Debaixo desta servidão passa a galeria do córrego Uberaba, entre as ruas Pinrassilgo e Graúna (esta ao fundo). Foto Ralph M. Giesbrecht em 3 de julho de 2010.
Mais uma vez falo dos córregos desaparecidos da cidade de São Paulo. Do norte para o sul, os córregos que desembocam no rio Pinheiros pela margem leste, a partir do das Corujas, que faz a foz no Pinheiros vindo pela Frederico Hermann Junior, seguem o Verde, que tem a foz junto ao Hebraica, depois o da Várzea, na Prof. Artur Ramos; o próximo é o Uberaba.
Pelo que consegui pesquisar, atualmente ele tem a foz não no rio Pinheiros, mas sim no córrego da Traição, junto à alameda Vicente Pinzon. Não, não espere ver nem um nem outro, está tudo canalizado... ou melhor, entubado mesmo. Só que a foz natural dele era junto à rua Pequetita, no exato ponto em que ela muda de nome para rua Funchal. Você sempre achou que não havia motivo para a rua mudar de nome naquela pequena curva? Historicamente, havia sim: não havia passagem ali, pois o riacho cortava as ruas de terra que, na época, não se encontravam.
O córrego Uberaba vem ali da avenida Ibirapuera, cruza-a entre as avenidas Ibijaú e Rouxinol, continua num trecho sob a Ibijaú, cruza as paralelas à avenida Ibirapuera até a rua Tuim, segue e entra pelo centro da avenida Helio Pelegrino. Dali, segue por ela até o seu fim, onde começa a Faria Lima. Entra pelo meio da Vila Olímpia, segue por dentro desta, até fazer uma curva para o sul junto à Vicente Pinzon e desembocar hoje no Traição, sob a avenida dos Bandeirantes. A mudança deste curso final pode ter ocorrido na época da retificação do Pinheiros, nos anos 1940. Veja na foz antiga que o rio fazia uma curva ali e encostava na rua Pequetita, coisa que não faz hoje.
Seu afluente é o córrego Paraguai, que vem do alto do bairro de São Judas, na avenida Jabaquara, desce hoje entubado debaixo da avenida José Maria Whitaker, cruza a avenida Ibirapuera junto à avenida República do Líbano, entra por Moema, segue até a avenida Juriti junto à Helio Pellegrino e cruza a Diogo Jacome, onde se junta com o Uberaba na esquina da rua Marcos Lopes.
E o Paraguai ainda tem seu afluente: o córrego das Éguas, que nasce na esquina das ruas Botucatu e Onze de Junho, no alto da Vila Clementino, desce até onde hoje está um dos viadutos da Rubem Berta, acompanha esta por um quarteirão, onde se encontra com o córrego Paraguai, este sob a José Maria Whitaker.
Enfim, um festival de rios canalizados e entubados que outrora fizeram parte de uma paisagem rural no meio de São Paulo. Disso tudo, cheguei a ver apenas parte do Uberaba, no cruzamento com a avenida Santo Amaro, a céu aberto por muitos anos debaixo de uma pequena placa escrita: "Avenida Uberaba". Esta era o que se tornou a Helio Pelegrino, na época um pequeno caminho de terra ao lado de um riozinho sujo. Isto até o início dos anos 1990. Também me lembro de pequenas pontes nas ruas que cruzavam o córrego ali na região onde hoje se encontram as avenidas Faria Lima e Helio Pellegrino.
domingo, 15 de agosto de 2010
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Tenho uma ligação sentimental com a bacia do Uberaba. Em 1942, meu avô veio com a família para SP tentar a sorte e morou nessa região durante algum tempo - mas as coisas não deram muito certo e eles tiveram de voltar para o interior. Meu pai em contou um pouco sobre suas andanças nesse local; na época a região ainda era muito campestre. Trinta anos depois, estudei durante vários anos na filial da Cultura Inglesa na rua das Fiandeiras, cujos fundos davam para o rio. Na época explorei a região um pouco a pé; ainda se via o rio e alguns de seus afluentes, canalizados aqui e ali, e algumas pinguelas precárias. Apesar das promessas de canalização que já haviam na época, creio que o Uberaba foi o rio que mais resistiu na região; ele só foi aprisionado mais de vinte anos depois, creio que em meados da década de 1990. Dos córregos da avenida Santo Amaro, o primeiro a ser canalizado foi o Traição (1969-1970), depois o Cordeiro (1973-4) e Sapateiro (1974-5). O Águas Espraiadas e Uberaba só foram canalizados bem depois, mais de vinte anos após o Sapateiro; como eu já estava morando fora de São Paulo nessa época não me lembro o ano exato des suas canalizações. Creio que deve ter sido em meados da década de 1970. Em 1997 passei ocasionalmente pela região e constatei que o Uberaba já estava preso.
