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sábado, 4 de julho de 2015

OUTRAS REALIDADES: FANTASIAS NUMA NOITE FRIA


Adoro essas bobagens de "realidade alternativa" ou de "história alternativa". Eu sempre me diverti com isso; acho que é por isso que adoro histórias em quadrinhos, principalmente de super-heróis.

Quem acha que fico fuçando sobre história das ferrovias o dia inteiro, vai se decepcionar.

Há poucos dias, li uma ou outra notícia sobre o dia em que acenderam o estopim da Primeira Guerra Mundial em Serajevo - 28 de junho de 1914. Completou-se então 101 anos desde o assassinato do Arqueduque Franz Ferdinand, ou Francisco Ferdinando, da Austria, fato que, depois de um mês de discussões sobre responsabilidades, acabou, em 28 de julho, tornando-se o estopim da guerra - neste dia, as canhoneiras austríacas bombardearam a cidade de Belgrado, na Servia, a partir do rio Danubio.

E aí, fiquei coçando a cabeça: e se... ("e se..." é o início da pergunta clássica da histórias alternativas) e se a Primeira Guerra Mundial tivesse sido evitada na última hora?

Na nossa realidade, o bombaerdeio da Servia pelos Imperio Austro-Hungaro levou à declaração de guerra do Imperio Russo à Austria, que levou à declaração de guerra do Imperio Alemão à Russia, que levou à declaração de guerra da França e da Inglaterra à Alemanha, por efeito das alianças que existiam nessa época.

Vamos imaginar que, no meio de todo esse nó de declarações de guerra, aparecesse algum governante que subitamente teve a cabeça iluminada e, que, antes de ordenar o embarque dos seus soldados nos trens que os levariam ao front (fato muito comum nessa época e que foi o que efetivamente aconteceu), resolveu telefonar (sim, telefones já existiam desde o final da década de 1870) a pelo menos um deles para dizer: meu Deus, estamos loucos? Não seria menos doloroso e menos custoso sentarmos para discutir o assunto seriamente?

Pouco provável, visto que havia diversos fatores que favoreciam a eclosão de uma guerra naquela época: primeiro, ainda havia a mentalidade de que "guerras eram um fato relativamente corriqueiro"; segundo, os governantes dos países envolvidos nas seguidas declarações que se sucederam entre 28 de julho e 10 de agosto estava já convencida de que a guerra seria inevitável; terceiro, o fato de que um mês de negociações e discussões entre a Austria e a Servia era mais do que suficiente para que eles chegassem a um acordo; se não chegassem, todos sabiam que a Austria atacaria; quarto, os governantes, em geral, tinham em suas mentes que essa guerra seria rapida e que "no Natal, todos já estariam de volta a suas casas".

O que mais me espanta é os reis, presidentes e imperadores que deixaram a guerra escorrer pelas suas mãos tenham se deixado levar por um assunto que era local, entre a Austria e a pequena Servia. Que interesses teria a Inglaterra na Servia? Ou a França? Ou, por que os interesses da Russia em pressionar a fronteira alemã, poderiam fazer França e Inglaterra declarar guerra à Alemanha, eles, que o fizeram porque tinham uma aliança com a Russia, mas por sua vez estavam do outro lado da Europa?

Por outro lado, o povo poderia até pensar que a guerra era corriqueira, mas não a queria

Enfim, durante o período entre "os dois dias 28",Franç, Inglaterra, Alemanha e Russia realmente tinham ideia que iriam se enfrentar por causa da Servia?

É por isto, exatamente, que um dos Imperadores ou Presidentes dos países envolvidos poderia ter sido repentinamente "iluminado" e propusesse um cessar-fogo... antes de ele se iniciar.

E vamos supor que isso efetivamente contivesse os primeiros ataqies, levando, no dia seguinte, a uma declaração conjunta afastando a possibilidade de uma guerra. Ainda por cima, eles tentariam convencer a Austria a deter a invsão da Servia, já em andamento então desde 28 de julho. E conseguiriam (para sorte da Austria, porque, na nossa realidade, eles acabaram derrotados pelos servios até o final de 1914).

