ocimar (sobrenome desconhecido) em 18/7/2010

Ontem, domingo, mais um acidente ocorreu nos trilhos da ALL. Desta vez, foi em São Carlos, junto à plataforma da estação ferroviária. Um vagão descarrilado foi passando e arrancando diversas lajotas e pedaços da (antiga) plataforma de embarque.

Segundo alguns relatos sobre o que aconteceu, "um vagão carregado de farelo, sentido Araraquara - Santos, descarrilou bem antes da passagem de nível próxima da estação. A composição continuou rodando e só parou depois de uns 1500m, quando passou sobre o pontilhão da Travessa 8. O vagão descarrilado atingiu a testa da mureta da plataforma em todo seu comprimento e destruiu todos os dormentes por onde passou. Os pedaços grandes e pequenos de tijolos, de cimento e de dormentes saltaram para dentro da plataforma (...) O vagão descarrilado pendeu para o lado da plataforma: caso tivesse sido para o outro lado, pegaria todos os pés-direitos de ferro que sustentam a cobertura e talvez não tivéssemos mais estação para ver, já que o telhado que cairia puxaria consigo boa parte das suas paredes internas".

Se fosse um problema isolado, vá lá - se bem que o problema é grave, pois destrói parte de um bem que é público (pertence à União, como qualquer bem da extinta RFFSA, que por sua vez ficou com o acervo da FEPASA em 1998), de valor histórico e somente não fez vítimas porque a plataforma está costumeiramente vazia - ou quase vazia - pois, trens de passageiros, sabemos, não existem mais ali há pelo menos nove anos. Sem trens de passageiros, sem ninguém para esperar por ele.

Não é um problema isolado. Acidentes na ALL são corriqueiros hoje em dia. Não fiz qualquer estimativa de número, mas imagino que a Central do Brasil, que tinha muito mais trens rodando do que a ALL, já está perdendo para esta no número de acidentes. (Por que a Central tinha mais trens? Ora, porque na época os trens de carga eram menores, ao mesmo tempo havia mais carga para um número bem maior de clientes sendo transportada e portanto mais trens, além do grande número de trens de passageiros que então existiam)

É claro que existe a tal falha humana, mas a maior parte desses acidentes é, sem dúvida, causada por falta de manutenção, ou, pelo menos, por manutenção insuficiente. Não, eu não trabalho na ALL e nem sou expert no assunto, mas não é preciso ser um profissional da área para ver como estão os trilhos e o leito da via permanente da maior parte das linhas da ALL para ver que os trens têm de andar devagar, com muito cuidado, para não descarrilar. E às vezes descarrilam.

A ALL está em São Paulo há 4 anos nas linhas da ex-Paulista e Noroeste. E há 10 anos nas linhas da ex-Sorocabana. Já era tempo de ter feito uma boa revisão nas linhas, que já estavam em mau estado quando foram deixadas pela FEPASA/RFFSA em 1999. No Paraná, há pelo menos um movimento que acusa a empresa de não dar manutenção adequada à via e à frota, causando lá também uma série de acidentes.

Realmente, não dá para entender o que se passa pela cabeça desse pessoal. Com a via em bom estado, a velocidade dos trens poderia aumentar e, portanto, baratear os fretes. Com isso, arranjar mais clientes e mais cargas. A impressão que se tem, no entanto, é que a filosofia da empresa é ter o maior lucro possível com um mínimo de investimentos.

Além do mais, o fechamento de inúmeras linhas que estavam ativas no tempo em que não havia concessão (exemplos? Ramal do Paranapanema, trecho Presidente Prudente-Presidente Epitácio, ramal de Piracicaba, linha Mafra-Porto União-Marcelino Ramos e outras), onde poderiam ser conseguidos novos transportes, acaba por aumentar a impressão de satisfação com o lucro atual.

Há que se lembrar que a concessão de transportes é fundamental para o escoamento da safra e produção industrial do país, e isso vem sendo tratado como secundário... terciário, talvez. O número de ações judiciais que aparecem na mídia contra a empresa - muitos com ganhos contra ela - também impressiona quem acompanha o assunto.

Nesta semana, recebi a cópia de um artigo que fala sobre a conclusão de uma CPI estadual sobre a concessão da empresa: os deputados chegam à conclusão de que a ALL deveria perder essa concessão imediatamente, entre outras decisões. Seja qual foi a decisão, nada acontecerá, pois a concessão é federal - o que os deputados fizeram foi pura e simplesmente demagogia e perda de tempo.

Não seria o caso de o governo federal, pelo menos, questionar a empresa para saber o que está acontecendo? Quem está perdendo mais nisto, no final das contas, é o Estado de São Paulo.

8 comentários:

  1. As leis da concessão dizem que o estado (ou agência reguladora) deve fiscalizar isso, passível de perda de concessão.
    Só falta agora alguém com coragem pra dar a cara pra bater e dar uma "sacudida" nisso.

