quinta-feira, 29 de julho de 2010

SACO SEM FUNDO


Recentemente, diversas plataformas de estações, abandonadas ou não, foram destruídas pela concessionária ALL, na linha da antiga Noroeste e no ramal de Bauru da ex-Sorocabana, para permitir a passagem das locomotivas C-30. A de Rodrigues Alves foi uma delas (veja a plataforma na foto acima, tomada em 26/7/2010 por Jorge Luiz Luvizato). As pedras quebradas e arrancadas foram deixadas sobre o que restou das plataformas. Ninguém limpou nada.

Nos últimos anos da Sorocabana (anos 1960) e durante o tempo da Fepasa (após 1971), a ferrovia começou uma obra para retificar os trilhos do ramal de Bauru na região de São Manuel, até Paranhos. Houve desapropriações de áreas e serviços iniciados. Até hoje é possível ver-se por onde passaria o leito férreo. Os novos trilhos jamais foram assentados.

Os imóveis (estação, armazéns, casas de funcionários, rotunda, oficinas) do pátio ferroviário da estação de Ribeirão Vermelho, próximo a Lavras, em Minas Gerais, pertencentes às antigas E. F. Oeste de Minas, depois à Rede Mineira de Viação, tornaram-se praticamente ruínas nos últimos 25 anos por total abandono da RFFSA, sucedânea das ferrovias citadas.

Nos tempos da Fepasa, esta adquiriu mais de vinte locomotivas francesas, elétricas, que deveriam trabalhar na linha que foi eletrificada entre 1980 e 1986, no trecho entre Campinas e Casa Branca. A eletrificação foi realizada nesse trecho e funcionou algumas vezes para testes. Nunca funcionou comercialmente e foi arrancada em 1999. As locomotivas, com exceção de três, jamais foram montadas e enferrujam hoje num depósito, ainda dentro das caixas que chegaram da Europa no início dos anos 1980.

A Fepasa abriu o leito e construiu pontes e viadutos na região entre as cidades de Hortolândia e Santa Gertrudes, na linha-tronco da antiga Companhia Paulista, para retificar a linha antiga original. Os trilhos jamais foram assentados e o leito em grande parte foi invadido por favelas. Os viadutos apodrecem e são inúteis.

Ramais ferroviários foram construídos em diversas épocas e ficaram prontos. Chegaram a funcionar por algum tempo, entre 5 e 10 anos e foram fechados, com os trilhos arrancados e as construções abandonadas. Nisto se inclui o ramal de Cangussu (RS), de Independência (CE), de Conceição do Almeida (BA), além de alguns outros cujos nomes não me ocorrem agora.

A estação da cidade de Cambuquira (MG) foi desativada e uma nova construída em seu lugar. Não funcionou mais do que alguns meses. Em 1966, o ramal foi desativado e a estação, abandonada.

Uma série de locomotivas elétricas que estavam em Sorocaba e que pertenceram à Fepasa foram enviadas para o pátio-cemitério de Triagem Paulista, em Bauru, em outubro do ano passado. Estão sendo depenadas por invasores, sem que a concessionária ou o espólio da RFFSA tome qualquer providência.

Centenas de estações, armazéns, oficinas e casas de funcionários estão abandonadas e sendo depredadas por vândalos e sucateiros por todo o país desde os anos 1970, quando começaram a ser desativadas. A Fepasa e a RFFSA, durante anos a fio, negaram-se a vender, alugar, arrendar ou emprestar a maioria desses imóveis, ao mesmo tempo que a documentação ia desaparecendo. Resultado: hoje em dia, a venda ou concessão é difícil justamente por falta de documentação e o espólio da RFFSA não tem ideia do tamanho de seu patrimônio. O mesmo acontece com centenas de vagões, carros de passageiros e locomotivas em geral, que apodrecem ao tempo.

É assim que o governo administra seu dinheiro. E olhe: estamos falando apenas do ítem "ferrovias". Imagine o resto. Some-se esse resto a todo esse prejuízo citado acima (que não são todos, são somente exemplos) e entenda porque o governo cobra tantos impostos.

2 comentários:

  1. faz quase dois anos essa destruição so arumaram as plataformas da estação de sao manuel e cafelandia

    ResponderExcluir
  2. Sou um fã ferroviário, nasci em Presidente Venceslau-SP e acompanho diariamente as notícias sobre logística e transportes, incluindo estudos e teses.
    Quando temos uma estação no meio de uma cidade, não há motivo para não preservá-la, mas quando vemos uma estação como a da foto acima, no meio do nada ou quase nada... Não fico indignado com a situação, uma vez que os comboios modernos não precisam reabastecer com água.
    Agora em relação aos investimentos não operacionais: novos traçados, e material rodante, realmente eu fico indignado. Indignado e curioso.
    Por último uma sugestão:
    Ralph, já pensou em mapear todos estes contornos e retificações que tiveram terraplanagem sem assentamento de trilhos. Com o GoogleEarth fica mais fácil disponibilizá-los.

    ResponderExcluir