segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

JULIO PRESTES E SUA ESTAÇÃO

A gare da estação São Paulo em 1930 no dia de sua inauguração.
No tempo em que as ferrovias ainda eram poderosas no Brasil, mesmo as estatais - que, na época, já tinham uma boa fatia do mercado - a hoje lendária Estrada de Ferro Sorocabana, pertencente ao Governo do Estado de São Paulo, inaugurava a estação São Paulo. Ou melhor, parte dela - exatamente a gare de embarque, que, ali, era apenas menos da metade - talvez um terço - do projeto inteiro.

O projeto todo, pronto em 1937 e inaugurado em 1938 por Getulio Vargas, embora com várias modificações sobre a planta de Cristiano das Neves, possuía, além da gare coberta de 1930, um prédio de três andares ocupado pelos escritórios da ferrovia, a terceira do Estado e a mais rica pertencente ao governo paulista. Era superada apenas pela São Paulo Railway, de proprietários ingleses, e pela Companhia Paulista, de investidores privados e em sua maioria paulistas.

Com a inauguração da estação, a terceira, deixava-se de lado a segunda estação, depois prédio do DOPS e hoje museu e que fica a seu lado. A primeira, que funcionou de 1875 a 1914, bem pequena, ficava do outro lado e foi demolida em 1979.

A inauguração de 1930 deu-se no dia 13 de maio, com a presença do ex-Presidente do Estado (1927-30), o governador da época, Julio Prestes. Na época, era já o Presidente eleito do Brasil. As eleições na hoje chamada República Velha aconteciam sempre em 15 de março e a posse, oito meses depois, em 15 de novembro. Posse que, aliás, não existiria; em 24 de outubro, o Presidente Washington Luiz, que apoiava Prestes, viria a ser deposto num golpe chefiado por Getulio Vargas, ex-governador gaúcho e ex-ministro da Fazenda do próprio Washington.
O Presidente Julio Prestes no dia da inauguração da estação, em 1930.
Julio Prestes e Washington Luiz foram presos e partiram para o exílio. Regressaram ao Brasil somente após a queda de Vargas e morreram por aqui, o primeiro, em 1946; o segundo, em 1957.

Em 1951, a estação São Paulo da Sorocabana recebeu o nome de Julio Prestes, depois de este ter sido o nome da estação Canguera (hoje em ruínas), da linha Mairinque a Santos da própria Sorocabana, entre 1949 e 1951. Por que o nome foi transferido para a estação São Paulo, não consegui descobrir exatamente; mas que dá a impressão de que os paulistas quiseram atiçar Getulio Vargas, que no início desse mesmo ano havia sido empossado na Presidência da República pela primeira vez por voto direto, ah, isso dá.

A classe média e rica paulista jamais engoliram Getulio Vargas, pelas revoluções de 1930 e de 1932; já as classes mais baixas o apoiavam, pelas leis trabalhistas aprovadas no tempo getulista da ditadura do Estado Novo (1937-45).

4 comentários:

  1. Olá Ralph,

    Seu trabalho no blog e no site Estações Ferroviárias é fantástico. Um dia você terá o reconhecimento que merece. Eu conheci o site já há alguns anos e tive a paciência de conferir todas as estações das ferrovias paulistas, principalmente da antiga Sorocabana, que acessei várias vezes. Recentemente acessei novamente e constatei as atualizações e os depoimentos das pessoas. Por favor, guarde tudo - fotos e textos em backup. Nunca se sabe o que pode vir a acontecer com a Internet. Veja o caso das ferrovias, que um dia representou o maior avanço para a mobilidade humana e hoje, no nosso país, é o sentimento de uma forte saudade e uma sensação de incapacidade para mudar.

    Abraços

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  2. Fato interessante, que reforça este seu artigo: - um professor, meu conhecido, formado pela USP e atuante nos meios acadêmicos uma certa vez me comprovou que os paulistanos nunca engoliram Getulio Vargas pelo simples fato de não terem colocado o nome dele em qualquer rua, avenida, praça, artéria ou local importante da cidade. Em outras capitais e grandes cidades brasileiras sempre encontramos o nome do político em artérias importantes locais. Aqui em São Paulo apenas em Cidade Vargas, um bairro da Zona Sul, ao lado de Interlagos.

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    1. Sim, já houve até uma postagem neste blog em que eu afirmo isso. A avenida Jabaquara chegou a se chamar Presidente Vargas por uns tempos, mas o nome acabou revertendo para o original. Hácidades no interior que tem alguns locais com o nome dele, mas são bem poucas. E a cidade de Getulina não é homenagem a ele, mas sim a uma mulher que tinha esse nome.

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  3. No Estadão de 08.02.1917, página 8, Queixas e Reclamações, sobre a antiga estação da Sorocabana:

    http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19170208-13924-nac-0008-999-8-not

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