quinta-feira, 5 de agosto de 2010

MEMÓRIAS DOS TEMPOS DA ESCOLA

Rua da Consolação em 1956. Folha de S. Paulo

Meu pai todos os dias me apanhava na escola. Bons tempos em que era possível isso. Eu estudava na rua Olinda, mais precisamente a rua lateral da Praça Roosevelt onde ficava o Colégio Visconde de Porto Seguro, um belo prédio de arquitetura única no Brasil, remetendo ao tempo do Kaiser Guilherme II da Alemanha. Era esse colégio em que eu estudava.

Ele acordava todo dia bem cedo, por volta das seis horas da manhã. Eu morava na rua Tefé, no Sumaré, e ele, quando eu me levantava, já estava na cozinha fazendo café da manhã. Era bem "dietético" o que ele me preparava: torrada, ovos com bacon e um copo de Toddy, Kresto ou Nescau. Por volta das sete, sete e pouco, saíamos de carro. Nos primeiros anos, um Studebaker 1951. Era 1959 até 1961. Ele ia pela Doutor Arnaldo e ao entrar na rua da Consolação, parava em frente ao SirvaSe, no mesmo local onde hoje é o Pão de Açúcar, ali, e comprava o jornal no garoto que os vendia na calçada.

Eu ia folheando o jornal até chegar na escola, descendo a rua da Consolação, desviando dos bondes numa rua estreita pavimentada com paralelepípedos e ainda com alguns casarões. Papai entrava na rua Olinda à direita e me deizava na frente da escola. Era cedo, eu normalmente ficava esperando os outros chegarem. Muitas vezes não havia ninguém no pátio, as crianças iam chegando depois, aos poucos.

Na saída, às vezes eu tinha de esperar bastante. Todo mundo ia embora de ônibus ou de bonde. A maioria dos meus colegas morava para os lados dos Jardins e de Santo Amaro. Papai me levava e buscava pois era caminho para ele para o trabalho, na alameda Glette. Ou melhor, desviava um pouco, mas ele gostava disso. Enquanto esperava nos bancos de cimento na lateral da rampa que descia do pátio interno para a calçada da rua Olinda, eu via a praça.

Às quartas e sábados, havia ali a feira. Nos outros dias, somente um enorme estacionamento, público, sobre um mar de asfalto. Nada mais havia ali. O guarda civil, de capacete, estava ali todas as manhãs ajudando as crianças a atravessarem a rua. Eu sabia o nome dele, mas não me lembro mais. Era sempre o mesmo, e ficou por ali pelo menos uns oito anos, posso garantir isso. Eu às vezes seguia até a esquina da rua Gravataí, onde havia um sorveteiro num carrinho da Kibon, e às vezes comprava um picolé.

Nos dias de feira, era difícil esperar o carro em frente ao colégio. Eu tinha de descer para a rua Gravataí ou para a rua Augusta, pois a feira ocupava não somente a praça, mas também o leito da rua Olinda (hoje Guimarães Rosa). Havia uma banca de jornal por algum tempo no começo da rua Gravataí, mas era daquelas que não tinha muita coisa, então, dava para comprar figurinhas só e olhe lá. Com o tempo, a praça começou as obras da sua reformulação. Foi um tempo, em 1967-8, em que o bate-estacas funcionava o dia inteiro, dando para ouvir pelas janelas na sala de aula. Com o tempo, nós nos acostumamos ao ruído.

Na época das obras na praça, papai não me buscava mais. Ele levava e daí ia para a Cidade Universitária, para onde a Faculdade de Química se mudou no final de 1966. Ele ainda almoçava em casa, mas não dava mais para me apanhar na escola. Eu ia, entõ, ou de carona com alguns colegas, ou de ônibus. Era difícil de esperar o ônibus na rua da Consolação, que na mesma época estava sendo alargada: parecia uma praça de guerra. Já não havia mais bondes, e eu tinha de tomar o ônibus. Só que o ponto mudava de lugar quase todos os dias e o ônibus (e eu) tínhamos de adivinhar onde ele estava, nomeio de uma rua de terra, esburacada e com pedaços de guias e trilhos jogados no leito. O ônibus chegava sacolejando em cima daquela estrada rural em que se tornou a rua da Consolação.

Bons tempos, bons tempos. A gente fala sempre a mesma coisa, não é mesmo?

4 comentários:

  1. Vamos "brincar" de corrida de revezamento? Eu pego o bastão na década de 1970, a praça Roosevelt era quase meu quintal de casa, morando na 9 de Julho, subia até lá e me impressionava com a sua arquitetura futurística, que até hoje é marcante. Você não disse em que ano o "seu" Colégio Visconde de Porto Seguro fechou as portas ali e mudou para o Morumbi. Deve ter ficado abandonado, até que eu, cursando com orgulho a Escola Estadual Caetano de Campos, em 1977, na República, soube que a essa tradicional escola pública ia mudar, dividindo seus alunos em duas unidades "Caetano de Campos": a nova, na Aclimação,e a que recuperava o prédio abandonado do Porto Seguro, na praça Roosevelt. Optei por esta, mais próxima de casa. Então estudei no mesmo prédio que você,uns 10 anos depois, mas já escola pública. O prédio estava reformadinho, creio que foram bem responsáveis no restauro, grandes vitrais, pé direito alto, etc. Estudei ali em 1978 e 79. O prédio está de pé,creio que ainda como E.E.Caetano de Campos, não sei em que estado. E a praça Roosevelt atravessa uma lenta e indefinida transição rumo ao futuro. Abraço!

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  2. O Porto, se não me engano, saiu de lá em 1972. Abraços

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  3. Disse tudo, bons tempos que não voltam mais!

    Eu não estudei no Porto Seguro, mas tinha muitos amigos que o faziam. No meu último ano no Colégio Rio Branco (1972), dois anos antes da muidança para o Morumbi, efetuada em Outubro de 1974, segundo o site do Colégio - http://www.125anos.portoseguro.org.br/tempo.asp), cursei também o CPV, curso preparatório para o vestibular da FGV. As aulas eram dadas em um prédio na Rua da Consolação e eu caminhava todos os dias, após o término das aulas (eu estudava no período matutino), até o cursinho. Percorria a Rua Higienópolis em toda a sua extensão e muitas vezes passava em frente ao Porto Seguro para encontrar com algum amigo. Almoçávamos juntos e depois cada um seguia para o seu cursinho.
    Quando foi noticiada a saída do Porto Seguro daquele lindo prédio, fiquei temeroso pelo destino do mesmo, pois já havia lamentado a demolição do maravilhoso prédio do colégio Des Oiseaux, que deveria dar lugar a um hotel, mas virou estacionamento. Felizmente, o prédio foi preservado, e está lá até hoje!

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  4. Olha adorei passar por aqui. Buscava fotos e um pouco da historia da época que eu e meu irmao Tirteu estudavamos lá, na Praca Roosevelt. Entre no colégio em 69 e quando o Porto mudou, nao acompanhamos.Foram bons tempos. Minha primeira professora foi a Sra. Ruth, meus diretores eram Sr. Amilcar Turelli e Sra. Maria Cecilia. jamais poderia esquecer meu professor de Educacao F~isica. Saulo chamava-se.Tamb~em tinhamos a professora Zigrid. E da mesma ~epoca::
    Patricia Varoli

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