quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

LOBO: A MEMÓRIA PERDIDA

A estação de Lobo, em 2001.

Não se trata do animal, mas de um lugarejo, uma pequena vila, chamada Lobo. Há anos é um distrito de Itatinga; já teve mais importância do que tem hoje. Estive duas vezes em Lobo; a primeira havia sido em maio de 1999.

Eu estava procurando por estações ferroviárias da Sorocabana messa região. Era um dia de semana. Andando pela rodovia Castelo Branco, procurava alguma placa indicativa de alguma estação da região. Naquele ponto, a linha não passa tão perto assim, embora cruze a rodovia, vinda de Botucatu e seguindo para Itatinga. Na verdade, trata-se da linha "nova" do tronco da Sorocabana, aberta em 1953 entre Botucatu e Avaré. Seguindo no sentido interior, de repente, quase por acaso, vi uma placa, feita a mão mesmo, indicando um caminho de terra que saía ali perto do quilômetro 225: Lobo.

Eu estava atrás das estações da linha nova, nem me lembrava dessa, que ficava na linha velha, aquela desativada em 1953 por causa da construção de uma linha mais moderna que não passou mais por ali. Mas lembrei-me do nome quando vi. E entrei. Cerca de três quilômetros depois, cheguei ao vilarejo. Muito pequeno, a estação foi praticamente a primeira coisa que vi. Não porque fosse grande - não era - mas porque era uma construção bem típica da velha Soroca. Era uma escolinha e ficava bem isolada. A linha e os desvios do pátio não existiam mais, claro, haviam sido arrancados fazia quase 50 anos. Nada se construiu no local, ficou meio como uma praça, meio largada. Para trás da estação - no caso, a frente era a plataforma, por onde se entrava e saía dela - uma igreja, não tão próxima. O leito da linha virou uma rua sem asfalto. À esquerda dessa rua, algumas casinhas. Uma era o cartório - que havia se mudado para Itatinga. Aliás e pelo jeito, junto com praticamente toda a população do local.

Mapa de Lobo, 1950.  Ainda há a linha e a estação.

A história desta estação é curiosa. Ela foi inaugurada em 1896 com o nome de Estação de Itatinga. Afinal, Itatinga era a sede do município, que, apesar disto, ficava a cerca de quinze quilômetros ao sul dali. A estação foi cravada em "lugar nenhum". Durante os anos seguintes, a estação criou um bairro rural que cresceu bastante: logo vieram igreja, escola e, em 1933, a criação de um distrito subordinado a Itatinga. Só que a sede, sem linha, permaneceu insistindo nos anos seguintes para ter sua própria estação. A forma de se conseguir isto seria por um ramal saindo da linha-tronco.

Em 1914, conseguiram. O empreiteiro da obra foi Lewis Fry, meu tio-bisavô, que estava trabalhando nas obras do ramal Itaici-Campinas desde 1913. O ramal deveria inicialmente sair da estação de Itatinga, mas acabou saindo mesmo do km 345 - Miranda Azevedo, por motivos provavelmente topográficos. E no dia da inauguração do ramal e da estação da sede, e o bairro "Estação de Itatinga" teve o nome trocado para Lobo. Claro, o outro nome foi transferido para a estação nova na sede.

Chegou 1953 e a linha mudou. Mudou para Itatinga, com o desaparecimento do ramal e dos trilhos de Lobo. Em Lobo, o trem fez falta. Não houve alternativas para ele. Cinquenta anos depois, como falei, era tudo terra, sem asfalto. Quase ninguém era visível. O mapa de 1950, postado aqui, mostra uma vila pequena. Praticamente nada havia mudado nesse ano de 1999. Só mesmo os trilhos e desvios haviam desaparecido junto com o apito do trem.

Voltei ali em 2001 com meu amigo Adriano e seu pai. Andamos muito por ali, fizemos a pé cerca de 5 quilômetros naquele dia, seguindo no sentido de Paula Souza, segunda estação no sentido de Botucatu, que nunca alcançamos, por excesso de mato sobre uma ponte que ali existia. Da estação anterior, Miranda Azevedo, nem sombra. E era dali que o trem pegava o ramalzinho para Itatinga, ramal também desaparecido em 1953. Itatinga foi "acomodada" então na linha principal, que passava longe dali.

Mapa de Lobo - no alto - em relação a Itatinga - no canto direito inferior. Mapa de 1945.

Nunca mais voltei a Lobo, mas soube que, entre 2004 e 2009, passaram o trator nela. Nem a plataforma sobrou. O que faz os dirigentes de um município destruírem a que talvez fosse a maior relíquia do vilarejo? Nem para escola servia mais? A escola foi construída pouco mais acima. Não haveria outro uso para o prédio de 1896, que, aliás, deu origem à localidade? Não há espaço para a memória em Lobo? Triste.

5 comentários:

  1. Boa tarde Ralph. A que tudo indica, a velha Lobo continua em pé. Segundo essa imagem de 3 de julho de 2010 a estação se encontra em pé (22°59'50.17"S; 48°41'7.33"O). Abraço, Felipe.

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  2. A informação que tive em 2009 foi que foi demolida mesmo. Mas posso tentar conferir de novo. Infelizmente não estou tendo tempo de voltar lá. Grato

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  3. Falei com a pessoa que esteve em Lobo. Ele esteve em 2010, no fim do ano. A foto do Google é de 6/3/20120. Demoliram em 2010. Por que no meu site eu escrevi 2009, não sei. Vou ter de corrigir isso. Mas não existe mais, realmente, a estação.

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  4. Estive ontem (11/08/2015) em Lobo. Não fui até o local exato da estação, pois já estava tarde e eu ainda tinha um longo caminho pra chegar em Marília, mas pude perceber que a mesma realmente não existe mais. O que ainda existe é a antiga caixa d'água de abastecimento das locomotivas, mas ela fica afastada do distrito, Seguindo o antigo leito, fica a poucos metros da Rodovia Castelo Branco. O distrito continua com poucas casas. Lugar muito pobre e isolado.

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    1. joao de souza vilela..sorocaba...foi em Lobo,que nasci em 22 de novembro de 1943,,,saudades e tristeza..acabaram com as ferrovias do BRASIL..

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