Na "nossa" historia alternativa, então, a Primeira Guerra Mundial não existiu. Por causa disso, diversos eventos que tiveram como causa principal essa guerra também não existiram: a Revolução Russa, a intervenção americana nela, a grande inflação alemã de 1923, o declínio das finanças da Inglaterra, da França, da Alemanha e da Russia, o desmembramento do Imperio Austro-Hungaro, a onstituição de diversos novos países europeus (como a Checoeslováquia, a Iugoslávia, a reconstituição da Polonia, os países bálticos, ao assassinato dos Romanov, a formação da União Soviética... e, principalmente, não haveria a Segunda Guerra: o morticínio de pelo menos vonte milhões de mortos foi evitado.

Simples assim? Não sei. Existiriam uma série de outros eventos que poderiam gerar algo completamente diferente, que nem nos passaria pela cabeça.

E devemos nos lembrar que a guerra, por pior que seja, apressa o desenvolvimento tecnológico; por isso, talvez não terminássemos o século XX com um desenvolvimento menor do que o que efetivamente tivemos: teríamos televisão em alta definição? computadores pessoais? telefones celulares? A indústria automobilística com os tipos de automóveis que temos hoje? A decadência ferroviária? Os países não sofreriam as modificações geográficas e politicas que temos hoje?

E a economia, seria favorecida em geral? (Possivelmente teria seguido caminho muito parecido) E os governos, mais ou menos autoritários do que são hoje? (Possivelmente mais) E o comunismo e o socialismo? Teriam tido tanta facilidade para se propagar, como o fizeram até os anos 1970? (Possivelmente não teriam tanta facilidade) Os impérios alemão, austríaco, inglês, francês e russo ter-se-iam mantido? (Possivelmente, por mais algum tempo, mas não sobreviveriam no século XXI) A supremacia americana seria hoje tão grande como o é? (Possivelmentenão tanto)  E a decadente China do início da Primeira Guerra ter-se-ia transformado no que ela é hoje, cem anos depois? (Possivelmente nem tanto) A pobreza seria contida? (Possivelmente não) A população mundial estaria maior do que é hoje, de 7 milhões de habitantes? (Possivelmente sim)

Minhas respostas são enormes chutes num quase escuro... não tenho tanto conhecimento e cultura assim para dar uma posição mais abalisada sobre minhas próprias perguntas. Divirtam-se em responde-las.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

FERROVIA ABANDONADA... NO CENTRO DE PARIS


A matéria abaixo é baseada nas informações e fotografias contidas neste blog: http://www.theguardian.com/cities/2014/sep/26/-sp-petite-ceinture-paris-entrepreneurs-environmentalists-abandoned-railway#comment-41461202 .

É evidente que ferrovias abandonadas existem por toda parte. No Brasil é que elas são maioria e por isso ficamos sem entender nada. Mas elas estão até no centro de Paris, França. A ferrovia a que me refiro abaixo é chamada de "Le Petite Ceinture" - ou "o pequeno cinturão".

Tem 20 milhas e uma das estações dela está retratada na foto do princípio desta matéria. Notem que ao fundo existe uma estação... mas não abandonada e sim, transformada em um restaurante. Pessoas fazendo refeições podem ser vistos na fotografia.

Esta ferrovia foi construída há cerca de 150 anos - ou seja, é tão velha hoje como, por exemplo, a linha do Centro da Central do Brasil na serra do Mar. É mais antiga que a E. F. Santos a Jundiaí. O autor do artigo escreve que raposas e outros animais da região a usam para ir de um lado para outro da cidade, e cortar o leito em pedaços para vendê-lo em lotes destruiria boa parte da vida selvagem urbana da cidade.

É hoje o único grande pedaço verde dentro de Paris. Também existem nela favelas parisienses - olhem a mesma foto lá em cima - e drogados, além de parte pichadas. A linha tem comunicações com as catacumbas da cidade, pequenos tuneis por onde entram e saem exploradores da "cidade subterrânea".

Ainda existem dezessete estações na linha - originalmente eram vinte e nove. Trens de passageiros e cargueiros já circulavam na linha desde 1862. A partir de 1934, trens de passageiros - como se conhecia na época - eram coisa do passado, substituídos pelo metrô. Em 1993, a linha já estava completamente abandonada. A estrada de ferro desativada passou a ser um local para se atirar lixo (e falamos mal do Brasil) e um local para se exercer a função de prostitutas e tráfico de drogas.

