Fotos Paulo Arquimedes Silva Prata
Hoje recebi um e-mail com fotografias da antiga estação de Presidente Epitácio, às margens do rio Paraná. As fotografias são atuais e mostram uma estação completamente abandonada. Agradeço muito ao sr. Paulo, a quem não conheço pessoalmente.
Não há nenhuma surpresa. Já há anos que ela o está. Aqui, a situação é mais emblemática: a estação foi inaugurada em 1922, coincidentemente no centenário da Independência do Brasil. A Sorocabana tornava-se a segunda ferrovia a atingir o rio Paraná, doze anos depois da Noroeste do Brasil, que a ele chegou mais ao norte, junto ao salto de Itapura.
Começava aí, depois de muito atraso em relação ao resto do Brasil, a colonização do, até 1910, inexplorado Oeste Paulista. Rapidamente as cidades foram crescendo e, vinte anos depois. a região já estava bastante povoada. Mais duas ferrovias atingiram o rio depois da Sorocabana: a E. F. Araraquara, em 1952 e a Paulista, em 1962 - mas, no caso, as cidades formadas o eram antes da chegada dos trilhos, apenas esperando o apito.
A Noroeste cruzou o rio em 1912. Já as outras, não. A E. F. Araraquara fê-lo em 1998 com outro nome - a Ferronorte - mas já sem trens de passageiros.
Deve ter havido gente na Sorocabana que pensou em cruzar o rio com os trilhos na época em que atingiram Presidente Epitácio. Porém, na época, o governo paulista, dono da ferrovia, deve já ter achado que era uma grande vitória ter chegado até o "fim do Estado". E realmente era. Afinal, ele pegou uma ferrovia sucateada em 1919, quando suspendeu a concessão dada desde 1907 à Brazil Railway, que havia falido - a concessão iria muito mais longe.
Mais tarde, a Sorocabana fez um ramal para isso, o ramal de Dourados, que saía de Presidente Prudente e deveria cruzar o rio para atingir a cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul. O ramal abriu ao tráfego seu primeiro trecho em 1957 e em 1965 atingiu Euclides da Cunha Paulista, no Pontal do Paranapanema... donde nunca passou. Em 1980, o ramal já estava desativado, depois de apenas vinte e três anos de operação.
E Presidente Epitácio, a mais de oitocentos quilômetros da capital paulista, onde se inicia a linha, foi abandonada de vez pela concessionária ALL, que ficou com a linha-tronco da antiga Sorocabana em 1999. Os cargueiros pouco rodaram na linha após Presidente Prudente. A estação chegou a ter o nome ALL estampado em sua fachada, mas em 2002 já estava fechada e o abandono começou. Diversos desvios construídos no final do século XX ligando o pátio da estação aos portos do rio Paraná praticamente não foram usados.
Quanto aos saudosos trens de passageiros, o último chegou ali em 1998, ainda com a FEPASA, sucessora da saudosa Sorocabana. Quanto à linha, está hoje totalmente abandonada em dois trechos: entre Amador Bueno e Pantojo e entre Rubião Junior e Presidente Epitacio. O futuro da linha parece negro.
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
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Estive em Presidente Epitácio em janeiro deste ano e passei pelo prédio que um dia foi a estação ferroviária. A visão presencial é bem mais deprimente do que as mostradas pelas fotos aqui postadas.
ResponderExcluirFiz inúmeras viagens entre as décadas de 60 e 80, indo e vindo, da Julio Prestes a Santo Anastácio, minha cidade natal, e nos dias de hoje, quando para lá vou, é possível notar, ao largo da Raposo Tavares, certos trechos dos trilhos da saudosa Sorocabana completamente abandonados, e nesses trechos então me vejo dentro dos trens de passageiros que por ali transitaram por quase um século, chacoalhando de felicidade sobre suas bitolas estreitas.
É revoltante...
Entre Paraguaçu Pta. e o distrito de Sapezal (12km) a linha está em ordem, dentro das normas. Tudo graças à Maria-Fumaça da prefeitura.
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