quarta-feira, 28 de julho de 2010

BELAS FACHADAS


No tempo em que as casas da cidade eram construídas quase sempre com sua fachada encostando nas calçadas e com quintais laterais ou nos fundos, as janelas serviam para que as pessoas ficassem junto a elas do lado de dentro, espiando o movimento de fora.

Ar poluído, nem pensar. Barulho? Quase nada. A televisão da época era a realidade da vida do lado de fora das janelas.

Essas casas foram sendo demolidas à medida que outros estilos arquitetônicos foram sendo criados. Casas eram construídas recuadas, com muros - baixos - à sua frente e grandes jardins. Havia varandas em algumas delas, é certo. Mas estavam longe da rua. As pessoas, no entanto, ainda tinham liberdade para entrar no terreno e conversar.

Depois, as próprias casas foram desaparecendo, e os prédios passaram a ser maioria. Sumiram as conversas de janelas. Bom, sumiram, não - elas ainda existem em raros momentos em bairros mais afastados. Mesmo sem essas conversas, no entanto, algumas fachadas dessas casas permaneceram, a maioria mal cuidada, nos bairros mais antigos, sempre há uma ou outra para se apreciar.

Em alguns casos, o que existe é mesmo somente a fachada - muitas vezes pichada, ou com as janelas vedadas com tijolos e reboco, e quando conseguimos ver o outro lado observamos que atrás é um estacionamento de carros, ou existem até mesmo barracos. O resto da casa caiu, ou foi demolido. A fachada que foi deixada serve apenas de isolamento para dificultar um pouco a entrada de estranhos ao terreno outrora ocupado por alguma família que ali morava.

São essas fachadas antigas, com casas atrás ou não, que muita gente tem fotografado, tentando registrar os últimos exemplares de uma arquitetura que se preocupava em apresentar algo bonito, com ornamentos, com o monograma ou o brasão da família que ali morava, com figuras de concreto ou de porcelana nos topos frontais, ou mesmo com portas e janelas de madeira bastante trabalhadas.

Pergunto, então, porque não são essas fachadas preservadas no caso de se iniciar no terreno qualquer outra construção que seja feita. Mesmo um prédio que mantenha essa fachada baixa na frente atrai a atenção. Em Curitiba há vários casos assim, porque a cidade se preocupa em manter essas fachadas bem cuidadas. Em São Paulo são raros. Lembro-me de uma no Shopping Light, uma parte do Shopping na Xavier de Toledo que ocupa não o prédio da antiga Light, mas uma casa mais antiga que era geminada a ele. Sobrou a fachada, linda e que foi mantida.

A fotografia no alto mostra uma dessas fachadas sem casa - fica na rua Florêncio de Abreu, a cerca de um quarteirão da Estação da Luz. Atrás, um estacionamento. Creio que tão cedo nada se contruirá ali, pois a degradação da área é grande. Para o proprietário, a fachada serve de "muro" para o interior.

4 comentários:

  1. Ola Ralph

    Lendo estas últimas postagens sobre o desaparecimento de casas antigas veio na
    memória as casas existententes na Av. Rebouças
    nos anos 60 eram bonitas...que ná época eram
    modernas...mas hoje são antigas....não sou
    paulistano mas me lembro de S.Paulo desde os
    meados dos anos 50....

    Daniel Gentili

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  2. É horrível de ver como a nossa arquitetura é abandonada e destruída!
    Quando você tiver um tempo de uma olhada: http://saopauloabandonada.com.br/
    Provos Brasil

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  3. Provos: o Douglas Nascimento, do São Paulo Abandonada, colabora comigo e eu com ele nos nossos sites e blogs. Abraços

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  4. Legal esse registro. Demolirarm os fundos e deixaram a fachada do cine Cairo, no vale do Anhangabau. Acho que vai ser mantido na construção do paço cultural que vai abrigar o conservatório e os anexos do Teatro Municipal.

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