domingo, 20 de janeiro de 2013

UMA VISÃO DO PORTO DE SANTOS


Ontem fui buscar minha esposa no terminal de passageiros no Porto de Santos, uma semana depois de tê-la levado. Foram pouquíssimas vezes em minha vida em que me embrenhei na área portuária - uma mistura de ruas públicas, áreas particulares do próprio porto, da Marinha, das ferrovias - uma loucura.

No meio de inúmeros armazéns que parecem abandonados, pelo menos de fora, os carros particulares vão passando em meio a caminhões, alguns ônibus e vans e composições ferroviárias paradas ou em movimento. Uma loucura total.

Nas duas vezes que lá fui em oito dias, entrei na área portuária depois de passar ao lado dela após a via Anchieta se encontrar com a linha da antiga Santos-Jundiaí, pouco antes da entrada na área urbana de Santos. Santos deve ser uma das poucas cidades do mundo em que o chamado centro da cidade aparece já na entrada da área urbana da mesma. Ou seja: está longe de ser o "centro". Ao contrário do que muita gente pode pensar, Santos não nasceu junto às suas praias, mas junto ao estuário por onde entram as embarcações, já há mais de quinhentos anos. A cidade somente chegou às praias há cem anos atrás, e as praias estão do outro lado daquele que é o maior porto brasileiro.

Depois de alguns quarteirões com a linha (e do outro lado dela, o porto) ao lado, a avenida, continuação da Anchieta, afasta-se, junta-se ao morro à sua direita e, passando o túnel (se v. entrar por ele, vai para as praias), seu carro cai em parte da área central. Numa guinada à esquerda, no meio da cidade, chega-se, depois de alguns quarteirões, ao porto. Dentro dele.

Fui seguindo as setas que indicavam o terminal de passageiros. Aí, passei pelo que escrevi mais acima: uma confusão de ruas de paralelepípedos, com linhas e desvios ferroviários, muita sujeira em alguns pontos, mau cheiro (são provenientes da deterioração da soja derrubada dos trens e do milho, este também formando milharais em alguns pontos), muitos armazéns que parecem abandonados - não dá para saber se do outro lado há alguma estocagem - isto dos dois lados, passagens de nível aos montes - impossível sinalizar a todas - cones de divisão de pistas, guardas de segurança, empregados do porto ou das ferrovias, placas que mostram para onde ir, mas que em alguns casos são confusas e até viadutos.

Ontem, cheguei ao terminal P11 para ver se Ana Maria estaria ali me esperando, mas depois descobri que o correto era o P3 - aí, tive de retornar, esperar um comboio da MRS passar, subir de volta o viaduto (não sei se era o mesmo), cruzar um monte de ruas e vias férreas, chegar a auma avenida, avançar bastante por ela e fazer um retorno lá na frente, para depois, perguntando para um guarda ou outro, finalmente chegar 'a entrada do P1, P2 e P3 - não sem antes cruzar com outro trem da MRS e, claro, esperá-lo passar. Finalmente, encontrei a Ana e pudemos começar a voltar para casa.

Aí, voltei também seguindo as placas de Via Anchieta, ou São Paulo, até entrar à esquerda numa rua que, naquele momento, tinha um trânsito enorme - mas ela estava fora da área do porto: rua João Pessoa. Ficamos meio parados nos dois primeiros quarteirões uns 10-15 minutos. Era uma rua larga, com os dois lados abandonados. Ninguém nas ruas, somente construções fechadas ou nitidamente abandonadas - estas, em geral, antigas, casas com mais de cem anos. Mais para a frente, torna-se uma rua comercial e as pessoas começaram a aparecer caminhando pelas calçadas e atravessando as ruas, entrando e saindo das lojas. E fomos embora, pois ela dava direto também no início da Anchieta.

Gosto de Santos, gosto muito - pena que, nos últimos vinte anos, foram pouquíssimas as oportunidades de ir para lá. Gosto da bagunça do porto e das construções, tanto dentro dele quanto fora. Gosto de ver o canal e o mar. Gosto de ver as linhas de bondes cruzando as ruas centrais, muitas vezes com bondes, e abertos - quantas cidades do Brasil hoje têm linhas de bondes? E, quanto ao porto, se um dia ele tornar-se superorganizado (existem portos assim?), não vai ter mais graça alguma.

Um comentário:

  1. Olá Ralph, sou de Santos e sei que infelizmente você está certo. A parte masculina toda da minha família já trabalhou ou trabalha no Porto, então sei da realidade. O Porto era melhor e mais organizado na época da CDS e depois CODESP. Os funcionários eram felizes, tinham orgulho de dizer que eram portuários (segundo meu tio, quando entrou para as "Docas" em 1973, a empresa tinha 100 mil funcionários, e considerando a população de Santos na época esse número representava boa parte da cidade). O salário era melhor, a empresa era super rentável, ou seja, todos saiam ganhando. Infelizmente, tudo foi privatizado, e virou essa bagunça/sujeira/degradação de hoje...
    Se quiser entrar em contato, entre no O Blog Ferroviário, tenho bastante coisa sobre o porto e algumas contribuições para seu site e seu blog. Abraços Ferroviaristas!

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