quarta-feira, 25 de agosto de 2010

OS ENGANOS DA HISTÓRIA

Vale a pena ampliar a figura acima. Capa da revista A Careta de 9 de junho de 1917. O Kaiser se diverte com o bilboquê. Ao seu lado, o Krohnprinz Willhelm (Príncipe Herdeiro Guilherme). Nunca herdou nada. Desenho do imortal J. Carlos. Acervo Ralph M. Giesbrecht/Sud Mennucci.

Há exatamente cem anos, o jornal O Estado de S. Paulo publicava uma notícia: o Kaiser da Alemanha, Guilherme II, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1910, por ter impedido que a anexação da Bósnia-Herzegovina (até dois anos antes território do Império Otomano, atual Turquia) pela Áustria-Hungria se tornasse um ato de guerra. Belo feito. Pena que, quatro anos mais tarde, Guilherme II se tornasse um dos maiores protagonistas de uma guerra sangrenta, a Primeira Guerra Mundial, quando apoiou a mesmo Império Austro-Húngaro na invasão da Sérvia por suas tropas, no que se tornou o primeiro ato bélico da catástrofe que mudaria o mundo.

Como prever que a intenção das pessoas, às vezes boa, de repente pode se tornar oportunista? O que terão pensado as pessoas que o escolheram para ganhar o prêmio quando a guerra começou?

Quantas vezes isso não ocorreu na história do mundo? A imprevisibilidade dos fatos e das pessoas é algo imponderável. Quem poderia adivinhar que, no final de 1917, a Rússia, supostamente tão poderosa em 1914, retirar-se-ia da guerra, entregando um vasto território à Alemanha, que, além disso, livrar-se-ia da frente oriental e poderia concentrar todas as forças contra os aliados na frente sul e ocidental? O que a lógica diria? Que a Alemanha venceria a guerra!

Outra vez o imponderável atacou. Até setembro, outubro de 1918, a guerra seguia renhida. De um lado, Alemanha, Áustria-Hungria e otomanos; de outro, França, Inglaterra, Itália... e os Estados Unidos, chegando para tentar salvar a pátria. Eis que, porém, a Áustria-Hungria e os turcos se entregam em outubro, cansados e arruinados, com seus impérios se esfacelando em mil pedaços e ainda por cima colocando toda as suas infra-estruturas de transportes ao alcance dos aliados e ex-inimigos. A Alemanha, ainda com as forças em ação e longe de ser derrotada, olha em volta e percebe que toda a sua muralha que deveria conter a frente sul não existia mais. Do lado ocidental, não conseguia avançar. Teve de se render, quase da noite para o dia.

Guilherme II, sabendo que era odiado pelos aliados, foge para a Holanda, que lhe oferece asilo. A guerra acaba de repente. A Europa destruída. Guilherme é responsabilizado por todo o horror de uma guerra violentíssima. O Império se desvanece no mesmo dia. O Segundo Reich acaba. O Prêmio Nobel da Paz teve de fugir para não se responsabilizado por crimes de guerra. A Alemanha, praticamente inteira e pouco atacada durante a guerra, tem de ceder territórios e indenizações de guerra que fazem o país praticamente falir.

São os eternos enganos da história.

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