domingo, 25 de agosto de 2013

O VLT DE CAMPINAS RESSURGIRÁ DAS CINZAS OU...?

Carro do VLT abandonado em Rio Claro em 2012 - Foto Ralph Giesbrecht

A reportagem abaixo foi-me enviada hoje pelo Luís, de Campinas, SP. Sabe-se (pelo menos deve haver algumas pessoas que ainda sabem) que o VLT campineiro funcionou de 1991 a 1995 e foi desativado e imediatamente abandonado. Um dos motivos foi a falta de integração com linhas de ônibus nas estações , construídas em grande parte em pontos com poucas habitações próximas. Na época, culpou-se a prefeitura e o Estado por terem construído algo que não ligava "nada a lugar nenhum", mas isto não existe: é simplesmente uma afirmação feita quando não se tem um planejamento bem feito.

A reportagem segue abaixo. Foi publicada ontem, possivelmente em algum jornal local (o texto cita a autora, mas não a fonte). Entre parênteses, ao fim de cada parágrafo, os meus comentários.
Interior do VLT em carro abandonado em Rio Claro - Foto Ralph Giesbrecht em 2012

Novo projeto do VLT vai aproveitar só o leito antigo: Prefeitura de Campinas estuda usar o antigo traçado do leito do veículo leve sobre trilhos para implantar nova rede de transporte na cidade

24/08/2013 - 22h56 | Luciana Félix (luciana.felix@rac.com.br)

A Prefeitura de Campinas aposta na existência do traçado do leito do veículo leve sobre trilhos (VLT) como trunfo para conseguir R$ 1 bilhão do governo federal para ressuscitar o transporte sobre trilhos na cidade. Os cerca de 8,5 quilômetros de extensão do ramal do antigo sistema, aliados aos quase 50 quilômetros de malha ferroviária — maior parte desativada, porém preservada — serão os principais argumentos para convencer o governo federal a liberar os recursos para Campinas. (Meu comentário: até aí, algo lógico e excelente se se concretizar. Quanto aos custos, não posso opinar).
Estação de Vila Teixeira abandonada em 2008 - Foto Artur Silva

Um estudo com um projeto básico para o uso desses traçados está sendo finalizado pelo Executivo. A intenção é implantar uma nova rede sobre trilhos para ligar o Aeroporto Internacional de Viracopos ao Centro e também para alimentar os futuros corredores Ouro Verde e Campo Grande, por onde circularão os BRTs — ônibus rápido —, e o Corredor Noroeste. (minha pergunta é: sem duvidar da autora do texto, será mesmo verdade tudo isto? A fonte seria fidedigna ou somente algo alardeado somente para se dizer o que se quer fazer, e não o que está realmente já feito?)

A alternativa sobre trilhos é a principal aposta do governo municipal para desafogar o tráfego de veículos de passeio na cidade, que tem uma frota de cerca de 750 mil carros, caminhões, ônibus e motos que não para de crescer. (eu acho tudo isto excelente. Mas vai sair realmente? A vontade é essa ou trata-se de jogada pré-eleitoral, como o maioria dessas notícias?)

Apesar de ser a principal aposta para conseguir o dinheiro, a Prefeitura sabe que praticamente nada do que restou do antigo VLT, além do leito, poderá ser reutilizado no novo projeto. O que sobrou são as antigas estações com estruturas destruídas, postes de energia quebrados e sem fiação, lixo e mato alto que toma conta de praticamente toda a extensão do antigo VLT. Em 2009, os trilhos e os dormentes foram retirados pela América Latina Logística (ALL) e levados para Maceió (AL), onde foram instalados em um sistema semelhante. Já os fios foram furtados ao longo de todo esses anos de abandono. No ano passado o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) multou a ALL pelo desaparecimento dos 350 dormentes do local. (Sobraram também - e isto não foi citado no artigo - as composições, arruinadas e estocadas no pátio de Rio Claro há anos. Praticamente irrecuperáveis).