Algo precisava ser feito, Um residente da área, Denis Loubaton, fundou em 1998  os "Jardins du Ruisseau" (jardins do córrego), uma associação, com outros moradores do seu bairro, a Ville des Tulipes. Ela se estabeleceu na antiga estação de Ornano, e a área inteira foi limpa por seus sócios e após isso, recebeu jardins de flores e pequenas plantações de verduras, além da organização de diversos eventos. e agora pensam em reativar a antiga linha, já que o metrô parisiense está cada vez mais cheio.

Hoje são 450 sócios que fazem a manutenção da linha, leito e estações.

Mais informações, para quem lê inglês, pode ser vista no blog original. Citei bastante resumidamente o que foi feito ali e escrito pelo The Guardian para mostrar que a solução para se eliminar as linhas de trem tipo "trilhos do mal", dos quais tanto escrevi neste blog, pode ser diferente da única solução sempre pensada por aqui: construir-se poluentes e degradadoras avenidas.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A MONARQUIA INGLESA

Ricardo Coração de Leão, rei plantageneta da Inglaterra (1189-1199).
O colunista francês Gilles Lapouge escreve hoje no jornal O Estado de S. Paulo o artigo "Para que serve a monarquia inglesa?", com o qual não concordei de forma alguma. Bom, sendo cidadão de um país que eliminou sua monarquia de quase 1.500 anos já há 163 anos (1848), deve-lhe ser difícil ter de engolir seu secular rival mantendo a sua até hoje.

A monarquia inglesa existe unificada desde o século IX, pelo menos. Na época, resumia-se basicamente à própria Inglaterra, com aumentos ou diminuições de território eventuais devido a constantes guerras próprias daqueles tempos. No início do século XI, chegou a estar unificada com reis escandinavos, como o rei Knut (Canuto), morto em 1035. Seu sucessor, Eduardo o Confessor, que não foi Eduardo I, mas uma espécie de "Eduardo Zero", reinou até as vésperas da invasão da Inglaterra pelo rei da Normandia francesa, nomeado Guilherme I (ou William the Conqueror) em 1066 após bater em Hastings o rei inglês que sucedeu o Confessor por poucos meses após sua morte nesse mesmo ano.

William se autoproclamou rei inglês e iniciou a numeração dos reis ingleses atuais. Sua dinastia durou menos de um século, sendo substituído pela dinastia Plantageneta, iniciada com o rei Estevão (Stefan), avô de Ricardo Coração de Leão. Essa dinastia extinguiu-se em 1399, com a morte de Ricardo II. Após isso, diversas dinastias se seguiram, até que em 1714 iniciou-se a atual com o rei Jorge I (George). Ele era alemão e não falava o inglês. Chegou ao trono como bisneto do rei Jaime I Stuart que reinara mais de 100 anos antes. O último Stuart não deixou descendentes (rainha Ana). A dinastia de Jorge I hoje tem o nome "inglesado" de Windsor, antiga Saxe-Coburgo-Gotha.

Para simplificar: a rainha Elisabeth II é descendente direta de Guilherme I e de um a outro foram 900 anos e vinte gerações (podem contar se quiserem. Eu contei). Mesmo este último rei era aparentado com seus antecessores, de uma forma ou de outra. Dinastias mudam quando em vez de filhos ou netos, os reis têm de ser substituídos por algum primo distante por não terem deixado descendência direta.

Depois de tudo isto, a Inglaterra tem sua monarquia que a muitos parece extemporânea. Mas qual é o motivo de ela ter se mantido, assim como diversa outras monarquias pelo mundo afora? Afinal, em todos os continentes elas existem. Sempre é bom lembrar que Canadá, Austrália e Nova Zelândia são tecnicamente monarquias e não repúblicas e seus reis são os mesmos da Inglaterra - apesar de que hoje não há nenhuma dependência destes países em relação à Velha Albion.

Voltando ao rabugento Lapouge, tenho a dizer que a monarquia inglesa e as outras sobrevivem até hoje por uma questão difícil de explicar e que se refere a algo que pode ser chamado pura e simplesmente de magia.

As monarquias têm origem na religiosidade dos povos - ou seja, na crença na existência de Deus. Para resumir as coisas, os reis e imperadores são os representantes de Deus em seus países. Em boa parte das monarquias europeias, os reis tinham uma espécie de procuração dos papas do Vaticano para exercerem esse poder sobre seus povos. A religiosidade é muito forte, todos sabemos. Seja Deus Jeová, Alá, Buda ou um deus egípcio, grego ou escandinavo, na verdade Deus é criado em nossas mentes (ou em nossos corações, como costumeiramente se diz). Mesmo os que se dizem ateus mentem, pois eles apenas não reconhecem as dúvidas que têm com relação à existência de um Deus, ou de um ser superior, ou de algo exterior que explique o que é inexplicável. Isto é uma das formas de magia, enfim.

