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sábado, 4 de julho de 2015

OUTRAS REALIDADES: FANTASIAS NUMA NOITE FRIA


Adoro essas bobagens de "realidade alternativa" ou de "história alternativa". Eu sempre me diverti com isso; acho que é por isso que adoro histórias em quadrinhos, principalmente de super-heróis.

Quem acha que fico fuçando sobre história das ferrovias o dia inteiro, vai se decepcionar.

Há poucos dias, li uma ou outra notícia sobre o dia em que acenderam o estopim da Primeira Guerra Mundial em Serajevo - 28 de junho de 1914. Completou-se então 101 anos desde o assassinato do Arqueduque Franz Ferdinand, ou Francisco Ferdinando, da Austria, fato que, depois de um mês de discussões sobre responsabilidades, acabou, em 28 de julho, tornando-se o estopim da guerra - neste dia, as canhoneiras austríacas bombardearam a cidade de Belgrado, na Servia, a partir do rio Danubio.

E aí, fiquei coçando a cabeça: e se... ("e se..." é o início da pergunta clássica da histórias alternativas) e se a Primeira Guerra Mundial tivesse sido evitada na última hora?

Na nossa realidade, o bombaerdeio da Servia pelos Imperio Austro-Hungaro levou à declaração de guerra do Imperio Russo à Austria, que levou à declaração de guerra do Imperio Alemão à Russia, que levou à declaração de guerra da França e da Inglaterra à Alemanha, por efeito das alianças que existiam nessa época.

Vamos imaginar que, no meio de todo esse nó de declarações de guerra, aparecesse algum governante que subitamente teve a cabeça iluminada e, que, antes de ordenar o embarque dos seus soldados nos trens que os levariam ao front (fato muito comum nessa época e que foi o que efetivamente aconteceu), resolveu telefonar (sim, telefones já existiam desde o final da década de 1870) a pelo menos um deles para dizer: meu Deus, estamos loucos? Não seria menos doloroso e menos custoso sentarmos para discutir o assunto seriamente?

Pouco provável, visto que havia diversos fatores que favoreciam a eclosão de uma guerra naquela época: primeiro, ainda havia a mentalidade de que "guerras eram um fato relativamente corriqueiro"; segundo, os governantes dos países envolvidos nas seguidas declarações que se sucederam entre 28 de julho e 10 de agosto estava já convencida de que a guerra seria inevitável; terceiro, o fato de que um mês de negociações e discussões entre a Austria e a Servia era mais do que suficiente para que eles chegassem a um acordo; se não chegassem, todos sabiam que a Austria atacaria; quarto, os governantes, em geral, tinham em suas mentes que essa guerra seria rapida e que "no Natal, todos já estariam de volta a suas casas".

O que mais me espanta é os reis, presidentes e imperadores que deixaram a guerra escorrer pelas suas mãos tenham se deixado levar por um assunto que era local, entre a Austria e a pequena Servia. Que interesses teria a Inglaterra na Servia? Ou a França? Ou, por que os interesses da Russia em pressionar a fronteira alemã, poderiam fazer França e Inglaterra declarar guerra à Alemanha, eles, que o fizeram porque tinham uma aliança com a Russia, mas por sua vez estavam do outro lado da Europa?

Por outro lado, o povo poderia até pensar que a guerra era corriqueira, mas não a queria

Enfim, durante o período entre "os dois dias 28",Franç, Inglaterra, Alemanha e Russia realmente tinham ideia que iriam se enfrentar por causa da Servia?

É por isto, exatamente, que um dos Imperadores ou Presidentes dos países envolvidos poderia ter sido repentinamente "iluminado" e propusesse um cessar-fogo... antes de ele se iniciar.

E vamos supor que isso efetivamente contivesse os primeiros ataqies, levando, no dia seguinte, a uma declaração conjunta afastando a possibilidade de uma guerra. Ainda por cima, eles tentariam convencer a Austria a deter a invsão da Servia, já em andamento então desde 28 de julho. E conseguiriam (para sorte da Austria, porque, na nossa realidade, eles acabaram derrotados pelos servios até o final de 1914).

Na "nossa" historia alternativa, então, a Primeira Guerra Mundial não existiu. Por causa disso, diversos eventos que tiveram como causa principal essa guerra também não existiram: a Revolução Russa, a intervenção americana nela, a grande inflação alemã de 1923, o declínio das finanças da Inglaterra, da França, da Alemanha e da Russia, o desmembramento do Imperio Austro-Hungaro, a onstituição de diversos novos países europeus (como a Checoeslováquia, a Iugoslávia, a reconstituição da Polonia, os países bálticos, ao assassinato dos Romanov, a formação da União Soviética... e, principalmente, não haveria a Segunda Guerra: o morticínio de pelo menos vonte milhões de mortos foi evitado.

Simples assim? Não sei. Existiriam uma série de outros eventos que poderiam gerar algo completamente diferente, que nem nos passaria pela cabeça.

E devemos nos lembrar que a guerra, por pior que seja, apressa o desenvolvimento tecnológico; por isso, talvez não terminássemos o século XX com um desenvolvimento menor do que o que efetivamente tivemos: teríamos televisão em alta definição? computadores pessoais? telefones celulares? A indústria automobilística com os tipos de automóveis que temos hoje? A decadência ferroviária? Os países não sofreriam as modificações geográficas e politicas que temos hoje?