Além do abandono e esquecimento, o entorno de vários pontos do ramal férreo e até mesmo as estações foram tomados por moradias irregulares. Nessa semana, a reportagem flagrou duas moradias instaladas em prédios que eram usados como estações. No local, os moradores ergueram muros e até instalaram portas e postes com energia. Mesmo com todos esses entraves, o Executivo acredita que a existência do ramal faz Campinas ficar à frente de outras cidades na busca do recurso. “Não vai ter necessidade de gastar recursos com desapropriações, que na maioria das vezes pesam muito no orçamento de obras desse tipo, porque o traçado já existe. Isso é um diferencial. Temos a experiência do VLT e o traçado disponível, mas com trechos com problemas. Além disso temos demanda suficiente, principalmente na região do Ouro Verde”, afirmou o secretário de Transportes, Sérgio Benassi. (A demanda de qualquer trem metropolitano, como é o caso, se não existe, faz-se em pouco tempo: basta oferecer serviços decentes).
VLT de Campinas em funcionamento em 1992 - Foto Jorge Cialowski

O chefe da pasta disse que está cuidando pessoalmente do projeto e que nada vai ser reutilizado caso a cidade consiga o recurso. “Os trilhos antigos não serviriam. Vamos fazer um levantamento de tudo o que restou, mas a intenção é implantar tudo novo.” No começo deste mês, o prefeito Jonas Donizette (PSB) anunciou que entregou ao Ministério das Cidades um pré-projeto com os estudos iniciais de viabilidade técnica e econômica, propondo a implantação do sistema do VLT em Campinas. O objetivo é conseguir R$ 1 bilhão junto ao PAC da Mobilidade Urbana, que anunciou a destinação de cerca de R$ 50 bilhões para novos investimentos em obras no País. (Nem se deviam citar os trilhos antigos, pois estes já estão em uso em outro lugar do país. E o ideal nestes casos é apresentar via e trens novos e não adaptar material abandonado há quase vinte anos).

Benassi afirmou que está em contato com o Ministério das Cidades para conseguir uma resposta positiva. “Vamos apresentar nossas necessidades e precisamos convencer. Temos condições e demanda para isso. O VLT é uma excelente solução, desde que seja integrado aos demais modais de transportes, que seja planejado, discutido com a cidade e com projetos técnicos viáveis. E é isso que faremos. O antigo não deu certo por problemas como a falta de integração e ele acabava em pontos onde não havia demanda.” (Como sempre, o "vai ser" e o "vamos fazer", fora a eterna burocracia e as brigas políticas, fora os não citados e sempre existentes lobbies e pressões de empresas de ônibus)

Comentário final de minha parte: ou se tem vontade política e se arregaça as mangas ou esta vai ser mais uma promessa não cumprida de transporte ferroviário neste país carente de infraestrutura e sofrendo de congestionamentos urbanos em diversas cidades. Fora o eterno preconceito contra trilhos urbanos: a eterna história (falsa) que diz que trilhos nas cidades atrapalham a circulação de autos e prejudicam o crescimento da cidade (vejam, neste caso, meu artigo neste blog de dois dias atrás sobre o antigo ramal de Piracicaba).

4 comentários:

  1. Eu estava em Campinas por acaso quando vi essa notícia num jornal local. fiquei em dúvida, uma parte do leito do VLT incluido as antigas oficinas próximas a vila Rizza não tinham sio demolidos e usados num corredor de ônibus e numa nova rodoviária?

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  2. Eu tive o privilégio de utilizar o VLT em Campinas no início da sua operação. Estava sempre vazio, mesmo passando por áreas populosas. O desembarque perto do Terminal Central era improvisado. Os poucos passageiros atravessavam um corredor cercado por um alambrado.
    Nem o prefeito daquela época nem os que o sucederam nada fizeram para que esse projeto fosse adiante. As linhas ficaram abandonadas, e os trilhos foram retirados em 2011 ou 2012, se não me engano. Em alguns trechos a polícia esteve presente porque os locais estavam ocupados por traficantes.
    Há o projeto (mais um) de utilizar o leito para um BRT.
    Tomara que o VLT volte a ser uma realidade, mas a dúvida é grande. Infelizmente Campinas virou terra de ninguém nos últimos anos com péssimas administrações. A corrupção rolou solta. Talvez ainda isso seja verdade.

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  3. Sem dúvida, Campinas comnseguiu a proesa de, no últimos 20 ou 30 anos, ter prefeitos muito piores do que a média do país. E eu apenas "torço" para que o projeto de novo VLT dÊ certo, mas, sinceramente, não acredito que ele venha a ser implantado. Para mim, a notícia é muito mais oitmista do que a realidade que está por trás disso.

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  4. Se der lucro pra alguma empreiteira (além da tradicional "taxa" para políticos) é até capaz de sair... a liberação de verbas. O VLT propriamente dito poderá até sair, masa por mera conseqüência.

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