A saudade que sinto de meu pai falecido há 15 anos é magia. O amor que sinto por Ana Maria desde que a conheci há já 40 anos é magia. A saudade que sinto por um avô que jamais vim a conhecer é magia. A paz que o ruído que as ondas do mar trazem em uma praia vazia é magia. A tristeza de ver um gato de estimação morrer é magia.

A admiração que um povo tem pela realeza de seu país é magia. Isso explica o deslumbramento não só do povo inglês como também dos povos do resto do mundo por um casamento na família real, como o que vai acontecer amanhã em Londres, entre o futuro Guilherme V (William) e sua esposa plebeia. Afinal, é claramente notável a admiração dos americanos por qualquer coisa relativa à realeza - eles, que sempre foram uma república, são tecnicamente apenas uma dissidência ocorrida há mais de 200 anos da realeza inglesa.

No Brasil, dois imperadores - Pedro I e Pedro II - foram os responsáveis tanto pela existência do país independente como pela manutenção da unidade de um território tão vasto. Ainda hoje existem, e não são poucos, muitos saudosos da monarquia e muitos desejosos de que um Pedro III aparecesse como um milagre para voltar a reinar.

Enfim, Meussier Lapouge, é isso!!!! No seu caso, pura dor de cotovelo. A monarquia inglesa é, antes de tudo, a Nação personificada. E pessoas civilizadas têm muito respeito a isso. Azar seu, pois seus antepassados viram sem reagir a deposição do último rei francês, Carlos X, e do último e único rei dos franceses (sim, havia uma diferença), dezoito anos depois, Luiz Filipe. Azar nosso, que não somente depusemos como acabamos, por tabela, matando nosso amado Imperador Pedro II, descendente de Habsburgos, Braganças, Aviz, Orleans, Bourbons e até de Plantagenetas ingleses...

sábado, 25 de setembro de 2010

A DIFERENÇA DA EUROPA E DO BRASIL


Quem não se emocionou alguma vez pela realeza europeia? Aqueles reis e imperadores, sempre com um manto e uma coroa de joias na cabeça, sendo infinitamente bondosos com seus súditos. É verdade, alguns eram perversos, eram amigos de bruxas e dragões, então, tratavam mal seu povp até que um novo rei viesse a derrubá-lo do trono depois de um longo duelo de espadas para salvar seu reino.

Tudo mentira, mas que era bonito, era. Nós somente descobrimos que o estereótipo acima descrito é uma farsa muito tempo depois, mas, mesmo assim, quem adquiriu aquele encanto jamais vai se esquecer dele. Fica lembrando dos castelos sobre os morros, dos cisnes nos lagos, das lindas rainhas e princesas.

E um belo dia lemos livros como "Os Reis Malditos", que com uma belíssima história nos mostra que eram todos verdadeiros assassinos. São Luiz, ou Luiz IX de França, não era tão santo assim. Ricardo Coração de Leão não era tão mais bonzinho do que seu irmão João Sem-Terra. Eduardo II aumentou o poderio da Inglaterra medieval, mas à custa de mortes sem fim. Seu filho era homossexual e foi morto com uma espada em brasa enfiada em seu ânus.

Carlos, o Bom, ou Carlos V de França (não confundir com o Carlos V alemão), era tão mau quando seu primo Carlos, o Mau, rei de Navarra. Sissi, a Imperatriz, que se casou com Francisco José I da Áustria, tão romântica ao Imperador, pouco depois dele se separou e, depois de ver seu único filho suicidar-se em Mayerling, foi ela própria assassinada em Graz (ou Linz? Já li os dois casos).

O fato é que, ruins ou bons para suas famílias ou suas nações durante séculos, essa realeza europeia acabou por instalar em seus países tradições que persistem até hoje. Um conceito de nação muito diferente dos conceitos de nações como a nossa, que, fora da Europa e da Ásia, foi uma das poucas que teve também um Império por 67 anos. Os historiadores costumam afirmar que Pedro I e Pedro II foram responsáveis em grande parte pelo não esfacelamento do Brasil em diversos pequenos países.