ResponderExcluirE eu me esqueci de colocar na postagem que eu cheguei a ver outro trecho do Uberaba a céu aberto: o final (sem saída) da rua Diogo Jacome. Hoje, a rua continua sem saída, mas não há nem sinal do rio, entubado debaixo da rua, que tem do outro lado do ex-leito o portão de um prédio de apartamentos.
ResponderExcluirEu acho que vi num mapa de SP dos anos 1920, com surpresa, que o Uberaba desembocava originalmente no Traição. O problema é achar a cópia eletrônica do mapa na minha bagunça e confirmar essa minha suspeita.
ResponderExcluirEm 1937 desembocava no Pinheiros, do outro lado. Os mapas, no tocante a córregos, não são muito confiáveis. Mas havia um rio realmente na divisa da Pequetita com a Funchal.
ResponderExcluirNo mapa da Sara Brasil, de 1930 (folha 63), o Uberaba aparece claramente fazendo uma curva para a direita e desaguando no Pinheiros depois de cruzar as ruas Funchal e a Paquetiba (não sei se o nome é que está errado ou se Pequetita é corruptela de Paquetiba). Segundo o mesmo mapa (folha 64) o Ribeirão Uberaba seguia até a atual Av. Prof.Ascendino Reis onde havia o encontro do córrego das Éguas com o Paraguai. O córrego que você chama de Uberaba é o Uberabinha que deságua no Uberaba depois de cruzar o fim da rua Araguari. O Uberabinha deu até nome para o bairro que se formou ali. Aquela servidão da foto fica entre a Pintassilgo e a Araguari. A travessa Jornalista Otávio Muniz que fica entre a Inhambu e a Tuim também foi aberta sobre o córrego Uberabinha.
ExcluirPois eu vi o Paraguai a céu aberto, se bem numa época em que ele já era apenas esgoto, mas a céu aberto, pois nasci e cresci em Mirandopolis, vi a canalização do Paraguai e a construção da Whitaker
ResponderExcluirNas margens do Paraguai havia pés de mamona que faziam a alegria da criançada
E é fácil entender pq aquela confluência da Whitaker com onze de junho etc.. alaga que é uma beleza.. têm dois rios ali
Adorei o blog
Eliana, adorei seu relato! Estou fazendo um trabalho na faculdade de arquitetura e estamos estudando Mirandópolis, a Whitaker e nosso foco é o Córrego do Paraguai, principalmente a sua canalização. Você tem mais relatos, ou até fotos dessa época? Adoraria saber mais e poder acrescentar a perspectiva dos moradores!
ExcluirExiste uma rua na Vila Nova Conceição, bem pequena e desapercebida, paralela à Rua Diogo Jacome que tem um nome curioso que me intriga: Barra do Peixe. Creio que ali deveria ser um local de pesca ou comércio de pescado. Margem do Uberaba!
ResponderExcluirTambém lembro disso!
ResponderExcluirMinha infancia se passou na V.Clementino, na Rua Dr Bacellar, e o campinho de futebol era na beira do corrego Uberaba, iso no final dos anos 50 , e ao longo dos anos 60. Chamama-vos de "corgo", naquela epoca não sabia que se chama-va Uberaba. Alias nome da terra de meus pais meus irmãos, eu fui o unico que nasci em SP, na antiga rua do Tanque hoje R,Estado de Israel, pwrinho da Sena Madureira. O corguinho naquele tempo já era imundo, um esgoto a cêu aberto, muitos ratos, mas nos divertiamos por lá, muitos pés de fruta, um mundo magico pra mim, moleque naquela época, era no que hoje é a Whitaker, entre Bacellar e Leandro Dupré. Lembro-me do Brasil perder a copa do mundo de 1962, lá jogando bola no campinho. Hoje ja era tudo!! Prédios , avenidas, semaforos, transito caótico. São Paulo tem o dom da degradação!!
ResponderExcluirMas o Brasil ganhou a copa de 1962!!!
ExcluirOs nomes de córregos se confundem em mapas e épocas. Pode estar certo que, se eu coloquei Uberaba no lugar de Uberabinha em algum trecho foi porque algum mapa de alguma época mostrava isso.
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