terça-feira, 1 de janeiro de 2013
O ERRO (OU ENGODO) DA CIDADE DE PANORAMA, SP
Provavelmente já falei aqui da cidade de Panorama, aqui no Estado de São Paulo, localizada às margens do rio Paraná, no final da antiga linha-tronco oeste da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
De qualquer forma, não era de meu interesse, pelo menos imediato, pesquisar sobre essa cidade, a não ser a parte da estação ferroviária terminal de linha que ela possui. Porém, uma série de anúncios e reportagens sobre essa cidade, que encontrei por acaso em jornais - mais especificamente neste caso a Folha da Manhã - entre 1946 e 1952 - deizaram-me curioso.
Afinal, eu conheci a cidade em agosto de 1977, quando fui de trem da FEPASA, que ainda usava os velhos Pullmans da Paulista comprados em 1952 para chegar até ela numa viagem de cerca de 16 horas. A viagem foi feita com minha esposa Ana Maria simplesmente por curiosidade. Valeu a pena, embora nessa época eu não tivesse nem um pouco do interesse que nutro por trens hoje em dia. Pena.
De qualquer forma, o que eu e Ana vimos foi uma cidade pequena, suja, praticamente sem asfalto algum, com um restaurante sujo e cheio de ratos correndo pelo chão, nada para fazer quando andamos pelas ruas e acabamos jogando um jogo de dadinhos sentados sobre a plataforma da estação numa espera para o trem sair que demorou três horas.
O que foi feito das promessas e investimentos que estariam sendo feitos nos anos 1940 e 1950? É verdade que a propaganda de uma cidade planejada começou em 1946 e a Paulista somente alcanaçou com seus trilhos a cidade no início de 1962. Teria isso influído tanto assim, numa época em que as ferrovias já estavam em decadência?
A história - vou tentar resumir ao máximo - parece ter começado em 1946 quando um empresário campineiro, Quintino Maudonnet, teria estabelecido uma serraria na futura cidade, então no município de Pauliceia, distrito de Gracianopolis, para aproveitar a facilidade de transporte que teria quando a Paulista lá se estabelecesse - esse foi o ano em que isso parece ter ficado definido. O fato, porém, é que a ferrovia estava em Tupã, a 170 quilômetros dali ainda. Em 1950 chegou a Adamantina, a 100 quilômetros e em 1958 a Dracena, a quarenta quilômetros. E as estradas naquela região ainda eram péssimas então.
Porém, entre 1946 e 1952, a propaganda foi forte nos jornais e a cidade foi anunciada como sendo projetada pelo ex-prefeito paulistano Prestes Maia, que tinha muita fama por ter "mudado a cidade" no início dos anos 1940. Por que teria ele embarcado em uma aventura dessas a mais de setecentos quilômetros de distância? Ou teria ele apenas emprestado o nome para dar fama ao empreendimento?
Em 1952, instalou-se em Panorama um aeroporto (ver nota neste artigo) e anunciou-se a construção de um hotel grande e paradisíaco. Até aí e desde 1946, o projeto vinha avançando com liderança da Imobiliária Panorama, dos Maudonnet, e da fama de Prestes Maia, que havia nesse mesmo ano apresentado seu projeto num grande evento no Hotel Terminus em Campinas. Só que em 1948 a imobiliária de Maudonnet havia "aberto o bico" e repassado tudo para outros empresários que fundaram uma S. A. para continuar o projeto.
Em 1952, a situação estava ainda ruim. A decisão de se fazer um hotel foi para tentar aproveitar a pesca no rio Paraná e a caça nas matas que ainda sobravam por ali - mas para lá somente se ia de avião ou por estradas muito ruins. A Paulista estava longe, como vimos. Por isso o aeroporto. O município apareceu em fins de 1953. Já havia uma pequena cidade para isso, mas nada do que se previra. Muita gente deve ter perdido dinheiro nessa história. O hotel, parece, jamais veio. Pelo menos aquele. A população hoje é de pouco menos de 14 mil habitantes.
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Então, a hoje Rodovia João Ribeiro de Barros, foi construída pela Cia. Paulista de Transportes?
ResponderExcluirTadeu, não posso afirmar com certeza, mas, pelas notícias interpreto que sim
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