Essas tradições tornaram os países europeus verdadeiros locais de nacionalistas que, apesar de tempos difíceis pelos quais todos passaram em diferentes épocas, passaram a preservar seus costumes e suas histórias. Destruíram muita coisa com as guerras e mesmo fora delas - mas muita coisa se preservou e hoje são admiradas por populações do mundo inteiro.

O Brasil não conseguiu muita coisa nesse sentido. Somente agora, a partir de 150 anos de sua independência e do início do Império, abriu os olhos para a preservação de seus tesouros, naturais ou construídos. Muita coisa se perdeu. Muita coisa foi destruída nos últimos sessenta anos, quando, depois do final da Segunda Guerra, o desenvolvimento industrial começou a chegar, seguido de um aumento acelerado da população todavia sem tradições a preservar.

É fácil perceber isso: ontem meu filho, que está de férias na Europa, passou pelos campos suíços e fotografou a paisagem. Enquanto não se nota nenhuma cidade, ou mesmo quando se as notam ao longe, os campos ali lembram os paulistas - ver foto acima, tirada por ele, ontem. Se ele me dissesse que as fotografias haviam sido tiradas no interior de São Paulo, eu acreditaria. Quando chega à cidadezinha, porém, a diferença é nítida: tudo bem cuidado, estilo típico. Aqui, todos sabem como é, com, claro, as de sempre honrosas exceções.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

OS ENGANOS DA HISTÓRIA

Vale a pena ampliar a figura acima. Capa da revista A Careta de 9 de junho de 1917. O Kaiser se diverte com o bilboquê. Ao seu lado, o Krohnprinz Willhelm (Príncipe Herdeiro Guilherme). Nunca herdou nada. Desenho do imortal J. Carlos. Acervo Ralph M. Giesbrecht/Sud Mennucci.

Há exatamente cem anos, o jornal O Estado de S. Paulo publicava uma notícia: o Kaiser da Alemanha, Guilherme II, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1910, por ter impedido que a anexação da Bósnia-Herzegovina (até dois anos antes território do Império Otomano, atual Turquia) pela Áustria-Hungria se tornasse um ato de guerra. Belo feito. Pena que, quatro anos mais tarde, Guilherme II se tornasse um dos maiores protagonistas de uma guerra sangrenta, a Primeira Guerra Mundial, quando apoiou a mesmo Império Austro-Húngaro na invasão da Sérvia por suas tropas, no que se tornou o primeiro ato bélico da catástrofe que mudaria o mundo.

Como prever que a intenção das pessoas, às vezes boa, de repente pode se tornar oportunista? O que terão pensado as pessoas que o escolheram para ganhar o prêmio quando a guerra começou?

Quantas vezes isso não ocorreu na história do mundo? A imprevisibilidade dos fatos e das pessoas é algo imponderável. Quem poderia adivinhar que, no final de 1917, a Rússia, supostamente tão poderosa em 1914, retirar-se-ia da guerra, entregando um vasto território à Alemanha, que, além disso, livrar-se-ia da frente oriental e poderia concentrar todas as forças contra os aliados na frente sul e ocidental? O que a lógica diria? Que a Alemanha venceria a guerra!

Outra vez o imponderável atacou. Até setembro, outubro de 1918, a guerra seguia renhida. De um lado, Alemanha, Áustria-Hungria e otomanos; de outro, França, Inglaterra, Itália... e os Estados Unidos, chegando para tentar salvar a pátria. Eis que, porém, a Áustria-Hungria e os turcos se entregam em outubro, cansados e arruinados, com seus impérios se esfacelando em mil pedaços e ainda por cima colocando toda as suas infra-estruturas de transportes ao alcance dos aliados e ex-inimigos. A Alemanha, ainda com as forças em ação e longe de ser derrotada, olha em volta e percebe que toda a sua muralha que deveria conter a frente sul não existia mais. Do lado ocidental, não conseguia avançar. Teve de se render, quase da noite para o dia.

Guilherme II, sabendo que era odiado pelos aliados, foge para a Holanda, que lhe oferece asilo. A guerra acaba de repente. A Europa destruída. Guilherme é responsabilizado por todo o horror de uma guerra violentíssima. O Império se desvanece no mesmo dia. O Segundo Reich acaba. O Prêmio Nobel da Paz teve de fugir para não se responsabilizado por crimes de guerra. A Alemanha, praticamente inteira e pouco atacada durante a guerra, tem de ceder territórios e indenizações de guerra que fazem o país praticamente falir.