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  2. Deu foi sorte isso ai em pirajui na nob na epoca da novoeste um descarrilhamento cuminou na destruição completa e total da gare da estação de pirajui que viroui monte de ferro retorcido hoje a estação esta em ruinas, eu era funcionario da all a coisa la e feita nao da pra entender todos os problemas da all se resumem pura e simplesmente em via permanente uma ves falei isso pra meu supervisor ele disse que eu tinha ideias locas que eu era polemico e me deu um dia de gancho de presente, vai entendee. certa vez participei de uma reuniao trimestral (reuniao reservada a puxas saco) eu participei apenas de uma depois nao dexanram eu participar mais, pois bem nesta tal reuniao eles mostram as metas de cada setor observei que a via bateu as metas a oficina bateu as metas a to bateu as metas e adivinha quem nao bateu? a tração tudo manipulado a via ta um lixo por isso as locomotiivas quebram constantemente no trecho e os descarrilhamentos sao frequantes so que a cupa e posta em cima "sempre total das vezes" nos maquinistas que tem uma altissima qualificaçao num incrivel curso que dura 15 dias parece piada mas isso é a America Lucifer Logistica ops Latina Logistica.

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  3. Sr. Ralph,bom dia. Segue reportagem da Revista Ferroviária sobre a "maravilhosa" eficiência do setor de manutenção da ALL e o meu comentário sobre isso publicado pela revista.

    12/07/2010 - O Estado de S.Paulo

    Com capacete e óculos de proteção que lhe cobrem quase todo o rosto, o paranaense André de Souza Leone dá passos curtos e rápidos e atravessa a sala da oficina de locomotivas da ALL, em Curitiba. Eufórico, ele aponta para um gráfico na parede que mede a quantidade de dias que as máquinas passaram sem apresentar falhas. Esse aqui dá orgulho. O desempenho melhorou tanto que o gráfico até estourou, diz.
    O engenheiro de 26 anos é um exemplo do perfil dos funcionários da ALL. Ele entrou na empresa há dois anos por meio de um concorridíssimo programa de trainee e já coordena a maior oficina da companhia. Sob sua liderança, trabalham 100 pessoas, entre mecânicos, eletricistas e manobristas. O interesse de Leone pelo mundo dos motores, bitolas e compressores chega a ser admirável - assim como a clara noção que ele tem de sua posição dentro da corporação. Sou só custo para a empresa. Por isso o efeito do trabalho de manutenção das máquinas tem de durar o máximo possível.

    Missa:
    Todos os dias, às 8h, o pessoal de operações da ALL começa a jornada com uma reunião chamada de missa. Durante uma hora, os funcionários avaliam se o fluxo de trens previsto para o dia anterior foi cumprido e programam a nova empreitada. Caso uma meta não tenha sido atingida, terá de ser acrescentada ao planejamento seguinte.

    Comentário de Euripedes Santos Ferreira:

    Seria muito bom se a alta gerência da ALL também iniciasse o dia rezando "missa" pelos dormentes podres de seus trilhos que estão sendo substituidos a passo de cágado. Rezando pelos trilhos gastos e pelo mato que cobre a via férrea. Seria bom que o "super gerente de 26 anos", com toda a sua eficiência, tivesse um pouco de tempo para ver as fotos das vias nos tempos da antiga Companhia Paulista. Poderia aprender um pouco sobre mais sobre qualidade total de uma empresa e se preocupar menos com numeros e estatísticas que fazem a felicidade das diretorias.
    Euripedes S.Ferreira

    Fato concreto:

    O resultado de perseguir numeros e a filosofia de que o funcionário representa "custo" dentro da empresa é o descarrilamento na estação de São Carlos e o descaso da ALL em relação aos problemas que a empresa causa aos locais por onde trafega.

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  4. essa materia e comprada a all e uma grande faixada eu sei bem como e la dentro

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  5. ha ja ia me esquecendo, sabe porque o presidente da all sera trocado? pq o atual Bernardo Hess esta foragido da justiça ele foi intimado a depor na cpi da ferrovia arrumo uma liminar nao foi e pelo que dizem esta na Argentina agora segundo tambem falam assim que ele por os pes no Brasil vai direto prestar depoimento na policia federal de piracicaba.

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  6. Olá! Ontem, eu passei de carro no cruzamento da linha do trem onde ocorreu o descarrilamento falado. Pelo que vi havia 3 pessoas dando uma olhada meio por cima no suposto local em que aconteceu.
    Mas sinceramente, do jeito que as coisas andam, o que eu espero disso tudo é que eles dêem um jeitinho de os trens poderem passar com "segurança" e nada mais será feito.
    Fora que a nossa estação com certeza vai ficar danificada por um bom, até que alguma alma bondosa resolva mandar arrumar.
    Aiai, eu sempre quis que o trem de passageiros voltasse, mas a coisa é muito mais feia do que eu imaginava =(
    O Brasil sempre me dá esse tipo de desilusão. =(
    Acho que para andar de trem de verdade terei que ir para a Europa se um dia eu tiver $$$ para isso =(

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  7. Não, Ed, basta v. ir para Belo Horizonte e tomar o trem para Vitória. Abraços - Ralph

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  8. O autor da foto: Ocimar Carlos Pratavieira.

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