A estação de Piracicaba Paulista em 1922, no dia de sua inauguração. O ramal não conseguiu durar nem sessenta anos com operação decente.
É só ler a notícia abaixo (publicado em 2013-08-23 19:08:28, na Internet na página "Novo Momento") para compreender por que as ferrovias no Brasil não são tratadas com a mínima seriedade. Vejam os três parágrafos seguintes (entre aspas) e, depois, meus comentários.
"A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) confirmou que vai desativar o ramal ferroviário que liga Piracicaba a Nova Odessa, passando por Santa Bárbara d’Oeste. O prefeito de Santa Bárbara d’Oeste, Denis Andia (PV) e o vereador Ademir da Silva (PT), com o deputado federal Carlos Zarattini em Brasília, com o diretor geral Jorge Luiz Macedo Bastos e o gerente de projetos de transporte ferroviário de cargas André Luis Oliveira de Mello.
Zarattini havia solicitado a desativação do ramal e retirada dos trilhos por meio de ofício. O prefeito justificou que parte do trilho remanescente do ramal ferroviário --que não opera há quase duas décadas-- tem retardado o desenvolvimento de diversas regiões da cidade e dificultado a realização de obras, principalmente na questão da mobilidade urbana.
O diretor geral da ANTT informou que a ALL (América Latina Logística), concessionária da malha, não tem interesse em reativar o ramal e que fará a devolução do trecho à União. Bastos solicitou ao prefeito que encaminhe à ANTT todos os projetos de intervenção para que sejam agilizados."
Agora, meus comentários: a ANTT, para começar, mandou desativar um ramal já desativado. Os últimos autos de linha trafegaram pelo ramal de 42 quilômetros que liga a estação de Recanto, em Nova Odessa, à estação de Piracicaba Paulista, por volta de 1997, antes da privatização do ramal, entregue à FERROBAN, que, apesar de várias vezes citar que o usaria para transporte de cargas a partir do antigo porto de Artemis, no rio Piracicaba, jamais fez coisa alguma com ele. Ela e sua sucessora, a ALL, fizeram vistas grossas quanto ao roubo de trilhos, principalmente no município de Piracicaba, nestes últimos 15 anos. Em Santa Barbara do Oeste, a própria Prefeitura local retirou trechos para permitir a passagem de avenidas sem se precisar se preocupar com pontilhões.
Ou seja, nem que se quisesse passar uma composição ou mesmo um auto de linha pelo ramal, seria impossível. Pode-se dizer que é até um milagre o ramal ter sobrevivido, mesmo totalmente deteriorado, durante todo este tempo. Pensar em aproveitá-lo para transporte por trens regionais ou metropolitanos, ninguém pensou, pois neste país ainda se tem na cabeça que os ônibus são as únicas soluções para transporte público de curta e média distância.
Por fim, dizer que o ramal "tem retardado o desenvolvimento de diversas regiões da cidade e dificultado a realização de obras, principalmente na questão da mobilidade urbana" é de uma ignorância sem tamanho. O ramal não atrapalhava nada, ele era a própria solução para essa mobilidade. Realmente, precisamos de políticos mais inteligentes e mais compromissados com a necessidade das cidades neste país.
Para resumir: a mídia publica asneiras como essa e nem se preocupa em ela mesmo comentar a estupidez que transcreve. Para informar: o ramal foi ativo de 1922 a 1977 para trens de passageiros e um pouco mais do que isso para trens cargueiros. Em 1996 já estava praticamente sem uso pela FEPASA.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
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