E a economia, seria favorecida em geral? (Possivelmente teria seguido caminho muito parecido) E os governos, mais ou menos autoritários do que são hoje? (Possivelmente mais) E o comunismo e o socialismo? Teriam tido tanta facilidade para se propagar, como o fizeram até os anos 1970? (Possivelmente não teriam tanta facilidade) Os impérios alemão, austríaco, inglês, francês e russo ter-se-iam mantido? (Possivelmente, por mais algum tempo, mas não sobreviveriam no século XXI) A supremacia americana seria hoje tão grande como o é? (Possivelmentenão tanto)  E a decadente China do início da Primeira Guerra ter-se-ia transformado no que ela é hoje, cem anos depois? (Possivelmente nem tanto) A pobreza seria contida? (Possivelmente não) A população mundial estaria maior do que é hoje, de 7 milhões de habitantes? (Possivelmente sim)

Minhas respostas são enormes chutes num quase escuro... não tenho tanto conhecimento e cultura assim para dar uma posição mais abalisada sobre minhas próprias perguntas. Divirtam-se em responde-las.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

ASPECTOS INTERESSANTE DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA EM 1915

O desespero da Austria-Hungria já veio cedo na guerra. Desenho de março de 1915
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Já deu para ver, quem acompanha meu site, que o assunto "Primeira Guerra Mundial" me fascina. Não sou especialista, estou muito longe disso, mas cada vez que aparece alguma coisa nova sobre ela, lá vou eu ler.

Aqui foi bem difícil. Peguei uma série pequena de fotos e mapas - mais precisamente, uma foto e alguns mapas - meio aleatoriamente, na revista Lectures pour Tous, francesa, que saía nessa época e cujas reportagens eram praticamente somente sobre o que ia acontecendo na carnificina ali ao lado - mas que jamais chegou a Paris, pelo menos nessa guerra em particular.

A revista era feita em Paris, claro.

Mas qual seria a minha dificuldade? Simples - jamais aprendi francês. Então, essas revistas caíram-me às mãos, todas entre o fim de 1914 e o início de 1915, como um presente de um amigo, que me a deu há cerca de uns... trinta anos.

Eu já a havia folheado, mas atualmente estou tentando decifrá-la. Como ela tem muitas fotografias e desenhos, fixo-me, claro, nele, pois aí, com textos curtos e referindo-se às figuras, fica menos difícil tentar entender.

No desenho no topo deste artigo, um mapa da Áustria-Hungria no início de 1915, mostra seu Imperador, Francisco José (Franz Josef) já meio caduco, tentando se livrar das tenazes que o machucavam - ou tentavam fazê-lo. O Império Austríaco, por tudo que li até hoje sobre a guerra, praticamente só apanhou durante a guerra. Muito mais do que a Alemanha, seu aliado, mas que durante os pouco mais de quatro anos de luta, conseguiu manter seu Império, comandado por Guilherme II (Wilhelm), quase totalmente intacto, sem grandes invasões.
Couraçado alemão no canal de Kiel, ao norte, próximo à Dinamarca. O canal liga o mar Baltico ao mar do Norte cortando o sul da península da Jutlândia. Sobre o navio, uma ponte de um ramal ferroviário que liga a linhaférrea a uma siderúrgica alemã, vista à esquerda da foto
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A Alemanha perdeu a guerra porque resolveu se entregar em novembro de 1918, já sem recursos, principalmente alimentos. Todas as suas importações não chegavam mais, pois ela atuava como inimiga praticamente do mundo inteiro. Outra razão: os austríacos eram tão fracos - eles que começaram a guerra atacando a pequena e antiquada Servia, mas, cinco meses depois, em dezembro de 1914, levaram uma surra dos aguerridos guerreiros sérvios. Enfim, eles eram tão fracos que, no final de outubro de 1918, quando renderam-se esfacelados, com seu império já começando a se desmontar entre os povos que o constituíam, deixaram seus aliados alemães sem condições de conter uma nova frente de guerra - a terceira, no caso.

Logo acima, um mapa do canal de Kiel, entre o Schleswig e o Holstein alemães. No final da guerra, o Schleswig foi entregue à Dinamarca.

Do outro lado da Europa, a frente alemã e austríaca contra a Russia: vejam no mapa logo acima as cidades, regiões e divisas. Ali havia um problema: desde 1795, a Polonia não existia como nação autônoma e estava dividida entre a Alemanha, a Russia e a Áustria. Os três exércitos estavam em guerra em 1915. alemães e austríacos contra russos. Havia poloneses em todos eles. Como fazer poloneses lutar contra poloneses quando o desejo de união formando novamente a velha Polonia independente somente vingaria se pelo menos dois países perdessem a guerra?

E, finalmente, uma ferrovia com ramais na Polônia de então - mapa aqui logo acima. Seria possível que essa ferrovia e esses ramais ainda existam, depois da destruição havida aí nessa guerra e principalmente na Segunda Guerra de 1939-45? Eu não fui checar. Fica a curiosidade. Aparecem no mapa o rio Vistula e também a fronteira russo-alemã da época. Varsóvia ficava, então, na Russia.