São os eternos enganos da história.

domingo, 31 de janeiro de 2010

QUE COMAM BRIOCHES!

Maria Antonieta de Áustria, rainha da França (1774-1792). Foto Wikipedia

Há governantes que não percebem a real necessidade do povo que governam. A rainha de França, Maria Antonieta, esposa de Luiz XVI, respondeu aos pedidos do povo por pão com a frase célebre: “Eles não têm pão? Que comam brioches”. Por essa e por mais outras, além de não perceber a gravidade da situação que a cercava, perdeu — literalmente — a cabeça.

Nem isso fez os governantes dos quase 250 anos que se passaram aprender. É verdade que eles hoje não perdem mais as cabeças, mas algumas vezes — infelizmente, somente algumas vezes — perdem o governo. Hoje em dia, parece que pessoas como o Sr. Kassab são cegas. Há outros exemplos, muitos deles. Não vou ficar numerando, mas cito um fato lido no jornal O Estado de S. Paulo de hoje que fala sobre transporte urbano sobre trilhos.

Diversas cidades que falavam em implantar Veículos Leves sobre Trilhos ou “Metrôs Leves” — é tudo basicamente a mesma coisa — agora dizem que, já que não foram escolhidas para sediar a Copa do Mundo de 2014, vão deixar esses planos para trás e construir corredores de ônibus. Campo Grande, Natal, Cuiabá e Porto Alegre são as cidades citadas. Lá, o povo vai comer brioches — e talvez, pois sempre é possível que não construam é coisa alguma.

Para não dizerem que eu só penso em trilhos, vamos acrescentar o que a reportagem escreve:

"Em média, o custo para adotar os VLTs é o dobro do de corredores de ônibus do tipo BRT (Bus Rapid Transit), usado em Curitiba e Bogotá. Um projeto para trens leves exige pelo menos R$ 37 milhões por quilômetro, enquanto um BRT sai por R$ 18,8 milhões/km. Para o consultor Peter Alouche, os investimentos não devem ser analisados somente pela quantia inicial. 'Os custos podem ser maiores a princípio, mas a longo prazo isso se reverte. Uma frota de ônibus precisa ser trocada a cada cinco anos e um trem dura 40 anos'. Alouche também afirma que o VLT vem acompanhado de uma revitalização urbanística da região. 'O fato de ser um projeto mais caro significa que vai haver uma preocupação maior com a área, que será recuperada urbanisticamente. O Transmilênio (elogiado corredor de ônibus de Bogotá) funciona bem como meio de transporte, mas dividiu a cidade em duas'.

Os defensores de corredores no estilo BRT argumentam que, a um custo de operação menor, conseguem transportar praticamente a mesma quantidade de pessoas dos VLTs. Nos ônibus, são entre 10 mil e 20 mil passageiros por hora e sentido, enquanto o modelo sobre trilhos tem capacidade entre 15 mil e 35 mil. ‘Só é preciso elaborar bem os projetos. Mesmo um BRT pode dar errado se for feito no tapa, para ficar pronto a tempo da Copa’, completa Balassiano, que ressalta que os corredores precisam ser um ‘sistema à parte’, não enfrentando cruzamentos e outros tipos de interferência. O investimento, porém, parece ser o diferencial para a escolha entre os dois modelos. A prefeitura de Campo Grande, por exemplo, ficou de fora da Copa e então desistiu de um projeto de 12 quilômetros de VLT. No lugar, o município vai trabalhar na criação de um sistema com 32 quilômetros de corredores, ao custo de R$ 150 milhões. ‘Nossa demanda é baixa para a utilização de um VLT e, por isso, vamos trabalhar em um sistema de terminais e corredores’, diz o diretor da Agência Municipal de Transportes da cidade, Rudel Trindade”.

Tudo é explicação e desculpas — como se não fosse necessário para qualquer cidade desse porte olhar para o crescimento futuro, com Copa ou sem Copa. Enfim, notamos a cegueira habitual. Não vão perder a cabeça, mas vão ser lembrados no futuro pelos seus sucessores da forma “isso é culpa das administrações anteriores”, como costuma dizer a maioria dos governantes neste País de Deus.

O povo? Ora, o povo... que continue respirando a fumaceira dos ônibus desregulados e do enorme ruído decorrente de seu tráfego, em vez do silêncio e limpeza dos bondes (ops, desculpe, VLTs).