Assim, com pequenos retalhos, pode-se aprender algo sobre a "Guerra do Kaiser", como minha avó, na época com vinte anos apenas, a chamava.

sábado, 28 de junho de 2014

28 DE JUNHO DE 1914: O REAL FIM DO SÉCULO XIX


Há exatamente cem anos, aconteceu no dia 28 de junho de 1914 o incidente que serviu de pretexto para o início da Primeira Guerra Mundial: o arquiduque Francisco Ferdinando (ou Franz Ferdinand), herdeiro do trono da Áustria-Hungria, foi assassinado, ele e sua esposa, dentro de um automóvel aberto no centro da cidade de Sarajevo capital da então província da Bósnia-Herzegovina e parte do Império austro-húngaro.

A partir daí, um mês de negociações não evitou que as canhoneiras austríacas começassem a bombardear Belgrado, capital da Sérvia, a partir das águas do rio Danúbio.

Mas o que tinha a Sérvia a ver com o assassinato? Ora, Gavrilo Princip, o assassino, era sérvio, Aliás, sérvios eram uma boa parte da população na Bosnia. A Sérvia mantinha péssimas relações com o Império, relações que pioraram com a anexação da Bosnia pela Austria-Hungria seis anos antes (1908), província que pertencia ao Império Otomano e que desde 1878 era administrada pela Áustria (situação esquisita, não?)

A Servia queria essa provincia, pois considerava que ela deveria fazer parte da sonhada "Grande Servia" (que efetivamente passou a existir com o nome Iugoslávia, ou "eslavos do sul", entre o final de Primeira Guerra Mundial em 1918 e os anos 1990, quando se esfacelou). Além disso, a rivalidade entre alemãos-austríacos e húngaros, povos não eslavos, era histórica. Havia muitos eslavos no Império Austríaco, consequência de guerras contra os turcos, das partilhas da Polônia, da região da Boêmia (República Checa), conquistada havia séculos, etc.

Uma série de erros alemães, russos, franceses e ingleses nas decisões tomadas às pressas logo após o bombardeio de Belgrado em 28 de julho, um mês após o assassinato, causou realmente a guerra. Porém, o que aconteceria se esses países não houvessem interferido, prevendo que a catástrofe poderia surgir dessas decisões?

Nunca vamos saber. O fato, porém, é que a guerra entre a Austria-Hungria e a Servia foi desastrosa para ambos os países. Os austríacos tinham um exército muito maior, mais armas, eram melhor equipados, mas não participavam de guerra alguma desde a última, contra a Prussia, em 1866. Já a Servia tinha partiicipado de uma série de escaramuças, da libertação da Turquia e de duas guerras nos Balcãs durante esse período; e apesar de ter um exército bem menor e com tecnologia rudimentar, contava com um território tipicamente balcânico, com montanhas íngremes e rios em vales em forma de V, onde a melhor forma de transporte eram mulas e jegues.

Apesar do bombardeio inicial, a Austria demorou para tomar Belgrado, e por pouco tempo: Surpreendentemente, o aguerrido exército servio retomou a cidade dias depois.

Isto terminaria com uma guerra isolada contra os dois? Pelo bom senso, deveria - a Austria descobriria que o seu exército era bem mais fraco do que os orgulhosos Habsburgos julgavam. Uma rendição austríaca, no entanto, provavelmente encorajaria revoltas entre os eslavos do império e acabaria por antecipar a fragmentação da Áustria-Hungria, que viria a acontecer em novembro de 1918, logo após o final da guerra real. O orgulho do Imperador não poderia suportar isso e ele poderia simplesmente contra-atacar.

E os aliados alemães? Ficariam quietos? E os russos? Um revolta na Polõnia, por exemplo, muito provavelmente ocorreria e os países pelos quais ela se espalhava - Russia, Alemanha e Austria - teriam problemas.

Bem, o fato é que a guerra mundial existiu e ficar divagando sobre o que não ocorreu efetivamente é apenas uma diversão.

Na guerra real, a mesma Austria que a iniciou foi a responsável pelo seu término: em novembro de 1918, um exausto exército com inúmeras baixas e quatro anos de guerra e previsão de mais problemas com a entrada dos americanos na guerra, pediu o armistício com os aliados. A Alemanha, que pouco havia sofrido em termos de destruição dentro de seu território que a França e a Inglaterra pouco conseguiram avançar pela frente ocidental alemã, ficava agora altamente vulnerável pelo sul, pois os Habsburgos colocaram a sua infra-estrutura, inclusive estradas e ferrovias, à disposição dos aliados - já a frente oriental, a Russia, havia capitulado no final de 1917, com a deposição do czar e o avanço da efêmera republica de Kerenski e finalmente a tomada de poder pelos comunistas de Lenin.

Aí, sim, prevaleceu o bom senso: os alemães não pagaram para ver. Jogaram a bandeira branca, mesmo com a teimosia do Kaiser Guilherme II, que acabou fugindo para a Holanda. Ludendorff e Hindenburg se entenderam com os aliados.

Finalmente, o mais intrigante: Francisco Ferdinando era, entre os que mais mandavam no Império, o único considerado apto a contornar por diplomacia a crise com a Servia, por suas características e atuações anteriores na política austríaca. Porém, como sabemos, entre 28 de junho e 28 de julho ele estava morto. Gavrilo Prinzip, ativista da organização servia e bosníaca "Mão Negra", sabia disto? Ele errou? Matou exatamente quem não devia matar? Ou ele matou justamente para acender a fogueira?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ROMANTISMO E REALIDADE


Quando escrevi o livro Um Dia o Trem Passou por Aqui, em 2001, eu o fiz com um primeiro capítulo chamado "A Ferrovia Romântica". Era para ser o quarto capítulo, mas minha esposa me convenceu a colocá-lo primeiro, antes dos outros, como "gancho" para a leitura. Foi ótimo.

No fim das contas, o livro todo puxa para uma ferrovia romântica do passado, que existe mais na memória e na saudade das pessoas do que na realidade em que ela existiu.

Isso é um caso comum: a lembrança dos pedaços sempre bons de nossa vida. "Os bons tempos"... quais seriam os bons tempos, seriam aqueles em que nós sempre vivemos ou será que eles eram bons apenas porque éramos mais jovens? É difícil definir os bons tempos, "o velho e bom professor Tal"...

Qual seria a realidade, afinal? A realidade é mais cruel, muitas vezes muito mais cruel do que pensamos. Há pouco tempo, a irmã mais velha de um amigo meu, ela alemã e nascida na guerra de 1939, contava-me sobre os horrores que seus olhos de criança de 4 anos ainda se lembrava de aviões passando sobre sua cabeça na Turingia e do incêndio do Jardim Zoológico em Berlim causado por bombardeio. Como isso marca.

Quantas pessoas não se deliciam com imagens da guerra, uma guerra que a maioria das pessoas vivas hoje não presenciou ao vivo? Ou mesmo pelos jornais? O "romantismo" do afundamento do Bismarck no Mar do Norte e do Graf von Spee nas costas uruguaias, em 1939 e 1940, onde centenas de soldados morreram? Ou do Dia D, ou da retirada de Dunquerque, na França? Da invasão da Russia por Napoleão e mais de cem anos depois por Hitler? Quantas pessoas não foram assassinadas ou morreram de fome e de frio neste episódio?

E da Revolução de 1932, das quais São Paulo tanto se orgulha? Realmente, foi uma guerra onde o entusiasmo inicial da ida para os campos de batalha realmente existiu! Porém, em poucas semanas, assim como os trens das tropas alemãs, francesas e inglesas partindo para o fronte em 1914, de lugares como seus próprios países e de locais tão distantes como a estação da Luz em São Paulo, todo esse entusiasmo se transformaria em desespero.

Que romantismo é esse que tanto enaltecemos? Mesmo assim, continuamos a nos lembrar com saudades de coisas que nem presenciamos. Como podemos ter saudades do que não vivemos? Faz sentido isso? Ainda assim, continuamos nos emocionando ao ler velhos relatos de tempos passados...

Quantas pessoas não morreram em acidentes ferroviários no Brasil e no mundo inteiro? E mesmo assim, continuamos nos lembrando de ferrovias como algo bom em nossas vidas, apesar de criticarmos o que ainda existe hoje para nós aqui em São Paulo, como o metrô e a CPTM, muito, mas muito melhores dos que os trens de subúrbio de antigamente?

Era tão melhor assim a nossa infância? Claro - salvo exceções - mas, afinal, éramos muito mais jovens, a responsabilidade era mínima, nossos pais faziam tudo por nós - quando podiam, claro. A vida era mais calma, também, Meus pais, que ambos trabalhavam fora, vinham almoçar em casa todos os dias, dava tempo! Isto, em São Paulo, que na época já tinha dois milhões de habitantes!

Não nos lembramos, ou não fazemos questão de lembrar, no entanto, dos maus tempos. Preferimos a antiga vida calma e jovem. Enfim, somos contraditórios. Choramos às vezes simplesmente por lembrar. De nada em especial, somente de... lembrar. Pois o que lembramos não voltará mais.

sábado, 24 de setembro de 2011

E SE...?

Sátira da coroação de Carlos I, imperador da Áustria, em 1916
Temos lido todos os dias sobre o "nine-eleven" americano. Aliás, uma nota: por que os americanos têm mania de ter tudo diferente por lá, complicando as coisas para o resto do mundo? (que, ao contrário do que eles pensam, existe sim) Afinal, datas (aqui no Brasil seria "eleven-nine"), futebol (para eles é um jogo com bola torta e um monte de malucos se agarrando), dia do trabalho (não é em primeiro de maio), vírgula é ponto e ponto é vírgula, o sistema métrico (muito mais fácil que o sistema deles que vem da Inglaterra antiga) lá não pegou e por aí afora.

Voltando ao "nine-eleven", ele é sempre citado como sendo o real início do século XXI, ou seja, essa data é que definirá o século, pois o mundo mudou depois disso. Mudou mesmo, mas só os próximos cem anos dirão o que realmente vai mudar.

Já a virada do século XX é citada por muitos não como tendo sido em 1/1/1901 - quase coincide com a morte da Rainha Vitória, que ocorreu 20 dias mais tarde e que selou o fim da "era vitoriana", bem característica do século XIX - mas sim como tendo sido a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em fins de julho de 1914.

Yudo isso é elocubração, o mundo vai seguindo e datas são apenas datas. Mas é interessante pensar o seguinte: se o Arquiduque Francisco Ferdinando não tivesse sido assassinado em Serajevo (então território austríaco) em 28 de junho de 1914, numa visita estúpida que todos os membros do governo do Imperador Francisco José o aconselharam a não fazer, a guerra eclodiria um mês depois?

A guerra começou quando a Áustria resolveu bombardear a cidade de Belgrado em represália pela Sérvia não ter deixado os austríacos participar da investigação sobre a participação da Mão Negra, organização terrorista sérvia, no assassinato do arquiduque. E era fácil para a esquadra austríaca fazer isso, pois, na margem oposta de onde estava Belgrado no rio Danúbio, era território austro-húngaro.

Só que esse acontecimento, que tecnicamente era um problema somente dos dois países, levou seus aliados a declararem guerra uns aos outros por uma série de motivos idiotas, mas que numa época em que guerra ainda era considerado algo normal e corriqueiro, eram motivos fortes quando esses países estavam se ameaçando e se reforçando havia anos.

Em resumo: a Sérvia, agredida, pediu ajuda à Rússia, que era sua aliada; esta se armou na fronteira dela com a Áustria; esta pediu ajuda ao Império alemão; esta se armou na fronteira com a Rússia (sim, todas estas fronteiras existiam então); a Inglaterra era aliada da Rússia e reclamou; a Alemanha disse que se ela não parasse de reclamar, declararia guerra às duas, Rússia e Inglaterra; a França, como aliada da Inglaterra, entrou no rolo e, uma semana depois, havia invasões de parte a parte. Deu no que deu.

Voltando à pergunta: sem ocorrer o assassinato do arquiduque, tudo isso teria acontecido? Impossível de saber, claro. Porém, os ânimos entre os países citados acirravam-se cada vez mais à medida que os acontecimentos iam se sucedendo. Os Balcans eram um barril de pólvora e os países da região já haviam se metido em duas guerras em 1912 e 1913, mas sem o envolvimento da Áustria e da Rússia. A Alemanha tinha sérios problemas com a França, esta desmoralizada na guerra Franco-Prussiana de 1871 e ainda por cima sem a Alsácia-Lorena, perdida nessa guerra. A Inglaterra via seu poder marítimo ser cada dia mais ameaçado pela frota cada vez maior e mais potente do Kaiser.

Após o final da guerra, o mapa da Europa mudou completamente, os impérios das nações derrotadas caíram todos e a democracia passou a se estabelecer no continente. A Segunda Guerra, considerada um prolongamento da primeira com um intervalo, selou de vez a história do século XX.

Outra vez pergunto: sem o arquiduque sendo morto... afinal, o herdeiro do trono, filho de Francisco José, Rodolfo, havia se matado no episódio de Mayerling, em 1889. Se isto não tivesse ocorrido, bom, ele poderia estar vivo em 1914 e o arquiduque não teria ido a Serajevo nessa data. Parece até que o destino foi truncado no caso de Rodolfo: esse foi o nome do primeiro imperador Habsburgo em 1291. Seria o nome também do último? Parece que o destino não quis que isso acontecesse. Francisco José, de qualquer forma, morreu em 1916 em plena guerra depois de um reinado de sessenta e oito anos. Foi sucedido pelo seu sobrinho-neto, Carlos, sobrinho de Francisco Ferdinando. Despreparado e jovem demais, depois da bagunça formada quando a Áustria se rendeu no início de novembro de 1918, não teve como segurar todos os territórios que foram se desmembrando rapidamente nos dias seguintes. Rodolfo conseguiria? A guerra teria começado quando? A Áustria se meteria nela?

São conjeturações e as repsotas podem estar em mundos paralelos. Alguém se habilita a pesquisar neles?

sábado, 26 de março de 2011

TEMPO RELATIVO

Primeira Guerra Mundial - França
Há dez anos atrás, houve o ataque às torres gêmeas em Nova York. Há vinte, estourou a Gurra do Golfo. Há trinta e sete, a guerra do petróleo entre Israel e o Egito. Há quase cinquenta, a crise dos mísseis dos EUA e Cuba. Todos fatos dos quais me lembro, alguns mais, outros menos, mas lembro-me disso acontecendo. Pelos jornais e pela televisão, claro.

Não parece tanto tempo assim, para mim, mas, de trás para a frente, na crise dos mísseis, eu tinha apenas dez anos de idade. Era um mundo diferente não somente no que me cercava, mas também em como eu percebia a realidade. Afinal, era uma criança. 49 anos atrás, eu apenas acompanhava e não tentava entender por que as coisas aconteciam. Mas 49 anos são sempre 49 anos, certo?

Errado. O conceito de tempo, pelo menos para mim, varia dependendo principalmente de dois fatores: primeiro, eu já estava vivo na época. Segundo, eu não era nascido. Parece que tudo muda no ano de 1951, assim como tudo parece mudar depois do ano de 1956, ano do qual começo a me recordar de minha vida. Entre 1951 e 1956, tudo que sei de minha vida são contados pelas pessoas que me conheciam e cuidavam de mim, ou por fotografias. Apenas alguns flashes me vêm à memória às vezes, mas não dá para ter certeza se são de uma visão real ou... ? Não sei se é assim com todo mundo.

Portanto, 49 anos para trás, para mim, em 1965, por exemplo, quando eu tinha 14 anos, me levam ao ano de 1916 - Primeira Guerra Mundial! Naquela época, para mim, isso já eram tempos remotíssimos - mas não me parecem tempos remotíssimos aqueles em que, 49 anos atrás a partir de hoje, eu ainda estava estudando no ginásio do Colégio Visconde de Porto Seguro. Por que será que isso acontece?

Outra coisa curiosa é que, quando me recordo da Guerra do Golfo, por exemplo (1991), tento me recordar como estava minha vida nessa época. Onde eu trabalhava, que idade tinham meus filhos, o que minha esposa estava fazendo... essas coisas. Às vezes eu me surpreendo quando junto os cacos: "puxa, mas nessa época é que foi a guerra? Nem lembrava que, nesta memsa época, eu estava fazendo isso ou aquilo".

São apenas constatações que mostram que o tempo parece passar de forma diferente de acordo com a época. Outro dia estava eu vendo um filme ambientado em 1935 (mas produzido no final dos anos 1980). Não parece uma coisa tão diferente de hoje, no sentido em que já havia automóveis, telefones, aviões, rádio, casas, prédios, pessoas vestindo roupas não tão diferentes das atuais (lembrando que moda é moda)... até televisão já existia, embora fosse algo raríssimo (basta lembrar que a coroação do rei Jorge VI da Inglaterra, em 1937, foi televisionada). Eram, no entanto, rudimentares em comparação ao que existe hoje, mas já os havia!

Porém, olhar algo em 1900... aí, sim, parece muito diferente! Não havia automóveis, aviões, radio, televisão, a moda era muito diferente da que começou a surgir depois da Primeira Guerra... telefone havia, mas era tão raro que somente pouca gente os possuía. As casas eram cheias de adornos (bonitas, pelo meu gosto!), prédios tinham no máximo 3 ou 4 andares... Era a Idade da pedra!!!

sábado, 29 de janeiro de 2011

SONHOS

Ao lado de minha linda Ana Maria, qualquer cidade é um sonho

Meus amigos acham estranho quando eu lhes conto sobre a minha viagem a Viena, em 1995. Sim, Viena, na Áustria. O meu sonho – ou um deles – sempre foi conhecer Viena. Tive a oportunidade de viajar para Milão, numa das duas únicas viagens que fiz à Europa em minha vida, ambas a serviço. Ao final de duas semanas trabalhando, peguei um avião de Milão para Viena num dia de semana e cheguei às 6 da tarde em Viena. Ali, fui para o hotel, deixei as malas e saí – a pé – andando pelas margens do Danúbio até o Anel, como se chama a área mais antiga da cidade, e onde existem os grandiosos palacetes que regiam a Áustria Imperial e que hoje ainda estão lá, numa imponência de fazer inveja a qualquer construção. Andei ao redor do Anel e dentro dele, até quase 11 horas da noite. Aí voltei para o hotel. Na manhã seguinte, bem cedo, peguei o metrô numa estação subterrânea ao lado do Danúbio e segui até o Palácio de Schönbrunn, aonde a Família Imperial ia durante parte do ano. Não pude entrar no atual museu, era muito cedo, mas os jardins e a visão do prédio valeram a pena. Voltei para o hotel, eram cerca de 9 e meia da manhã quando tomei o ônibus de volta para o aeroporto. Acabou-se a curta viagem. Dali, numa seqüência de troca de aviões, fui-me embora para o Brasil, onde cheguei na manhã seguinte. De Viena trouxe algumas fotos, algumas memórias e algumas folhas de plátano caídas nas ruas. Era outono. Valeu muito a pena, apesar do tempo curtíssimo.

A Viena de meus sonhos era diferente da realidade. Neles, aquele velho Imperador de bigodes brancos e às vezes com um chapéu de tirolês, Francisco José, era feliz com sua esposa, a Imperatriz Sissi, aquela, dos dois ou três filmes dos anos 1950 em que Romy Schneider fazia o papel de esposa feliz. Na realidade, Sissi separou-se do marido, foi assassinada mais tarde em Linz e seu filho Rodolfo, herdeiro do trono, suicidou-se antes mesmo da morte dela. Francisco José, que acompanhava feliz as valsas em seu castelo, não percebeu que o mundo à sua volta mudara e morreu ao som dos canhões da Primeira Guerra Mundial. Seu sobrinho-neto, que o sucedeu, foi deposto dois anos depois e morreu quatro anos mais tarde. O Império acabou. Afinal, Habsburgo quer dizer castelo de abutres. O que se esperar de uma família com esse nome?

Mas qual é o seu sonho? Num recente seriado de televisão a cabo, no capítulo de abertura, o médico rico famoso e insensível tanto com os clientes e com a família em Nova York tem a sua vida virada de cabeça para baixo quando sua esposa morre num acidente de carro. Sentindo-se culpado pela sua morte e por não ter dado a atenção que ela merecia dele, o médico volta nos dias seguintes ao hospital e pouco antes de operar um paciente desenganado, desite da operação e lhe faz uma pergunta. “Onde você gostaria de estar agora?” A resposta vem seguida do nome de uma cidade pequena na Pensilvânia. “Então vá para lá” – diz o médico – “vá aproveitar o que ainda tem de vida na cidade que você ama, porque essa é a melhor solução para você agora. Se você for operado, você não poderá ir para lá e não terá mais tempo de vida que sem a operação”. Por sua vez, ele se muda com os dois filhos para uma cidadezinha nas montanhas do Colorado. Era essa cidade que sua esposa, anos antes, havia dito que era ali que queria viver. Ela somente a conhecia por fotografias e reportagens.

Qual é o seu sonho? Qual é a cidade em que você gostaria de viver hoje? Aquela em que você vive? Ou outra, que você conheceu em alguma época em sua vida? Pequena ou grande? São Paulo? Santana de Parnaíba? Curitiba? Santa Cruz das Palmeiras? Rio de Janeiro? Salvador? Ribeirão Preto? Porto União? São Carlos? Ponta Grossa? Joinville? A cidade da qual gostamos pode ser bonita ou feia, pode ter os nossos amigos ou podemos dela ter uma lembrança inesquecível da única vez em que eventualmente fomos lá. As cidades que listei foram as que vieram primeiro à minha cabeça, cidades de que, por um motivo ou por outro, eu gosto, eu me lembro com satisfação. E quando pensamos em cidades muito grandes, como São Paulo, a pergunta é: Qual São Paulo? A Vila Mariana de minha infância? A Higienópolis de minha namorada, que hoje é minha esposa? O Sumaré onde eu morava? O centro velho, para onde eu ia de bonde? Várias das lembranças que tenho das cidades existem ainda, outras não. Em algumas cidades as quais revisitei depois de muitos anos, eu não consegui nem sequer achar o local que eu tinha na memória – a cidade, o local mudou tanto, que nada mais existia. Aí vem a frustração. Onde era a chácara de meu avô em Mogi das Cruzes, que eu visitava nos anos 1960? Tentei achar, mas não consegui nada, nem uma informação – mal sei em que parte da cidade ela ficava.

Mas temos de ter sonhos. Temos de ter um objetivo, para quando, se tivermos de escolher onde vamos viver o resto de nossas vidas, tenhamos o que escolher.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

OS ENGANOS DA HISTÓRIA

Vale a pena ampliar a figura acima. Capa da revista A Careta de 9 de junho de 1917. O Kaiser se diverte com o bilboquê. Ao seu lado, o Krohnprinz Willhelm (Príncipe Herdeiro Guilherme). Nunca herdou nada. Desenho do imortal J. Carlos. Acervo Ralph M. Giesbrecht/Sud Mennucci.

Há exatamente cem anos, o jornal O Estado de S. Paulo publicava uma notícia: o Kaiser da Alemanha, Guilherme II, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1910, por ter impedido que a anexação da Bósnia-Herzegovina (até dois anos antes território do Império Otomano, atual Turquia) pela Áustria-Hungria se tornasse um ato de guerra. Belo feito. Pena que, quatro anos mais tarde, Guilherme II se tornasse um dos maiores protagonistas de uma guerra sangrenta, a Primeira Guerra Mundial, quando apoiou a mesmo Império Austro-Húngaro na invasão da Sérvia por suas tropas, no que se tornou o primeiro ato bélico da catástrofe que mudaria o mundo.

Como prever que a intenção das pessoas, às vezes boa, de repente pode se tornar oportunista? O que terão pensado as pessoas que o escolheram para ganhar o prêmio quando a guerra começou?

Quantas vezes isso não ocorreu na história do mundo? A imprevisibilidade dos fatos e das pessoas é algo imponderável. Quem poderia adivinhar que, no final de 1917, a Rússia, supostamente tão poderosa em 1914, retirar-se-ia da guerra, entregando um vasto território à Alemanha, que, além disso, livrar-se-ia da frente oriental e poderia concentrar todas as forças contra os aliados na frente sul e ocidental? O que a lógica diria? Que a Alemanha venceria a guerra!

Outra vez o imponderável atacou. Até setembro, outubro de 1918, a guerra seguia renhida. De um lado, Alemanha, Áustria-Hungria e otomanos; de outro, França, Inglaterra, Itália... e os Estados Unidos, chegando para tentar salvar a pátria. Eis que, porém, a Áustria-Hungria e os turcos se entregam em outubro, cansados e arruinados, com seus impérios se esfacelando em mil pedaços e ainda por cima colocando toda as suas infra-estruturas de transportes ao alcance dos aliados e ex-inimigos. A Alemanha, ainda com as forças em ação e longe de ser derrotada, olha em volta e percebe que toda a sua muralha que deveria conter a frente sul não existia mais. Do lado ocidental, não conseguia avançar. Teve de se render, quase da noite para o dia.

Guilherme II, sabendo que era odiado pelos aliados, foge para a Holanda, que lhe oferece asilo. A guerra acaba de repente. A Europa destruída. Guilherme é responsabilizado por todo o horror de uma guerra violentíssima. O Império se desvanece no mesmo dia. O Segundo Reich acaba. O Prêmio Nobel da Paz teve de fugir para não se responsabilizado por crimes de guerra. A Alemanha, praticamente inteira e pouco atacada durante a guerra, tem de ceder territórios e indenizações de guerra que fazem o país praticamente falir.

São os eternos enganos da história.

domingo, 30 de maio de 2010

A MÃO NEGRA

Francisco Ferdinando de Habsburgo, (quase) Imperador da Áustria, rei da Hungria, etc. , etc. , etc., no distante 1910.

Há exatos cem anos, meu bisavô Giesbrecht morava em Teófilo Ottoni tentando administrar a complicada E. F. Bahia a Minas e fazendo projetos para a sua continuação Minas Gerais adentro. Meu avô Sud tentava começar sua vida profissional de professor primário no distrito de Serrinha (hoje município de Serrana, próximo a Ribeirão Preto) e aguardando todos os meses o salário para gastá-lo todo comprando livros na única livraria de Cravinhos, ali perto. Meu bisavô Daniel tocava a companhia telefônica em Porto Ferreira, e a família Klein tentava tocar a vida lá em Joinville, comandados por meu bisavô Nicolau, aquele que vendia velas com carrinho de mão nas ruas da cidade.

Os brasileiros mais abastados, como os "paulistas quatrocentões" esperavam o embarque para Paris, "cidade das luzes" e, naquela época, local para onde todos iam para depois dizerem que foram, numa viagem de navio de quase um mês só de ida e uma estadia que geralmente não durava menos de três meses. Os Estados Unidos não eram uma opção.

As revistas da época publicavam fotografias da "elite" de então em trajes com ternos e cartolas, os homens quase sempre com barbas grandes e as mulheres com roupas apertadas e desconfortáveis. Também nelas se podia ler os anúncios, os "reclames" de remédios milagrosos que curavam qualquer mal, o que podia ser comprovado sempre por depoimentos de "curados" que vinham do distante interior do Nordeste brasileiro. Provavelmente, para que v. não conseguisse chegar até eles para tentar saber se era mesmo verdade.

O mundo era em branco e preto, a não ser naqueles dias quando alguém o pintava com pincéis que lhe davam cores nem sempre realísticas... as locomotivas a vapor silvavam pelos trilhos brasileiros, e como se construíam ferrovias nessa época! A Paulista estava chegando a Bauru, os gaúchos a Caxias do Sul; a São Paulo-Rio Grande, comandada pelo poderosíssimo Percival Farquhar e seu misterioso sócio francês Hector Legru, construía a ferrovia lá no sul de Santa Catarina - ou seria do Paraná? O Contestado iria ser decidido somente seis anos mais tarde... tinham pressa, pois o ministro argentino Zeballos ameaçava o Brasil com uma invasão e a ferrovia para o sul precisava estar pronta antes disso! Por isso, avançava pela selva ao longo do rio do Peixe tentando chegar ao rio Uruguai pelo meio do nada.

Lá na Europa, enquanto a realeza da Inglaterra, Alemanha, Rússia, Itália, Turquia, Espanha e Portugal visitavam-se mutuamente escondendo as pistolas, o imperador de contos de fadas da Áustria, Francisco José de Habsburgo, tentava salvar seu vasto reino apresentando seu sobrinho-neto, o Arquiduque Francisco Ferdinando, como seu herdeiro, já que seu único filho Rodolfo havia se matado em Mayerling vinte e um anos antes.

Era esse Francisco, de bigodes armados e olhos azuis, que seria apresentado pelo jornal O Estado de S. Paulo em sua edição de segunda-feira, 30 de maio de 1910, como um homem de "cabello cortado á escovinha e já um pouco grisalho", um hábil general e com a confiança do Exército austro-húngaro, mas sem a simpatia, a bondade e a misericórdia de seu tio-avô. Seria um "novo Bismarck".

Não, não seria. Quatro anos e um mês mais tarde, ele seria assassinado com sua esposa nas ruas de Serajevo, então território austríaco, por um estudante de nome Gavrilo Prinzip, pertencente à sociedade secreta sérvia Mão Negra. Este episódio daria início à Primeira Guerra Mundial, também chamada de "Grande Guerra", "Guerra do Kaiser" e outros nomes. Foi esta a guerra que mudou o mundo para sempre, muito mais do que a segunda, esta, na verdade, nada mais do que uma continuação da primeira.

No seu final, em novembro de 1918, já não existiria mais a realeza em seu país, bem como na Alemanha, Rússia e Portugal (esta última, aliás, caiu em 1910 mesmo). A da Turquia e da Espanha não durariam muito, também. Só a da Inglaterra ficou, junto com a da Itália, esta encerrada em 1946. Aliás, no caso da Áustria, nem a realeza ficou, nem o país - o que sobrou da Áustria foi somente o país dos alemães que nela viviam, muitíssimo menor do que o Império, herdeiro do milenar Sacro Império Germânico.

É sempre muito interessante ler as notícias-previsões um dia escritas e que nunca se concretizaram. A vida de meus avôs e bisavôs jamais seriam as mesmas por causa da "guerra para acabar com todas as guerras".